Não é de hoje que personagens LGBTQIAP+ de destaque são interpretados por artistas héteros. Um dos maiores debates levantados nos últimos anos Brasil e mundo afora aponta que isso pode causar uma limitação na carreira de quem pertence à comunidade.
Sobre um outro ponto de vista, temos também que questionar a falta de diversidade. Mas como assim? Em 90 anos do Oscar, por exemplo, a premiação se mostrou pela primeira vez atenta às críticas e comentários sobre a falta de representatividade. Só em 2022 que houve seu primeiro avanço com a conquista histórica de Ariana DeBose, a primeira negra e abertamente queer a ganhar uma estatueta pelo filme "Amor, Sublime Amor" no papel de Anita.
O pedido é um só: que atores queer sejam reconhecides por seus talentos e que tenham o privilégio de estrelarem na ficção não só como outros tipos de personagens, mas também como sua mais fiel versão. Aqui, o Purebreak listou alguns papéis LGBTQIAP+ que marcaram o cinema, séries e TV que foram feitos por héteros. Acompanhe!
A série "Love, Victor" e o filme "Com amor, Simon" causaram polêmica. Em ambas as produções, a direção recrutou atores héteros para interpretarem personagens gays.
Em "Love, Simon", por exemplo, Nick Robinson deu vida a Simon Spier, um adolescente de 17 anos que aparenta levar uma vida comum, mas sofre por esconder um grande segredo: não revelou ser gay para sua família e amigos. E tudo fica mais complicado quando ele se apaixona por um dos colegas de classe, anônimo, na internet.
Essa dupla foi bem marcante para a televisão, mas levantou muitas questões. Na trama, Thiago Fragoso interpretou o "Carneirinho", enquanto Mateus Solano era Félix, um personagem nada caricato e, sim, vilão. Vale lembrar que os dois atores são héteros cisgênero.
Esse foi um filme que retratou de forma superficial a vida do cantor do Queen, Freddie Mercury, como um homem bissexual no meio da epidemia de Aids. O papel foi interpretado por Rami Malek, que é heterossexual.
Na novela da Globo, Eriberto Leão e Rafael Zulu protagonizaram um casal e movimentaram a web com o primeiro beijo de Cido e Samuel.
Com papel em "De Volta aos 15", da Netflix, Pedro Vinícius é membro da comunidade queer e se identifica como ela/dela no Instagram. No entanto, Giovanni Dopico é hétero. Em "Malhação", os dois interpretaram o casal Santiago e Michael, deram o que falar, e ele até reagiu aos comentários: "O processo de construção do personagem foi um grande desafio pra mim, ainda mais sendo meu primeiro trabalho na TV! Polêmicas e opiniões à parte, acredito que a arte supera qualquer desafio que o artista precisa vencer!".
Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux atuaram pelo filme lésbico francês. A história fala sobre duas mulheres trocando ideias sobre Jean-Paul Sartre enquanto se apaixonam. Na época, Seydoux, que se identifica como hétero, chegou a questionar sua sexualidade, mas ponderou: "Mas eu não tive nenhuma revelação".
Chris New, que é gay, estrelou o filme ao lado de Tom Cullen. O longa conta o romance de dois homens durante um fim de semana. Mediante a algumas críticas, o diretor Andrew Haigh chegou a defender: "As identidades são complexas. Tom Cullen em 'Weekend' pode não ter sido gay na vida real, mas ele entendeu completamente e se relacionou com a psicologia de seus papel".
Sean Penn interpretou Harvey Milk, a primeira autoridade abertamente gay eleita na Califórnia, EUA. James Franco, que também é hétero, estrelou como um homem gay amante de Milk, Scott Smith.
"Brokeback Mountain", ao ser lançado, levantou a importância da representação cinematográfica LGBTQ+, ao mesmo tempo que levantou uma questão: por que não dois atores gays para interpretarem Jack e Ennis? Os papéis ficaram com Jake Gyllenhaal e Heath Ledger.
Nesta produção, dois homens se apaixonam durante um verão italiano. Timothée Chalamet e Armie Hammer receberam aplausos da crítica por suas interpretações de Elio, de 17 anos, e do acadêmico Oliver, 24. Porém, assim como o diretor Luca Guadagnino, também foram criticados na época por escalar heterossexuais para papéis gays.
O primeiro beijo gay na televisão pela faixa das 18h foi muito marcante, mas não foi interpretado por um membro da comunidade LGBTQIAP+. Foi Juliano Laham, como Luccino, que estrelou esse momento.
Mas não para por aí. Aqui estão outros atores que ganharam destaques na televisão com papéis LGBTQIAP+ e, mesmo assim, não são membros da comunidade. Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) na trama "Em Família", André e Toletini (Caio Blat e Ricardo Pereira em "Liberdade, Liberdade", Bruno Gagliasso como o personagem Júnior em "América", Marcelo Serrado foi o Crô em "Fina Estampa", Daniel Rocha em "Avenida Brasil" como Roni, Rafael Infante que fingia ser hétero em "Bom Sucesso" e muito mais!
Essas são as provas de que falta uma figura queer como referência para os jovens. Mesmo que atuar signifique transformar num personagem e não sobre quem você realmente é, mas quando gays, trans e queer participam eles contam suas verdadeiras histórias, é autêntico!
O ator Nick Westrate concordou em entrevista: "Há uma grande riqueza de comportamento, história cultural e experiências que, como pessoa queer, você simplesmente conhece. Como uma pessoa hétero, você perde muita coisa, e anos de preparação não vão mudar isso. Nossa vida inteira às vezes é premeditada em interpretar uma pessoa hétero. Pessoas hétero interpretando gays podem fazer sua pesquisa e assistir Ru Paul's Drag Race, mas não têm acesso à mesma profundidade de conhecimento".