No Dia da Independência do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro foi radical em seu discurso feito pela Avenida Paulista, em São Paulo, na última terça-feira (7). No poder desde 2018, o político disparou ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mais especificamente Alexandre de Moraes, dizendo que não irá mais obedecer as ordens, o que pode se enquadrar como crime quando falamos em democracia.
Bolsonaro começou o discurso pedindo pela saída do político: "Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o povo. Mais do que isso, nós devemos, sim, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", disse.
A ideia de voto impresso já foi derrubada pela Câmara dos Deputados. Sem qualquer prova, Bolsonaro voltou a questionar a credibilidade das urnas eletrônicas e atacou diretamente Luís Roberto Barroso, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
As falas de Bolsonaro carregam contradições. Ele alega fraudes na votação de 2018 pelas urnas, mas foram as mesmas que o elegeram a Presidente.
"A paciência do nosso povo já se esgotou. Nós acreditamos e queremos a democracia. A alma da democracia é o voto. Não podemos admitir um sistema eleitoral que não fornece qualquer segurança (...) Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública dos votos. Não podemos ter eleições onde pairem dúvidas sobre os eleitores. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral [Luís Roberto Barroso]", declarou ele.
Ainda pela manifestação, Bolsonaro disse que não tem medo de ser preso, caso seja investigado. "Quero dizer aos canalhas: nunca serei preso", disparou. Jair Messias continuou desafiando qualquer um a tirá-lo da presidência do Brasil, mas acrescentou que só deixaria "preso, morto ou com a vitória", o que significa que ele não está disposto a acatar decisões judiciais e isso configura crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Todo mundo sabe que Bolsonaro sempre foi contra as políticas de isolamento social durante a pandemia de covid-19. Desta vez, ele culpou governadores e prefeitos pelas mais de 580 mil mortes por todo o país:
"Vocês passaram momentos difíceis com o vírus, mas pior do que a pandemia foram as ações de alguns governadores e prefeitos, que ignoraram a nossa Constituição. Proibiram vocês de trabalhar e frequentar templos e igrejas para sua oração. A indignação de vocês foi crescendo".
Não podemos esquecer que Bolsonaro já se referiu à pandemia como gripezinha, frescura, país de maricas e "mimimi". O Presidente, novamente sem a máscara de proteção, foi multado pela 7ª vez pela Vigilância Sanitária de São Paulo após seu ato político e deu mais um exemplo de seu descaso com a doença e com as vítimas de sua própria negligência à gravidade do assunto.
Mas ao fim do discurso de Bolsonaro, quais serão as consequências? É importante ressaltar que continuamos sem respostas aos problemas reais que estamos enfrentando no momento: crise hídrica, milhares de pessoas passam pelo desemprego, sofrem com a fome e a inflação no Brasil continua como a terceira maior da América Latina. Sem falar da covid-19. A manifestação só reforça o desrespeito do Presidente pela pandemia, quando assistimos manifestantes quebrando os protocolos, não usando máscaras ao trazerem cartazes antidemocráticos em vários idiomas nas mãos.
Outro ponto é que as investigações de corrupção na compra das vacinas e rachadinhas e esquemas da família Bolsonaro, também podem correr risco de serem engavetadas. Esse apoio ao Presidente pode mantê-lo vivo no jogo e é um grande alerta à toda a população, pois não podemos descartar a possibilidade de uma guerra civil caso ele se sinta ameaçado. É necessário um trabalho massivo para que pessoas, ainda iludidas, desvinculem dessa ameaça de ditadura.
Por outro lado, Bolsonaro, que já se encontra isolado no poder, com poucos apoiadores no Congresso, Senado e STF, pode estar realmente com seus dias contados no Palácio do Planalto. Já existem mais de 100 pedidos de impeachment a serem analisados e, com opositores inflamados e aliados pensando na possibilidade de apoiar a retirada dele do poder após esse polêmico e antidemocrático 7 de setembro, pode ser que isso se torne uma realidade.