A cantora Anitta criticou mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro por meio do seu Twitter, nesta terça-feira (10). Além de ressaltar a grande crise de desempregados no Brasil e o alto número de mortos, a artista repreendeu a atitude do presidente de defender o voto impresso e auditável e questionar a legitimidade do resultado das urnas eletrônicas. Desde que foram implementas em 1966, nunca houve comprovação de fraude em qualquer eleição brasileira.
Jair Bolsonaro vem defendendo a tese de que o resultado das eleições de 2018 teria sido outro há um bom tempo. Segundo o chefe de Estado, sua vitória teria sido garantida já no primeiro turno das votações. Nunca foram apresentadas quaisquer provas disso, a não ser vídeos conspiratórios comprovadamente falsos que o presidente insiste em mostrar em suas lives semanais.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantiu que os votos eletrônicos já são auditáveis, permitem recontagem e proporcionam resultados seguros. Contraditoriamente, Bolsonaro também insiste em dizer que as eleições dos Estados Unidos foram fraudadas. Mas lá, o voto é impresso.
Na rede social, a dona do hit "Girl From Rio" apontou outra contradição do presidente: "Parece uma piada... o cara que faz seu marketing e sua campanha eleitoral toda baseada em Internet, fake news e tecnologia robô agora quer que o povo vote impresso", possivelmente fazendo referência ao esquema de disparos em massa de notícias contra outros candidatos no WhatsApp, realizado por vários empresários apoiadores de Bolsonaro, além dos bots dos seguidores do presidente, que são famosos na web.
Seguindo indignada, a celebridade não poupou críticas ao desfile com tanques de guerra promovido pelo líder do Executivo e disparou estar imaginando a vergonha alheia que os presidentes de outros países deveriam estar sentido em relação às atitudes de Bolsonaro. Ela ainda apontou os problemas que uma má relação internacional poderia gerar para o Brasil, como a perda de investimento externo nas empresas nacionais, a queda do turismo internacional no país e os problemas na economia resultantes disso.
Entenda por que é importante famosos se manifestarem
Quando ouvimos a música de um artista, assistimos um filme, série ou novela que determinade atore estrela, ou mesmo quando seguimos algume influencer no Instagram, em todos esses momentos estamos contribuindo com o sucesso daquelu famose.
Isso vai além de garantir que aquela pessoa tenha um emprego remunerado ou possa realizar parcerias com várias marcas. Estamos dando visibilidade para essa pessoa, transformando-a em uma figura pública. E, como já diria o tio do Homem-Aranha: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Da mesma forma que ajudamos uma pessoa a se tornar famose, também merecemos que a figura saiba usar do seu espaço privilegiado na sociedade.
A grande Nina Simone já sábia disso há muito tempo. Na década de 70, a estrela já declarou: "O dever de um artista, pelo menos na minha concepção, é o de refletir os tempos. Eu acho que é verdade para pintores, escultores, poetas, músicos... No que me diz respeito é a escolha deles. Mas eu escolhi refletir os tempos e as situações nas quais eu me encontro. Isso para mim é o meu dever. E nesse tempo crucial em nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quando todo dia é uma questão de sobrevivência, eu acho que é impossível você não se envolver. Jovens negros e brancos sabem disso, é por isso que estão tão envolvidos na política. Nós vamos modelar e dar forma a este país, ou ele não será nem modelado nem receberá forma alguma. Então eu acho que não há escolha. Como você pode ser um artista e não refletir os tempos? Essa, pra mim, é a definição de um artista".
Não foram poucos os que lutaram contra a opressão em seus piores dias por meio de sua arte. Além de Nina, nos Estados Unidos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque foram alguns que lutaram por seus direitos durante a Ditadura Militar Brasileira. Eles chegaram a ser presos e torturados em prol de defender a democracia e a liberdade. Onde foi que deixamos a coragem dos artistas para trás, logo nesse momento muito mais livre para nos posicionarmos? Será que o medo do cancelamento por parte de alguns é maior do que o desejo por um país mais justo?
O mundo todo percebe como as coisas estão piorando para o Brasil. Ameaças de golpe, destruição de patrimônios históricos, a crise sanitária, econômica, política e, acima de tudo, humanitária, não são coisas fáceis de passar batido. Mas em um momento tão crítico da história do nosso país, onde estão os artistas? Aqueles que vieram para refletir nossos tempos?
Não existe neutralidade
Aquele ditado que se tornou clichê é realmente verdade: de neutro, só há o sabonete. Quando você tem uma plataforma com milhares e milhões de seguidores capazes de perceber nossa realidade de outra forma e você não o faz, você também tem culpa.
É claro que tivemos grandes exemplos nos anos recentes de artistas que se posicionaram fortemente na época das eleições de 2018 e durante a maior crise sanitária do século, proporcionada pela pandemia do novo coronavírus. Nomes como a própria Anitta, o cantor Jão, os atores Ícaro Silva, Rodrigo Simas, Bruno Gagliasso, Samantha Schmütz, IZA, Taís Araújo, Juliette e Duda Beat foram alguns dos famosos que deram a cara a tapa na tentativa de alertar seus públicos sobre o desastre que estava (e está) acontecendo com o Brasil.
Mas a lista precisa ser maior. O momento exige mais participação. Afinal, posicionando-se ou não, a opressão e as consequências do seu silêncio vão te atingir da mesma forma. É só uma questão de tempo.
Temos pressa.