Você já parou para pensar no quanto seu cabelo interfere na sua vida e no seu comportamento? Pois para algumas mulheres o assunto muito sério e não se trata apenas de estética ou de tentar se encaixar num padrão estabelecido pela sociedade, ele pode se tratar de uma forma de se comunicar, representar nossa personalidade e como queremos que a sociedade nos veja. É sobre isso que vamos falar na ação #ConscienciaNegraPRBK.
A transição capilar é um procedimento que se tornou muito comum, mas que pode significar muito mais do que a gente imagina e fazer com que mulheres voltem a ter sua autoestima elevada e se redescobrirem. Se você não sabe do que se trata, a gente explica. O termo é o nome dado ao processo em que alguém tira toda e qualquer química dos cabelos até ficar com ele todo natural. Mas se engana quem pensa que é apenas uma mudança estética, ela serve como uma forma de aceitação e descobrimento pessoal.
Passar por esse processo causa na maioria das mulheres uma mudança externa, mas a interna é bem mais importante e pode representar bem mais do que esperamos. Boa parte delas se redescobre como mulher negra e foi sobre isso que falamos com a Pamela Machado, que passou por todas as fases da transição capilar e contou pra gente a importância de tudo.
Pamela conta que no começo preferia alisar o cabelo e perder três ou quatro horas fazendo chapinha de uma vez do que perder tempo todos os dias ajeitando o cabelo. Ela confessou que se achava excluída por ter cachos: "Desde criança eu via minhas amigas mexendo nos cabelos umas das outras e ficava triste por não fazerem no meu também. Eu sempre fui a que fazia cafuné nos outros, mas raramente recebia de volta. As pessoas não sabem acarinhar um cabelo crespo". E continuou: "Quando brincávamos de salão de beleza, eu sempre era a cabeleireira porque no cabelo dela ninguém mexia [...] Quando criança, às vezes tinham aqueles surtos de piolho na escola. As pessoas sempre alardeavam quem não tinha cabelo liso".
Em 2012, ela decidiu começar a transição e parar de usar química: "Foram 8 meses sem química, fazendo texturização com papel higiênico, até que em novembro, num ato de desespero, peguei uma tesoura e cortei boa parte do liso no banheiro de casa e sem nenhuma técnica". Pamela contou que se deixar "feia" foi uma forma que arranjou para não postergar mais seu big chop.
"Eu tinha entrado na Universidade em 2013. Foi importantíssimo para eu começar a ter referências negras. Alguns amigos mais próximos já sabiam que eu queria entrar em transição ainda no fim de 2013, eles me deram muito apoio. Quando comecei o processo, minha família também foi ótima, me mandavam fotos de mulheres crespas e cacheadas, viam produtos especializados, lembravam de mim e me indicavam".
Até os professores dela foram essenciais na mudança: "Até algumas professoras da faculdade. O primeiro dia que fui à aula com o cabelo texturizado, elas vieram elogiar". Ela conta como foi a mudança: "Mudei muito. Eu sempre digo que a possibilidade de se descobrir negra é um privilégio. Eu, como tenho a pele clara, tive esse privilégio."
Também existe a questão do racismo, que se esconde e pode aparecer de várias formas, até mesmo na pressão para termos um cabelo "comum" e a Pamela falou como percebeu que também era uma vítima: "Por conta do processo capilar, eu comecei a estudar sobre cabelos cacheados e crespos. Consequentemente, li materiais sobre negritude também e assim fui entendendo vários dos processos racistas pelo qual passei durante a vida toda".
Pamela também revela uma triste realidade que vê acontecendo com as mulheres: "Com certeza tem gente que posterga a transição pra se prevenir do racismo. Parece auto sabotagem, mas eu entendo como preservação e autocuidado".
Vale deixar claro que não é necessário você mudar seu cabelo para se identificar como alguma coisa, seja você mesma em qualquer situação! Segue o conselho da Pamela: "Eu não acho necessariamente que todo mundo deva passar pela transição. Eu acho que as pessoas precisam sentir a liberdade de ser quem quiserem, se apresentar da forma que lhe for mais conveniente. Se uma crespa quiser alisar porque se sente melhor assim, ok por mim. Eu desejo é que as meninas entendam que elas não precisam. Não é um dever, existem vários tipos de beleza".