A palavra "fé" significa muito para Iza e, por isso, representa tão bem a sua nova música, que acabou de ganhar clipe nesta sexta-feira (3). A cantora brasileira, que está confirmada no Rock in Rio, abriu o coração em coletiva de imprensa, falando sobre o que quis passar com a canção e como foi gravar um clipe tão forte.
Mais uma vez, ela se jogou de cabeça no projeto e contou mais detalhes do processo como um todo. "Foi o trabalho que mais gostei de fazer", comentou em entrevista, que o Purebreak marcou presença.
Confira o clipe de "Fé" e veja tudo o que Iza tem a dizer sobre o vídeo e a nova fase da carreira!
Já candidato a um dos melhores clipes da carreira, o vídeo para "Fé" mostra a força de Iza frente a tantos desafios. Em cenas, a cantora é xingada e atacada por diversos bailarinos e, por incrível que pareça, isso foi uma experiência interessante para ela. "Foi um trabalho terapêutico. Na cena em que estão me xingando, eu disse para eles me xingarem de tudo o que já ouviram e virou uma grande terapia [...] As pessoas terminavam a cena me pedindo desculpas", conta Iza.
A maioria dos takes foram pensados pela artista, que já tinha imaginado uma escada de pessoas, inspirada em cenário do filme "O Show de Truman", e na "saia" formada pelos dançarinos. "Queria ilustrar como a opinião das pessoas é um peso na vida. Como vamos carregando essas projeções, sem nem perceber".
Já na escolha dos tons, Iza explica que queria usar cores primárias - como azul e vermelho - e queria deixar o foco para as pessoas. "Queria fazer em um estúdio, onde não dá para saber exatamente onde é, que horas foi feito. Queria algo atemporal. Tentei ser o mais minimalista possível, para que as pessoas fossem a grande mensagem. Em 'Gueto', 'Sem Filtro', eu tinha de 7 looks para cima, nesse só tive 3". Ela conseguiu o que queria, né? Não dá para tirar os olhos de Iza e dos dançarinos.
De longe, um dos momentos mais marcantes de "Fé" é quando Iza leva uma cuspida na cara. A escolha foi da artista, que quis evidenciar o racismo e machismo do país. "Eu pensei: 'como posso ilustrar que a mulher preta é a figura mais desvalorizada do Brasil?' [...] E eu falei para ele não beber água, queria cuspe mesmo e a textura não é a mesma. Eu gosto de me entregar no processo e acabou que foi muito legal, é um dos clipes que mais me diverti nos bastidores".
Sem dúvidas, a aflição que a cena passa é um bom retrato da exclusão da mulher negra - algo bem familiar para Iza. Ao longo de sua vida, ela conseguiu estudar em escolas e instituições particulares, pelo esforço de seus pais, e muitas vezes era a única preta do ambiente. "Eu sempre me sentia muito diferente", conta.
A música, que foi lançada na noite da última quinta-feira (2), passa uma mensagem forte, que todos podem se identificar - e foi esse o objetivo por trás da letra, que tem Iza na lista de compositores. "Todo mundo conhece um filho da p***, que traz medo para vida, traz coisas que não te ajudam [...] A gente não precisa só ter fé, a gente precisa ignorar muita gente escrot* no caminho", afirma.
A artista espera que es fãs possam se fortalecer com essa letra mais desbocada, que assim como "Dona de Mim" e tantas outras composições, falam sobre a fé e espiritualidade da cantora. "A intenção é que as pessoas peguem essa música e apliquem na vivência delas. Quando a gente fala sobre as nossas questões, isso faz a diferença".
E, apesar de ser uma de suas músicas mais honestas e o trabalho mais delicado de sua carreira - "nunca mostrei esse lado tão vulnerável" -, Iza afirma que era o momento certo para o lançamento. "A Iza de hoje se preocupa bem menos com o que os outros estão falando [...] Eu lido melhor com as críticas do que no início e muitas coisas me ajudaram nisso, como meus fãs. Estou mais confiante".
Para não se abalar tanto com os comentários negativos, ela compartilha a lição que aprendeu ao longo dos anos de carreira: "Fechem os ouvidos para críticas das pessoas que não fazem o que você faz. Sua vida já vai ser mais fácil". Anotou?
Foram vários momentos em que Iza precisou ter fé. Um deles, foi um pouco antes de estourar como cantora, quando ela e sua mãe estavam passando por muitas dificuldades financeiras. "Foi em 2016, 2017... Eu já estava há bastante tempo sem ganhar dinheiro, trabalhando como autônoma [...] Disse para mim mãe que ia desistir de ser cantora. Ela estava trabalhando em três escolas, fazendo hora extra, e eu me senti muito egoísta de estar correndo atrás do meu sonho, com os boletos chegando".
Como bem sabemos, a história teve um final feliz e Iza conseguiu firmar sua carreira como artista - tendo em seu currículo indicação ao Grammy Latino, apresentação no Rock in Rio e no Prêmio Multishow. Porém, a dificuldade do passado ajudou a formar a artista que é hoje: "Foi um momento decisivo, definiu a minha carreira até aqui".
Apesar de confiante e dona de si, isso não significa que Iza não tem medo. Ao ser perguntada sobre o show no Palco Mundo do Rock in Rio, ela foi sincera: "Estou apavorada. Eu mal superei o Sunset e já me colocaram no Mundo. Estou muito ansiosa, vai ser um dos dias mais felizes da minha vida", afirma a cantora que, desde 2011, comparece a todas as edições do festival - inicialmente na plateia, agora no palco.
Recentemente, muitos cantores estrangeiros foram a público falar sobre exigências absurdas de gravadoras, como a necessidade do single viralizar no TikTok. Isso também rola, e muito, por aqui e assim como tantos artistas, Iza sente a pressão de fazer músicas de sucesso. Entretanto, ela não deixa que isso defina os seus lançamentos e próximos passos na carreira. "A gente não pode se limitar desse jeito, permitindo que o mercado filtre você", afirma.
Formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-RJ, Iza sabe bem como funciona o lado mercadológico da música e vê também uma cobrança ainda maior dos empresários e do público brasileiro, de forma geral. "Somos um dos países que mais consome rede social no mundo. A nossa percepção do que é um número grande é muito diferente do resto do planeta. E a gente não pode fazer isso com nossos artistas", comenta a cantora.
No fim, com o sucesso que tem hoje e os muitos fãs pelo Brasil, ela consegue tomar importantes decisões na carreira e não se deixar abalar pelo cronograma, pelas críticas e pelo apelo do mercado. "A gente quer deixar a nossa marca ou só obedecer aos outros?", pergunta. Iza, com certeza, deixou a marca dela.
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