Parece que foi escolhido a dedo e na verdade foi mesmo, né? Porque "Pantera Negra", o primeiro filme da Marvel lançado em 2018, cumpre o seu papel - de forma impecável, diga-se de passagem - de abrir o ano da produtora impressionando pela representatividade, maturidade e, principalmente, elevando o nível para as próximas produções do MCU.
Iniciamos os 124 minutos de projeção com uma fórmula bem semelhante à "Mulher Maravilha": animações para contar a história do surgimento de Wakanda, país fictício onde o nosso protagonista T'Challa (Chadwick Boseman) nasceu, e compreender que as cinco tribos rivais que entraram em acordo para conviver em sociedade o fizeram através do surgimento do Pantera Negra, uma representação do Deus do qual os guerreiros são devotos. Ainda vemos um momento dramático onde um jovem Rei T'Chaka (Atandwa Kani) descobre a traição do próprio irmão, que vendia o valioso metal Vibranium ilegalmente, e da qual só sabemos a conclusão nos últimos minutos do longa. Após isso, finalmente engatando no que realmente fomos assistir, nos dias atuais a trama se situa uma semana após a morte do Rei T'Chaka (John Kani), que vimos em "Capitão América: Guerra Civil", e já somos apresentados ao amado – e impressionantemente avançado tecnologicamente - reino do nosso protagonista, que se prepara para a coroação e todo o ritual que a envolve. E o resto é história...
O que diferencia essa produção das outras da Marvel é justamente o fato de que ela não se prende aos acontecimentos de qualquer uma das suas antecessoras. A verdade é que o filme chega como uma crítica ao momento crucial que a sociedade mundial vive e reflete, adaptando para a realidade de Wakanda, a tensa situação política e social na qual estamos inseridos. As polêmicas decisões do atual presidente americano, Donald Trump, em relação à Coreia do Norte e à todas as suas relações exteriores, ao incentivo da repressão militar, passando por suas atitudes xenofóbicas, racistas e socialmente segregadoras estão muito bem representadas através das motivações do vilão Killmonger, vivido pelo aclamado Michael B. Jordan, e do contraste de seus ideais com os do mocinho T'Challa e de todos – ou todas – que o rodeiam.
Um destaque de "Pantera Negra" é que, até que enfim, as mulheres fazem a MAIOR diferença e não estão ali apenas para preencher a cota "bonitona" da produção. Muito pelo contrário, elas não dependem da sua beleza para alcançarem seus objetivos: o fazem através da coragem, da garra e da inteligência de cada uma. Todo o universo do herói é construído e desenvolvido por causa das figuras femininas que estão a sua volta: Okoye (Danai Gurira), a general do exército de Wakanda – que é composto totalmente de mulheres - e braço direito do Pantera Negra, Shuri (Letitia Wright), que nos mostra que não precisamos de um Jarvis (Paul Bettany), pois ela é a maior gênia do Universo Marvel e responsável por toda tecnologia desenvolvida no país africano, que já é muito mais avançada do que o Tony Stark (Robert Downey Jr.) jamais poderia imaginar, Nakia (Lupita Nyong'o), a mocinha que de mocinha não tem nada, pois é uma espiã treinada e perigosíssima com suas habilidades de batalha e de quebra ainda é dona do coração de T'Challa e capaz até de "travá-lo" no meio de brigas intensas. E por último, mas não menos importante, a Rainha Ramonda (Angela Bassett), que é uma sacerdotisa experiente, mãe do protagonista e de onde ele herdou toda sua força e perseverança.
Outro acerto do filme é o próprio T'Challa, que convence em todos os aspectos e conquista por seu carisma e humildade. Ele demonstra ser o equilíbrio perfeito entre razão e emoção que os nossos queridos Vingadores tanto precisam antes de travarem a maior guerra de suas vidas na conclusão da Fase 3 do MCU.
Mas é claro que não são só de Ervas Coração – entendedores entenderão – que se faz o filme, porque, apesar de termos um twist de cair o queixo envolvendo o antagonista, o seu desfecho é um clichê e chega até a ser bobo se levarmos em conta todas as ameaças que ele trouxe para a vida do mocinho e toda a sociedade de Wakanda. Assim como as cenas de luta, que não saem do "basicão" dos saltos sobre carros, barulhos de socos e armas ensurdecedores e acrobacias impossíveis. Mas nada que prejudique a mensagem política que o longa deseja passar, que é reforçada mais ainda na primeira das duas (SIM!) cenas pós-créditos. O segundo clipe finalmente mostra uma ligação com o resto do Universo Marvel ao mostrar um personagem que dividiu muitas opiniões e nos dar um gostinho do que vem por aí em "Guerra Infinita".
Menção honrosa para a trilha sonora IN-CRÍ-VEL produzida por Kendrick Lamar, um dos artistas mais respeitados e premiados da música atual, e que dá o tom do "Pantera Negra" que tanto esperávamos: corajoso, intenso e inesquecível. O filme estreia no dia 15 de fevereiro nos cinemas de todo Brasil, não percam!