Isso pode ter sido justamente o motivo pelo qual a Ferrari decidiu adentrar um mercado ao qual resistiu por muito tempo. Enquanto Lamborghini sempre foi mais audaciosa em suas inovações, cada grande mudança na Ferrari é um debate intenso buscando equilibrar finanças, responsabilidades ambientais, exclusividade e preferências do consumidor.
O que temos com o Ferrari Purosangue? Um SUV. Um esportivo. Um desejo. Um motor. O primeiro modelo de cinco portas de Maranello. Pode ser um horror para os puristas, mas é uma máquina de gerar dinheiro.
O principal "problema" da Ferrari é que suas vendas estão indo muito bem. Por exemplo, quando a Porsche lançou o Cayenne, ele revolucionou e salvou a marca. A Aston Martin vive um cenário semelhante com seu Aston Martin DBX, assim como o Maserati Levante.
O Lamborghini não enfrentava esse desafio quando lançou o Lamborghini Urus. O SUV atingiu 20.000 unidades vendidas mais rápido que o Huracán, um de seus modelos mais populares. Com menos hesitação que a Ferrari, a Lamborghini percebeu a necessidade de entrar nesse mercado para aumentar suas vendas.
Com uma base crescente de clientes ricos aceitando SUVs, a Ferrari teve que se adaptar. Principalmente porque cada venda gera um lucro considerável.
No entanto, a Ferrari entendeu que, se iriam se desviar de sua essência, fariam isso respeitando um dos lemas de Enzo Ferrari: "Quando você compra um Ferrari, está pagando pelo motor. O resto é um presente meu".
Não surpreende que a Ferrari tenha decidido oferecer um produto com um motor à altura, como o V12 de 6.500 centímetros cúbicos e 725 CV de potência, o motor mais potente da história da Ferrari em um carro de quatro lugares.
Os dados comprovam que o mercado de ultra-luxo está encontrando um grande público no SUV. Além das já mencionadas, marcas como Rolls-Royce e Bentley também estão lançando esses modelos.
A Ferrari sabe disso. Embora seus modelos tenham sido por anos um símbolo de potência, o mercado tem se tornado mais domado.
Dois meses depois, a lista de espera para o Ferrari Purosangue foi fechada. Estima-se que serão entregues entre 2.000 e 3.000 unidades por ano. A marca poderia aumentar sua produção, mas optou por não fazê-lo.
Outro lema de Enzo Ferrari diz que "Ferrari sempre produzirá um carro a menos do que o mercado demanda".
Em 2021, a Ferrari atingiu um recorde de vendas. As 11.155 unidades representaram um aumento de 22% em relação a 2020 e, principalmente, 9,18% a mais que em 2019. Estima-se que o SUV aumentará a produção de carros em 20%. E tudo porque foi a marca que encerrou os pedidos.
Dizia-se que o fundador da marca se referia aos seus supercarros como "um sonho, um sonho para os poucos sortudos que o possuem e para a maioria que não". Agora, a empresa italiana enfrenta o desafio de como aumentar suas vendas sem diluir a marca, mantendo a mística do Cavallino em cada carro. Um belo dilema para ter.