Estrou na última sexta-feira (22) "Coisa Mais Linda", a nova série brasileira da Netflix e a primeira de época. Dirigido por Caito Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende, a produção realiza com muita eficiência a missão de contar um pouquinho da história do Rio de Janeiro e da Bossa Nova no final da década de 50. No entanto, ao contrário do que estamos acostumados a ver, as mulheres são as protagonistas desse enredo. Ou seja, se você sempre teve curiosidade de saber mais um pouquinho sobre esse período e sob a perspectiva de mulheres, veio ao lugar certo.
"Coisa Mais Linda" conta - também - a história de Malu (Maria Casadevall), uma paulista de classe média alta que se muda para o Rio de Janeiro com o intuito de começar uma nova vida ao lado do marido e abrir um negócio. Mas ao chegar na famosa Cidade Maravilhosa, ela descobre que foi abandonada pelo companheiro. Com muita força de vontade e o apoio da nova amiga - e sócia - Adélia (Patrícia Dejesus), Malu consegue se reerguer. Além da dupla, a série também mostra o desenvolvimento de outras duas personagens muito fortes: Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa).
Nós do Purebreak estamos simplesmente apaixonados por "Coisa Mais Linda" e poderíamos fazer um texto enorme com os motivos para maratonar mais essa ótima produção da Netflix. Porém decidimos deixar isso para o elenco da série. Pois é, nós conversamos com os atores e pegamos os argumentos deles para convencer você! E aí, vai conseguir dizer não para essa galera?
Apesar de se passar em 1959, o público irá identificar muitas questões que ainda são atuais. "Eu acho que o mais surpreendente dessa história toda, foi a gente perceber, ao longo do processo, que não estávamos tão distante do que estava escrito em um roteiro que se passa 60 anos atrás. Acho que a série é genial por isso, você consegue identificar coisas que acontecem hoje. Você pode trocar as personagens e o figurino e aqueles diálogos ainda cabem", declarou Patrícia.
O elenco de "Coisa Mais Linda" realmente estudou e se empenhou na hora de dar vida aos personagens e isso é fácil de perceber logo nos primeiros episódios. "Se você vai fazer uma série de época, pra mim, não existe não estudar aquele período, não ler livros, não ver filmes, as referências. Não ver matéria de jornal, entrevistas, revistas... isso tudo é muito rico. Você aprende muitas coisas, conversa com pessoas que viveram naquela época e isso eu acho que é brilhante. É onde a gente enriquece e como cresce enquanto ser humano", contou Mel Lisboa.
Quando se fala sobre movimentos sociais, muita gente reclama da falta de recorte de classe e raça na hora de abordar esse tema. Bom, esse não é um problema em "Coisa Mais Linda". Aliás, foi por conta da série que o elenco passou a entender mais sobre a necessidade disso. "Estávamos as quatro com o preparador e então resolvemos conversar, falar um pouquinho sobre como cada uma entende o feminismo e etc. Ficamos falando muito, eu, Fernando e Mel. E aí a gente viu que tinha uma voz ausente, tinha alguém muda. E esse alguém era a Patrícia. Foi quando a gente percebeu que, diante das questões apontadas, ela não tinha nada a dizer. Ela não conseguia relacionar as questões com a realidade da Adélia", revelou Casadevall.
Não espere por uma história que irá explicar o feminismo, viu? "A série está num lugar que abre margem para a reflexão e possibilita a conscientização das mulheres. Não é panfletaria e ocupa um lugar que agrega e abre as portas para conscientizar as pessoas.. eu acho que isso é muito potente, muito rico", disse Mel.
"Coisa Mais Linda" não tem o intuito de criar personagens 100% bonzinhos, como alertou Leandro Lima, que interpreta Chico: "Eu queria encontrar um antigalã, um cara que faz as coisas que dão errado. Eu acho que todos os personagens tem isso. Não tem um herói, um cara que faz tudo certo ou bem. O Chico é um cara que é esquisito, que não se dá bem com as pessoas, que é introspectivo [...] que tem essas camadas de conflito e deixa fluir o humano".
Já passou da hora de falarmos da importância que a população negra teve (e tem) na formação da cultura brasileira, né? E foi justamente isso que Ícaro Silva, responsável por interpretar Capitão, tentou trazer com o seu personagem. "O 'Chega de Saudade' [livro], o 'Coisa Mais Linda [Documentário]... Eles ainda estão voltados para um lugar de classe média e da Zona Sul. Um lugar branco dessa construção, que não atravessa tanto o Capitão e a Adélia. Então, minha pesquisa foi mais nesse lugar, dos artistas pretos que estavam ali nessa época", declarou.
Se esse nome te assusta, já passou da hora de ver que o feminismo não é nenhum bicho de sete cabeças, né? Mas o que falar de um seriado protagonizado por quatro personagens femininas muito fortes? "Não é uma série feminista. É uma série de mulheres fortes que fazem suas escolhas e as encaram. A histórias delas vão gerar sementes para que as pessoas passem a refletir. Eu lendo, particularmente, comecei a rever certas atitudes", opinou Leandro. "Não é uma série para mulheres, é uma série feita também por mulheres. Não acredito que o antagonismo seja o gênero masculino [...] É uma série que traz uma reflexão, mais do que uma reposta pronta, uma coisa fechada, um livro de regras a seguir. É o convite a uma reflexão para todo mundo, não só para as mulheres", concluiu Fernanda.
Não é porque as mulheres são o centro dessa história que não há espaço para os homens se identificarem. "Existe a identificação com aquele herói, independente do gênero, e com as questões daquele herói. E se tratando de um drama de época, ainda que super carismático, eu acho que a complexidade das relações, das decisões e das escolhas que esses personagens precisam tomar, são de nível humano, interindependente do gênero. Então eu acho muito bonito assistir a série e me identificar com aquelas personagens", comentou Ícaro.