Um livro como o "Boa Noite" é capaz de provar que mesmo histórias de adolescentes para a adolescentes, podem trazer mais do que amores e términos. E isso ficou claro após a leitura da obra de Pam Gonçalves. Em seu primeiro romance, lançado em 2016, a booktuber conta os dilemas de Alina, uma jovem de 18 anos. O que parece ser mais uma história sobre alguém que está prestes a iniciar a faculdade e a viver longe de casa, acaba surpreendendo ao abordar temas tabus, de forma leve e com o devido cuidado.
Logo na capa, é possível ver o retrato de uma casa; por sinal, a República das Loucuras, onde Alina vai morar em Pedra Azul para poder cursar Engenharia do Computação.
Sabe quando pedem para "não julgar o livro pela capa"?! Pois este ditado nunca foi tão verdadeiro! Quem vê o "Boa Noite" na estante sequer imagina a quantidade de coisas importantes presentes nas páginas e que precisam, sim, ser passadas para gente mais nova.
Como dito na sinopse do livro, Alina sempre foi "boa aluna, boa filha, boa menina". Agora, na faculdade, a caloura de Engenharia quer de todas as formas se desfazer desses rótulos e, enfim, ser alguém "legal". Incentivada por seus colegas da casa nova, Alina passa a frequentar festas, dançar sem ter vergonha, corresponder aos flertes e até consumir bebidas alcoólicas. E ok, né?! Mulheres também têm o direito de se divertir.
No entanto, bem sabemos que, diferente do que acontece com o sexo masculino, as meninas precisam estar atentas o tempo todo - mesmo nos momentos de lazer.
É frequentando estes espaços que a protagonista percebe o quanto garotas como ela estão vulneráveis. Quando uma droga passa a ser usada nestas festas para deixá-las inconscientes, Alina se une às amigas a fim de encontrar uma saída prática que possa reverter a situação.
Aos poucos, a autora mostra como episódios de assédio, sexuais e morais, são recorrentes na vida das adolescentes. E como o sexo feminino é colocado à prova o tempo todo. Começando pela turma de Alina, composta por uma maioria masculina que não se conforma em dividir o espaço com meninas tão inteligentes e capazes quanto eles.
Diálogos que demonstram isso estão presentes durante todo o livro, chamando a atenção para o que acontece direto na realidade. Fora o fato de como todas essas questões que afligem milhares de meninas por aí são naturalmente banalizadas para que continuem sendo oprimidas - algo que a cultura do estupro faz e que Pam não deixa de incluir em seus parágrafos.
Apesar de tudo, a leitura consegue ser bem leve, com romances inesperados e personagens divertidos para aquecer qualquer coração diante de todos os problemas. O Purebreak indica!