O episódio mais esperado de "A Mulher da Casa Abandonada" foi ao ar nesta quarta-feira (20). O podcast da Folha de S. Paulo, produzido e apresentado por Chico Felitti, é um dos maiores sucessos atuais no cenário de crimes reais. Nele, o jornalista investiga a história de Margarida Bonetti, uma mulher que vive em uma grande casa abandonada em São Paulo.
Aos poucos, Chico descobre que, na verdade, a protagonista - que agora se chama "Mari" - foi investigada pelo FBI, chegando a entrar na lista de procurados dos Estados Unidos. Isso porque ela e o seu marido, Renê, foram processados por manter uma moça em regime análogo à escravidão - sem liberdade, sem acesso a comida e medicamentos e até mesmo com agressões físicas. Enquanto o homem foi condenado e cumpriu pena, ela fugiu para o Brasil e nunca foi devidamente condenada pelo ato.
No último episódio de "A Mulher da Casa Abandonada", o apresentador consegue a primeira entrevista com Margarida, que conta a sua versão da história sobre crime, que já prescreveu na justiça brasileira - ou seja, ela não pode ser mais condenada. Confira os 10 maiores absurdos de Bonetti durante a conversa reveladora!
Uma coisa que chama atenção, e é bem recorrente no discurso de Margarida Bonetti, é que ela se refere a ela mesma na 3ª pessoa. "A Margarida disse...", por exemplo. Quando Chico questiona por que falar desse jeito, ela explica que é para frisar que a "criminosa" que tanto falam, é uma personalidade inventada - pelo FBI, pela mídia e pela própria vítima. "Aquela Margarida lá, não é eu. Eles inventaram uma pessoa. Por isso que eu falo, na 3ª pessoa", explica.
Ainda sobre o "personagem" inventado, Margarida chega a se comparar a Zê Leôncio, personagem polêmico de Marcos Palmeira em "Pantanal". "O Leôncio, por exemplo, em 'Pantanal'. O artista não é o Leôncio, o artista é ele próprio. Da mesma forma, eles criaram essa personalidade falsa [...] Mas aquela pessoa não é eu. Eu sou uma pessoa da paz, do bem", afirmou a entrevistada.
Outro ponto que Margarida bate bastante na tecla é que ela e a vítima eram amigas. A moça começou a trabalhar na casa da família de "Mari" anos antes de se mudarem para os Estados Unidos. A empregada foi quase como um "presente" para o casal recém-casado. Para Margarida, elas eram "amigas de infância" e disse que brincavam na rua quando crianças. "O sonho da minha vida era ter ela comigo sempre", lamenta a moça.
Um dos relatos mais chocantes do crime é sobre os problemas de saúde da vítima, que tinha tumores benignos pelo corpo, mas era proibida de visitar um médico nos Estados Unidos. Margarida diz que é mentira e que eles fizeram consultas nos hospitais - mesmo que não haja registro disso. Explica ainda que os tumores não eram tão graves e chega a dizer que quando a vítima passou mal, chegando a vomitar sangue, não era pelos sete tumores - sendo o maior do tamanho de uma bola de futebol -, foi por comer muito doce. "Ela era gulosa", relembra, enquanto ri.
É fato que Margarida se faz de grande vítima da história, dizendo que o seu marido é o verdadeiro culpado e a vítima mente ao citar o seu nome. Ela explica que se divorciou de Renê quando soube do crime e que nunca soube que a moça não ganhava salário. Bonetti ainda diz que foi aos Estados Unidos forçada pelo marido e a condição para se mudar era que "não soubesse de nenhum problema" e, por isso, não se envolvia nas questões domésticas. Ela afirma não saber que era procurada pelo FBI e nega ter sido citada em processo, consultado por Chico.
Em um dos momentos mais bizarros, Margarida se diz vítima de um complô do FBI, para provocar uma alteração na legislação estadunidense sobre trabalhos domésticos - mudança que realmente ocorreu após a conclusão do caso de Bonetti. "Eles conseguiram o que queriam. Eles tinham esse interesse", afirma sobre os policiais e investigadores dos Estados Unidos.
A vítima consegue denunciar o crime com a ajuda da vizinha, Vicky Schneider, que se tornou sua amiga e percebeu que havia algo de errado na dinâmica da família Bonetti. Margarida explica que Vicky inventou a história porque queria que uma amiga comprasse o imóvel e ficou revoltada quando Renê e a esposa ficaram com a casa. "Por vingança, começou a fazer as coisas de raiva da gente. Porque ela queria a amiga dela pertinho [...] Ai de quem passe na frente dela e faça o que ela não quer. Compramos a casa, ela não queria, porque queria a amiga dela lá, passamos a frente dela e ela nos castigou", diz.
Ao mesmo tempo em que diz não saber nada sobre o que rolava com a vítima - e a sua falta de salário -, Margarida conta que era de conhecimento de todos que a empregada não estava nos Estados Unidos de forma legal e ainda havia aconselhado Renê, pedindo para que ele tomasse uma providência. "Eu falei com ele, 'você viu, eu te avisei, eu pedi, implorei para deixar ela legal. Você se recusou e ela ficou ilegal lá [...] Se você tivesse feito isso, eles não poderiam fazer nada' [...] Ele era muito burro, muito imbecil", afirmou.
No processo da justiça estadunidense, é possível ler que a vítima vivia no porão da casa, sem iluminação apropriada e sem acesso aos alimentos e chaves do lar. Margarida conta em entrevista que, na verdade, ficar no porão era uma ótima opção: "O porão lá é o lugar onde os jovens ficam. Os jovens têm seu quarto lá, não é um quarto qualquer [...] E ela tinha aquele andar inteiro para ela [...] Os adolescentes gostam de ficar com privacidade, eles ficam no basement", fala, com o termo em inglês, dizendo que os porões nos EUA são diferentes.
Em vários momentos, Bonetti implora para Francisco não divulgar o caso e reviver uma "tragédia". Diz ainda que o jornalista está "chutando cachorro morto" e chegou a perguntar quando ele ganharia pelo trabalho, sem receber resposta. Após a longa ligação, ela ainda envia mensagens de voz a Chico e chega a fazer um pedido estranho, que pode ser entendido como suborno. Margarida fala que, se ele não lançasse o podcast, ela "recompensa ele, da Folha, com outra coisa. Faço outro trabalho [...]".
Em uma de suas frases finais, Margarida Bonetti afirma: "Os cachorros eles são bons, honestos, fiéis. Eles não traem ninguém, como essa mulher fez", em uma declaração fora de hora aos seus animais. Ela é conhecida na vizinhança pelos seus cachorros e ainda afirma que eles não a machucariam como a vítima fez. Vítima que acusou Margarida de agressão física e psicológica.
Confira o episódio final completo de "A Mulher da Casa Abandonada":
Uma história que assusta mais do que muitos filmes de terror, né?