No início, muita gente chegou a acreditar que "O Tempo Não Para", da Globo, seria uma novela viajada demais por falar sobre algo que seria impossível de acontecer: uma família inteira ficar congelada durante 200 anos e voltar à vida, prontos para viver nos tempos atuais. Mas, se você for parar para analisar a trama, muitos assuntos importantíssimos são retratados e levantam a pauta: será que as coisas mudaram tanto daqueles tempos pra cá? Aproveitando a Proclamação da República, que é comemorada neste dia 15 de novembro, que tal observarmos essas questões?
Para começar, naquela época, as mulheres não tinham liberdade nenhuma, além de terem que seguir aquela história de "moral e bons costumes". Roupas curtas e decotadas? Ficar até tarde na rua? Não querer ter filhos? Não, não podia. A mulher tinha que viver 100% pensando no marido, na casa e em construir uma família. Sim, a gente reconhece que algumas coisas mudaram e as mulheres estão lutando cada dia mais e, graças a isso, conquistaram muitas coisas maravilhosas. Mas, vamos parar pra pensar num contexto geral: o feminismo vive recebendo críticas. Mulheres vivem sendo consideradas vulgares apenas por saírem como querem, falarem e pensarem por conta própria, sem seguir nenhum pensamento voltado para os homens. E se uma delas fala que não quer casar e/ou ter filhos? Pronto, chuva de falatório para todos os lados! Ou seja, será que realmente a sociedade mudou nessa questão do machismo?
Mas vocês acham que esse é o único assunto polêmico tratado na novela? Claro que não! Até Dom Sabino (Edson Celulari), que era (é, na verdade) super racista por ter vivido na época em que a escravidão era comum e legalizada, reconhece que um negro não deveria estar carregando bolsas pesadas de outras pessoas, ou servindo terceiros. Além disso, todos os escravos que eram do pai de Marocas (Juliana Paiva) e acabaram eventualmente congelados com a família já sofreram algum tipo de preconceito nos dias atuais, como por exemplo, aquela competição para saber quem ficaria com os serviços de Damásia (Aline Dias). Mas, pera, a Lei Áurea já não foi assinada anos atrás? Como brancos ainda ~competem~ para saber para quem a negra vai cozinhar ou a casa de quem ela vai arrumar? E, pior, sem nem ganhar um salário digno ou o mínimo de reconhecimento e respeito? Parece que essas questões não mudaram muito, só estão mais disfarçadas que antigamente.
Tem uma questão que nem pegava tanto no passado, mas agora está se tornando cada vez pior: o sensacionalismo. Vocês lembram quando Marocas foi praticamente perseguida por todos os lados por Pedro Parede (Wagner Santisteban) só para a mocinha falar sobre sua nova vida de "plebeia" por ter se mudado para o cortiço? Isso, inclusive, gerou um discurso super empoderado da protagonista: "É um tempo estranho este, em que alguém é desprezado por não ter posses, enquanto milionários e políticos roubam à luz do dia e são exaltados como grandes figuras públicas! Não! Grande homem, grande mulher é quem sobrevive às custas do próprio suor e respeita os demais. A decadência que o senhor me atribui não está na minha falta de recursos, mas na sua pobreza de espírito. O senhor deveria se envergonhar de ganhar a vida tentando ridicularizar pessoas de bem!". Falou tudo!
Ah, e Marocas também fez uma observação importantíssima sobre o ensino público no país. Basicamente, a mocinha fala tudo que já sabemos: a situação está precária, os professores não aparecem para dar aula porque não recebem seus salários, não existe material didático, as escolas caindo aos pedaços... E, pra concluir, a Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho) também falou algo que todos nós refletimos e pensamos enquanto assistimos "O Tempo Não Para": "Parece que tudo mudou tanto nesse século para continuar exatamente igual".
Parece que as coisas realmente não mudaram tanto, né? Por isso é tão importante cada um fazer a sua parte para transformar o mundo em algo melhor, para ver se as coisas mudam pelo menos um pouquinho para as próximas gerações.