Os instrumentos para começar a aprender sobre o feminismo são muitos, e todos válidos. No entanto, uma boa teoria é sempre o que dá base para qualquer pesquisa e nisso os livros feministas ganham total destaque. Nós, que somos amantes da leitura, já listamos aqui 10 obras que toda mulher deveria ler para aprender sobre o machismo e suas formas de opressão.
Para aprofundar mais ainda essa jornada de conhecimento, resolvemos trazer apenas os livros feministas que foram escritos por mulheres brasileiras. Eles são mega importantes para entendermos nosso lugar como mulher neste país. Algumas delas se baseiam em estudos de fora ou relatam realidades de mulheres estrangeiras também, mas é essencial entender a visão que elas têm a oferecer.
Acompanhe a lista e bora conhecer as obras das mulheres que debatem, lutam e pautam o feminismo no Brasil!
Quantas vezes você já escutou falar sobre esse termo? "Lugar de fala" não significa que um homem não pode falar sobre machismo, nem que uma pessoa branca não possui permissão de discutir o racismo. A palavra se popularizou na internet e a filósofa Djamilla Ribeiro toma como desafio explicar seu real significado. Trata-se de uma obra bem curtinha, com linguagem fácil e acessível.
O que a teórica explica é que em nossa sociedade um tipo de indivíduo é tido como universal, acumulando vários privilégios - ser homem, branco e cisgênero - que fazem com que ele tenha maior poder de fala. Ou seja, quanto menos opressões te cercam, mais você é escutado. Percebam como nossa história foi contada! Por isso, Djamila alerta para as mulheres, em especial as que são negras, pois possuem menor poder de fala, já que os espaços reservados para elas são reduzidos.
As organizadoras Flavia Rios e Márcia Lima reuniram em um só livro obras marcantes da filósofa, antropóloga, professora e escritora Lélia Gonzalez. Os ensaios, artigos divulgadas na imprensa, entrevistas e demais escritos foram produzidos entre 1979 e 1994, período em que alguns países da América Latina e do Caribe sofriam as angústias de sociedades com democracias abaladas e frágeis. Lélia marcou o movimento e feminismo negros no país.
O livro também aborda a vida de Lélia Gonzalez e seu desenvolvimento de pesquisa. A escritora é um ícone do feminismo negro, discutindo conceitos como intersecccionalidade e decolonialismo de forma popular sem perder o rigor técnico. Quando Angela Davis - filósofa norte-americana e autora de "Mulheres, Raça e Classe" - veio ao Brasil, fez questão de referenciar Lélia: "Eu sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo".
3. "Empoderamento" - Joice Berth
Outro conceito que causa confusão é o empoderamento. Joice Berth foi a escritora brasileira que juntou as teorias de outros pesquisadores para explicar o que significa o processo de se empoderar. O livro faz parte da série que também inclui "Lugar de Fala", a Feminismos Plurais. Ele tem, portanto, a mesma pegada: uma leitura leve, mais breve e bem didática.
Joice alerta que o conceito tem mais a ver com transformações coletivas do que com atitudes individuais. Você pode se sentir mais confiante e tudo mais descobrindo que, como mulher, tem direito de se impor e fazer o que quiser. Mas isso só vai ser realmente um empoderamento se todas as mulheres também tiverem esse direito assegurado. Ou seja, quando a sociedade for menos machista e tivermos igualdade de gênero.
A obra é um texto autobiográfico de Djamila e a reunião de alguns artigos publicados entre 2014 e 2017 no blog da revista Carta Capital. Ribeiro faz um histórico de sua vida, introduzindo o silenciamento vivido quando ainda era criança. Ou seja, todas as as formas de opressão que fazem com que certas pessoas se sintam mais intimidadas e até apaguem sua personalidade.
A autora dialoga com outras teóricas feministas, como Chimamanda Ngozi Adichie, bell hooks e Sueli Carneiro, resgatando situações cotidianas de racismo e machismo para explicar conceitos como o empoderamento feminino e interseccionalidade. Um ponto interessante desse livro é que ele traz a origem do feminismo negro nos Estados Unidos e também no Brasil, além de discutir a mobilização virtual, que acontece de maneira cada vez mais forte. Só assunto bacana, né?
5. "Interseccionalidades: Pioneiras do Feminismo Negro Brasileiro (Pensamento feminista brasileiro)" - Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro
Heloísa Buarque de Holanda é organizadora do projeto e compila textos das teóricas que iniciaram o debate entre gênero e raça no país, as chamadas veteranas do pensamento feminista brasileiro. As escritoras da obra se dedicaram a esses estudos a partir dos anos 70, marcado pelo silenciamento e horror da ditadura. Ainda bem que nós, jovens de hoje em dia, não tivemos que passar por isso.
Para as mulheres negras, a situação era ainda pior e mesmo assim Lélia, Sueli e Beatriz conseguiram levantar a pauta da interseccionalidade para descrever a situação dessa população. O intuito do livro é apresentar essas teorias para as novas gerações e fazer com que continuem sendo utilizadas. Além disso, ele pode servir como uma redescoberta do feminismo, incluindo abordagens de mulheres que, embora sejam muito importantes, ainda merecem mais reconhecimento dentro do debata feminista.
6. "Interseccionalidade" - Carla Akotirene
O livro vem explicar o termo interseccionalidade, o que rende também a desconstrução de um feminismo global e único. Como já vimos nas vertentes do movimento, há classes diferentes de mulheres e quanto mais marcadores sociais elas possuem - ou seja, os grupos minoritários que pertencem -, mais oprimidas elas serão. Portanto, uma mulher negra intersecciona a opressão de classe e raça em sua vida.
Carla Akotirene explica de forma simples as pesquisas sobre o termo, como ele surgiu e quais são suas aplicações. É importante entender a interseccionalidade para não excluir mulheres de certas pautas do feminismo. Quando você compreende que outras mulheres têm mais questões além do machismo para enfrentar, a luta fica muito mais inclusiva e potente!
7. "Transfeminismo: Teorias e Práticas" - Jaqueline Gomes de Jesus e colaboradores
As mulheres transexuais e travestis também estão inseridas no feminismo, buscar formas de escutá-las e integrá-las ao movimento de forma mais ativa é urgente! Pensando nisso, que tal entender melhor sobre o transfeminismo? Ele é um termo que vem ganhando força aos poucos e Jaqueline Gomes de Jesus consegue explicá-lo a partir das contribuições dos movimentos sociais sem excluir o que a comunidade acadêmica discute sobre o tema. Ou seja, temos uma união do que acontece na prática com o que é estudado e pesquisado sobre o assunto. Quer coisa melhor?
A escritora é psicóloga e Pós-Doutora pela Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas. E se você pensa que ela só explica o conceito e para por aí, saiba que ainda tem mais. Jaqueline propõe também políticas que podem ser implementadas para fazer o debate avançar na realidade.
Quer um apanhadão com vários assuntos e diferentes visões? O livro reúne 23 textos de autoras como Djamila Ribeiro, Luísa Marilac, Lola Aronovich, Nana Queiroz, Amara Moira, Jaqueline de Jesus, Lívia Magalhães, Luciana Veloso e demais teóricas ativas na Primavera das Mulheres. O movimento debate as novas formas que o feminismo toma na era da internet.
E quais temas podemos encontrar nesta obra? Relações no ambiente de trabalho, vida doméstica e divisão de tarefas, tabus sexuais, maternidade, aborto e, claro, machismo, são alguns dos assuntos que aparecem no livro. Os textos são bem introdutórios, para dar aquela situada, e usam linguagem acessível. Tudo de bom!
Muitas teóricas acreditam que estamos vivendo a quarta onda do feminismo. A professora Heloísa faz uma grande pesquisa para compreender melhor as mudanças que ocorreram ao longo do tempo e o que anda rolando nesse novo momento do movimento feminista, principalmente na última década.
A escritora, que é referência em estudos de gênero e cultura, leva em consideração a participação de jovens com ações artísticas e as divergências causadas entre os diferentes tipos feminismo que formam a realidade brasileira atual. Ela está interessada em descobrir quais são as figuras que atuam hoje, o que é discutido, como tudo isso acontece e vem influenciando o campo político, nosso comportamento e principalmente a arte.
E aí, achou o assunto que mais te interessa? Veja também o que temos para te indicar no mundo audiovisual e faça nosso quiz de filmes feministas. Basta responder algumas perguntas que te daremos uma sugestão para assistir!