Você pode até não acompanhar o Carlinhos Maia, mas com certeza já ouviu falar nesse nome se é bastante ligado em redes sociais, principalmente no Instagram. No entanto, caso ainda seja uma incógnita para você, o brasileiro é quem teve o Insta Stories mais visualizado em 2018, e o segundo no mundo, perdendo apenas para a nossa querida Kim Kardashian. Ou seja, o cara é cheio de fãs. No último domingo (3), Carlinhos Maia se assumiu gay e, através do seu discurso de aceitação, muitas pessoas notaram alguns pontos bem problemáticos. Com isso, o assunto virou meme e motivo de chacota. Mas, será que a gente tem o direito de tacar pedra?
Antes de mais nada, a gente precisa entender que se assumir LGBT nunca é uma tarefa fácil, ainda mais no Brasil, que é o país onde mais se mata essa população. Como nós já falamos no texto sobre masculinidade tóxica e no outro de heterossexualidade compulsória, a sociedade é formada através de um padrão, construído há muito tempo, e sempre que uma pessoa desvia desse padrão, ela acaba sendo hostilizada de alguma forma. Muitas crianças crescem sofrendo bullying e acabam demorando anos para assumir quem realmente são, por conta de algumas sequelas.
Carlinhos Maia não chegou a relatar casos de extrema violência - verbal ou física -, mas através dos seus Stories é possível perceber que ele ainda está muito ligado ao um discurso heteronormativo, que a maioria das pessoas crescem ouvindo. Pensando nisso, nós do Purebreak resolvemos listar os pontos problemáticos do discurso de Carlinhos e tentar entender porque eles estão sendo reproduzidos.
O homem de verdade
Logo no começo da sequencia de Stories, Carlinhos Maia deixa claro que é homem. No entanto, nesse momento ele ainda não está falando de uma questão física. O humorista usa a a palavra "homem" como um sinônimo de integridade. Você com certeza já ouviu a expressão "homem de verdade", né? Pois é, assim como a sociedade inteira, Carlinhos também aprendeu que há homens e homens. Ele é do o verdadeiro, fiel, correto, corajoso, valente e qualquer outro tipo de adjetivo positivo. E que, "apesar de ser gay", ele ainda possui todos esses valores. O empresário está reproduzindo a base da educação que todo mundo recebe em casa. Isso é problemático? Totalmente. A culpa é dele?
Essa coca-cola escolheu ser fanta?
Carlinhos Maia chegou contar um episódio em que foi chamado de "fanta" na época da escola. Ele contou que nunca aceitou ser chamado dessa forma e que nunca quis ser chamado de outros nomes "pejorativos". Porém, vale ressaltar que ninguém quer. Como já falamos anteriormente, o mundo é sempre mais perverso para quem foge do padrão. É preciso tomar muito cuidado com a frase "não quis ser chamado", porque fica parecendo que é uma escolha. Quando na verdade, em alguns casos, não há como a pessoa "esconder" que é LGBT. Como por exemplo, meninos que são mais afeminados.
Ditadura gay!
Essa expressão é bastante problemática porque é usada por pessoas homofóbicas que acreditam que a luta por direitos LGTBs é na verdade uma disputa por privilégios. Pessoas que usam essa expressão temem que, em algum dia, ser gay seja considerado normal - Deus queira que sim, né? Fica bem evidente que Carlinhos Maia não está usando a expressão de uma forma homofóbica. Na verdade, ele está falando sobre a pressão que gays assumidos fazem naqueles que ainda não se sentem preparados para falar sobre isso. E nós precisamos dar atenção a esse debate! Todo mundo sabe que se assumir não é fácil, então porque forçar as pessoas a fazerem isso quando elas ainda não estão preparadas?
Um gay que gosta de ser homem?
Em determinado momento, Carlinhos Maia diz que as coisas não vão mudar porque ele se assumiu gay. Ele garantiu que não vai aparecer de saia ou batom a partir de agora, mas que isso não é um problema e que cada um faz o que bem entende. Depois, Maia diz que é um gay que gosta de ser homem. A frase é bem confusa, mas nós do Purebreak entendemos que ele continuará a seguir esse padrão heteronormativo. Até aí, nós concordamos com ele. Afinal, cada um faz o que bem entende, né? Mas a gente precisa voltar e entender que nós já vivemos em uma cultura que nos empurra isso. Só queremos que as pessoas façam aquilo que elas tenham vontade e não porque acreditam que é o certo.
Afeto
Muita gente reclamou das partes problemáticas do discurso de Carlinhos Maia, mas poucos se apegaram ao fato do quanto o próprio se reprimiu durante a vida inteira. Ele o namorado estão juntos há 10 anos e foram três só para o o Lucas aceitar que aquilo não era nenhum tipo de pecado. Depois, eles passaram quatro anos apenas dormindo juntos - e de roupa - porque não conseguiam se relacionar. Vocês tem noção disso? A homofobia estava tão enraizada, que eles demoraram sete anos para construir o afeto que possuem hoje.
Ele precisa ser um exemplo?
O Purerbreak já adianta que não há resposta para essa pergunta. Nós entendemos que Carlinhos Maia possui milhares de seguidores e que, de certo modo, possui um poder. Também compreendemos que ele não é uma pessoa ignorante ou que não tem como buscar mais informação. Porém, estamos falando de uma coisa muito particular e extremamente delicada. Carlinhos Maia quis respeitar o seu tempo, o dois pais e dos sogros, para que isso não fosse um problema maior quando a história se tornasse pública. Ele tá errado? Você é LGBT assumido? Qual era o seu discurso assim que você se entendeu? E como era antes? Se você está aqui no Purebreak, é bem provável que tenha acesso a todo tipo de informação. Mas você entende de todos os assuntos?
A equipe do Purebreak é formada por LGBTs e nós entendemos que o processo de se assumir não é fácil! Desejamos muito amor para Carlinhos Maia e que ele seja muito feliz ao lado do seu futuro marido. Também desejamos que ele busque conhecimento para deixar o seu discurso ainda mais libertador. Ser gay assumido não é fácil, ainda mais quando se tem muita visibilidade. A partir de agora Carlinhos Maia se torna um exemplo, querendo ou não, e a gente precisa que o seu discurso esteja alinhado com toda a comunidade para que não cause nenhum tipo de efeito negativo.