O fracasso de "Café com Aroma de Mulher" na Telecinco indica algo mais: a televisão não compreende o streaming

A queda da Telecinco em audiências não parece ter fim à vista. É preciso ver quais medidas serão tomadas após a saída de Paolo Vasile, mas está claro que o canal tem algo urgente para refletir, um verdadeiro elefante na sala. O que fazer com 'Sálvame' e com um formato incapaz de arrastar audiências para o horário nobre, como a Antena 3 faz brilhantemente.

O fiasco de 'Café com Aroma de Mulher'. A Telecinco tentou salvar suas tardes e competir com o crescente 'Y agora Sonsoles', que substituiu 'Boom' com sucesso e reafirmou o domínio das tardes da Atresmedia com 'Tierra amarga' (superando 'Sálvame Naranja' em audiências), 'Pasapalabra' (contra o qual 'Sálvame Sandía' não pode competir), 'Y agora Sonsoles', o informativo e 'El hormiguero 3.0' no acesso. Seu último e falho experimento foi encurtar Sálvame para introduzir a novela 'Café com Aroma de Mulher'.

Mas não funcionou. A Telecinco começou removendo a publicidade na faixa horária em que 'Sálvame' competia com 'Y agora Sonsoles', entre 19h e 20h. Apesar do aumento de audiência, a Mediaset apostou ainda mais, tirando duas horas de 'Sálvame' para transmitir a novela colombiana. Apenas seis dias depois, 'Sálvame' recuperou uma hora, e finalmente, duas semanas depois, a Mediaset cedeu e devolveu 'Sálvame' ao seu horário original. Em números: a Telecinco perdeu quatro pontos de participação de mercado, um declínio de 33% na audiência com uma média de 6,8%.

O impacto mais imediato foi no informativo de Pedro Piqueras, segundo a Barlovento, que caiu para 1.099.000 espectadores e uma participação de 8,3%, um declínio espetacular dos 1.446.000 espectadores de apenas duas semanas antes: 20% a menos de audiência. Uma grande diferença em relação ao informativo da Antena 3 de Vicente Vallés, que aproveitou a queda de 'Café com Aroma de Mulher' para crescer sem parar, quase 700.000 espectadores em duas semanas, alcançando 21% de participação.

A Telecinco parece ter ignorado um detalhe importante, mostrando que está ficando para trás em uma corrida audiovisual pela preeminência, na qual não só os canais abertos participam: 'Café com Aroma de Mulher' está entre os mais assistidos da Netflix desde 29 de dezembro do ano passado. Durante 26 semanas, esteve no Top 10 das séries não faladas em inglês (agora está, novamente, em 3º lugar, já que ironicamente, a transmissão na Telecinco... beneficiou a Netflix), com números notáveis como mais de 326 milhões de horas de visualização só no primeiro mês.

É absurdo pensar que a Mediaset não considerou que isso poderia afetar o desempenho da série. Em um tipo de produto que depende totalmente de gerar suspense que obrigue os espectadores a voltar dia após dia, a Netflix elimina esse incentivo: seus 88 episódios estão disponíveis há muito tempo na plataforma, e seus seguidores podem acessá-los nas condições, horários e velocidade que desejarem.

A Telecinco cometeu dois erros com todo esse assunto. Por um lado, subestimou uma concorrente que, por exemplo, nesta semana tem uma série, 'The Crown', que a Tele 5 poderia perfeitamente transmitir (ou seja, longe de ser destinada a um público jovem ou minoritário), e que acumula mais de 84 milhões de horas vistas em suas duas primeiras semanas na plataforma.

Por outro lado, como já relatamos há alguns dias, as audiências tradicionais do streaming estão começando a atingir seu limite, e é normal que as plataformas busquem outros tipos de programação para atrair um público mais velho. E, cada vez mais, graças a smart-TVs mais fáceis de usar, as plataformas estão ao alcance de um botão. A Telecinco (e não só ela) faria bem em não subestimar o potencial de canais que derrubam muitas das barreiras (horários, disponibilidade, publicidade) que até agora eram consideradas certas.