Consciência Negra nas escolas: como falar sobre o assunto ajuda na formação de jovens negros
Publicado em 20 de novembro de 2019 às 10:04
Por Larissa Barros
Todo mundo sabe que o Brasil é o país da diversidade. Aqui todas as raças se encontram e todos os estilos se misturam. Apesar de sermos um exemplo de miscigenação, ainda existe MUITO racismo e preconceito - em todos os lugares. Um desses lugares são as escolas. Por isso nós resolvemos usar a #ConscienciaNegraPRBK para falar sobre o assunto e nada melhor do que a opinião de uma professora para entendermos essa questão.
Consciência Negra nas escolas: como falar sobre o assunto ajuda na formação de jovens negros Consciência Negra nas escolas: como falar sobre o assunto ajuda na formação de jovens negros© Getty / Reuters
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Falar sobre educação no Brasil sempre se torna uma conversa cheia de controvérsias e pontos delicados. Mas, precisamos abordar este assunto. 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra e o Purebreak resolveu usar a ação #ConscienciaNegraPRBK para mostrar que é necessário SIM o tópico ser discutido em todas as instituições de ensino.

Em 2019, descobrimos que, pela primeira vez, a população negra é a maioria nas instituições de ensino superior no Brasil. No entanto, esse resultado não se deve somente a muito estudo e esforço - principalmente, não somente -, mas sim a vários fatores como empoderamento, inclusão, representatividade e mais.

Por isso o Purebreak resolveu conversar com a professora Marcia Salina, que deu sua opinião sobre racismo, representatividade, carreira, oportunidades e como falar, de fato, sobre negritude e consciência negra nas escolas é de extrema importância.

Qual é a importância do Dia da Consciência Negra pra você, como professora?

"A data para mim serve para ratificar a importância da mulher negra e professora dentro da sociedade! Demorei muito a me reconhecer como negra, já que não tenho pele escura... Então a data me ajudou! Quando a data começou a ser comemorada, comecei a estudar sobre o assunto e finalmente me posicionar! Alisava meu cabelo e depois de me reconhecer resolvi fazer meu primeiro B.C [Big Chop]... É um corte radical para retirar toda a química do cabelo... A partir daí que conheci verdadeiramente o meu cabelo e minhas raízes!"

Consciência Negra: como falar sobre o assunto ajuda na formação de jovens negros © Getty Images
A maioria dos alunos das suas turmas são negros?

"A maioria dos meus alunos são negros, mas percebo que não se reconhecem como tal! Inclusive tenho um aluno que apesar da pele bem negra, cabelos crespos e traços, não se reconhece como tal!"

O que você mais preza na hora de ensiná-los?

"Ao falar sobre negritude, tento mostrar sempre que podemos ser o que quisermos! E que diante das dificuldades e da posição que eles ocupam hoje, ou seja, pobres, negros e periféricos, a única maneira de mudar é estudando! Falo sempre da minha vida, que como filha de costureira e de um gráfico, nunca passei fome e nem grandes dificuldades, mas tudo que alcancei, foi graças ao estudo! Meu pai nunca teve carro, morávamos no subúrbio em casa alugada até meus 14 anos, depois fomos para a zona oeste da cidade (Realengo), num conjunto habitacional... Então minha realidade, apesar do tempo ser completamente diferente, não é tão distante da deles! Ser o que sou e conquistar o que conquistei não deixa de ser um caminho vitorioso! É isso que sempre falo com eles..."

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Você sofreu racismo durante seu processo de formação?

"Nunca sofri racismo durante o meu processo de formação, mas eu era uma das poucas representantes da minha raça dentro das escolas que estudei... Na época, não me dava conta disso, mesmo porque como já disse, minha cor de pele se 'aproximava' das demais... Me sentia triste, porque tinha dificuldade com meu cabelo e nunca gostei de usar batons escuros, pois meus lábios são grossos, mas nunca enfrentei comentários, pelo menos não na minha frente! Mas tem uma coisa que faço questão, que aprendi com minha mãe costureira, que trabalhava com muitas professoras... A docente tem que estar o melhor arrumada possível! Não é preciso roupas clássicas, sapatos altos, apesar de gostar muito de usar, mas é preciso, principalmente como mulher negra demonstrar um 'pouco mais de elegância' não só aparentemente como no modo de agir socialmente, isso ficou na minha mente... Procuro vir trabalhar de uma forma simples, mas que de uma certa forma, demonstre preocupação e atenção com meu aluno! Eles gostam de ver coisas legais e diferentes! Eu me sinto muito gratificada, pois acredito que eles se sentem respeitados! Vários alunos meus já comentaram e ainda comentam sobre essa minha postura!"

Falar sobre Consciência Negra nas escolas é importante para a formação de jovens negros © Getty Images
Você costuma ouvir casos de preconceito na escola em que trabalha?

"Sim... Quando trabalhava numa escola, onde a maioria era adolescentes, ouvi casos horríveis, tristes demais! Mas hoje me deparo com situações irreais, que custo a acreditar... Ontem mesmo, ouvi que uma senhora estava procurando uma criança para ajudar, após ter feito uma promessa... Essa criança teria que ser além de necessitada, negra! Temos muitas crianças na escola nessas condições, mas achei estranho na insistência da criança ser negra!!!! Achei uma situação equivocada, como se a pessoa tivesse que fazer algum tipo de reparo, principalmente por ela se tratar de filha de portugueses... Ajudar uma pessoa, é justo, importante talvez, mas porque tem que ser negra? Acredito que seja pelo fato de não acreditarem que negros não tem condições de crescimento!"

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Quais conselhos você dá para seus alunos quando se trata de carreira?

"Ao aconselhar meus alunos sobre carreira, sempre falo para escolherem o que gostariam realmente de fazer, pois independente das impossibilidades apresentadas é possível chegar ao objetivo. Procuro mostrar vídeos, fotos e registros que os aproximem do que almejar, pois sonhar e construir é real!"

Como você acha que as escolas podem abordar mais assuntos como Consciência Negra, racismo?

"As escolas ainda estão muito aquém, quando se fala no assunto! Uma ou outra dá vez e voz ao tema! Já trabalhei em instituições que durante a semana tínhamos debates, palestras, desfiles, ou seja havia um movimento para discutir e lembrar o tema. Hoje estou num lugar que mal tem um mural que relembre o fato em escala macro. Nesse momento me sinto inútil, falei sobre tema ontem, hoje, mas não há um envolvimento e nenhum projeto pedagógico em torno disso! É triste! O papel da escola é sempre discutir, levantar o tema e isso só pode ser feito quando há um propósito, um projeto que engaje a comunidade escolar... As vezes me sinto como um peixe fora d'água e fica difícil lutar contra a maré... E para se ter a dimensão que esse tema não é levados sério, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, instituiu a semana passada 'A semana do bem estar animal' no período de 25 a 29, a semana Lei Maria da Penha vai a escola. São temas importantes, mas a discussão sobre a Consciência Negra 'passou batida'!"

Palavras-chave
Mundo Comportamento Educação Opinião PRBK