O caso recente do brasileiro Mateus de Lima Costa Ribeiro nos chama a atenção para um debate relacionado a privilégios e meritocracia. Para quem não sabe, com apenas 19 anos, Mateus se tornou a pessoa mais jovem a entrar em um mestrado de Direito em Harvard, nos Estados Unidos. Os recordes louváveis na trajetória acadêmica do rapaz são comuns para ele. Aos 14 anos, por exemplo, ele já havia iniciado a graduação em Direito na UnB - antes mesmo de se formar no Ensino Médio. É inegável a grandeza destas conquistas, mas você já parou para pensar até que ponto tudo isso é reflexo da quantidade de oportunidades que o rapaz teve durante a vida?
Em linhas gerais, a meritocracia nada mais é que um sistema de recompensas baseado no mérito. "Você conseguiu porque você mereceu". É um conceito que parte da ideia de que todos saem do mesmo lugar. Entretanto, na prática não é bem assim que funciona. Nem todos os indivíduos estão no mesmo ponto da linha de partida. Se imaginarmos uma corrida, chegaremos à conclusão de que aqueles que estão mais à frente alcançarão mais rápido à linha de chegada, certo?!
É, justamente, por isso que a meritocracia não funciona no Brasil, onde você ainda encontra, por exemplo, uma parcela da população com acesso precário a direitos básicos como saúde e educação. Dessa forma, esse sistema de recompensas que parte do princípio de que todos estão em condições iguais só aumenta as desigualdades dentro de uma sociedade, diga-se de passagem, já desigual, né?!
Você pode acessar o infográfico completo aqui.
Para o rapaz que foi o mais novo a ingressar em um mestrado em Harvard, a área do Direito sempre foi uma realidade viável. Além de ter pais e irmãos advogados, o Mateus é sobrinho de um desembargador e sócio no escritório de seu pai. Estes detalhes - que geralmente são ignorados pelos portais de notícias - são cruciais para entender que algumas pessoas chegam aonde chegam por terem tido acesso, principalmente, a uma educação de qualidade: uma realidade distante para muita gente.
Casos semelhantes aos de Mateus volta e meia pipocam nas redes sociais. Vai dizer que você nunca se deparou com uma manchete que aplaude estes feitos extraordinários? Como a do menino de 17 anos que passou para 10 vestibulares em Medicina e que, para isso, estudava mais de sete horas por dia e abdicou de todos os seus hobbies. No entanto, vale levar em consideração que o menino, desde pequeno, teve acesso a uma educação de qualidade.
Quer outro exemplo? Kylie Jenner virou manchete de vários veículos após se tornar a bilionária mais jovem de todos os tempos. Porém, se você conhece um pouco da vida da empreendedora sabe que ela carrega o peso de ser irmã das Kadarshian e filha de Kris Jenner.
Sim, mestrado em Harvard, aprovação em 10 vestibulares de Medicina, ter um negócio próprio aos 20 anos são, de fato, conquistas importantes, mas existe algo em comum na maioria destas histórias: os privilégios.
No final das contas, reconhecer privilégios não é sobre desmerecer a conquista de alguém que claramente se empenhou e, de repente, abdicou de certas coisas para isso. É sobre não restringir estas conquistas ao mero esforço pessoal. Algumas pessoas têm mais oportunidades, recursos ou até mesmo contatos que outras - e isso provavelmente as levarão "mais longe". Se o pensamento meritocrático precisa ser desconstruído aos poucos, é importante manter em mente que é inviável comparar alguém em posição de privilégio a quem sequer sabe o que significa Harvard.
E, você, já parou para pensar a respeito?