É um fato que o desempenho dos atletas nas Olimpíadas depende muito do interesse de seu país em investir nas modalidades, treinamentos e divulgação dos esportes. Infelizmente, essa não é a realidade dos brasileiros que disputam por medalhas em Tóquio. Um tweet com números tristes sobre a rotina dos atletas viralizou, chamando ainda mais atenção para essa questão.
Um levantamento do Globo Esporte confirmou os dados expostos, com números mais precisos. Dos 309 atletas brasileiros nas Olimpíadas de 2020, 231 dependem do Bolsa Atleta, incentivo que existe desde 2004 e não teve edital lançado no ano passado, para ajudar mais pessoas.
Do total, 131 não contam com patrocínios e 41 precisaram fazer vaquinha para estar no Japão. Por fim, 33 não conseguem viver só do esporte e têm outras profissões - motorista de aplicativo foi a mais citada pelos atletas.
Portanto, o tema é de grande relevância e merece atenção agora e, principalmente, depois das Olimpíadas. Pequenas ações, como doar para instituições que apoiam o esporte e votar em candidatos que se importam com a questão, são formas de ajudar os profissionais que representam o Brasil no evento esportivo mais importante do mundo.
Até o início do dia 2 de agosto, o Brasil contava com 10 medalhas nas Olimpíadas de 2020, estando em 18º lugar no ranking geral de países. O resultado surpreende quando analisamos a rotina sofrida e com tantos desafios de nossos atletas olímpicos. Não à toa, alguns dos medalhistas representam o país, mas vivem e treinam em outro lugar.
Luisa Stefani e Laura Pigossi, por exemplo, moram fora. As tenistas, que ganharam bronze trazendo a primeira medalha olímpica na modalidade para o país, vivem nos Estados Unidos e na Espanha, respectivamente. Além das meninas, Bruno Fratus, que conquistou bronze nos 50 metros livre da natação, também mora nos EUA.
Para quem vive no Brasil, a dificuldade é grande. Vitória Rosa, que foi eliminada da prova de 200 metros rasos no atletismo, desabafou sobre os desafios enfrentados no último ano. "Foi um ano muito difícil. Embora a gente esteja em uma pandemia, também estou sem patrocinador e o salário do clube foi reduzido", afirma a menina. Antes da eliminação, a jovem de 25 anos, comentou nas redes sociais sobre a falta de apoio.
Neste domingo (1º), o boxeador Herbet Sousa ficou popular após sua comemoração entusiasmada. Após derrotar seu adversário, o jovem avança para semifinal e garante, pelo menos, uma medalha de bronze. "Eu sou medalhista olímpico. Eu mereço pra caralh*. Nós trabalhamos pra caralh*! Aqui é Brasil, é Bahia, Salvador", gritou o atleta. Levando em conta todas as adversidades que eles enfrentam para estarem lá, nada mais justo sua animação.
Não é coincidência que a atleta Vitória Rosa é uma das profissionais que reclama de falta de patrocínio. De acordo com a ONU Mulheres Brasil, a realidade é ainda pior quando se é uma mulher. Além de serem a maioria sem patrocínio, os esportes femininos são constantemente desvalorizados.
Para ilustrar essa realidade, a instituição mostrou um dado chocante: na Copa do Mundo, o bônus para as equipes participantes teve grande diferença. As masculinas, que totalizaram 32 equipes, adquiriram $400 milhões de dólares, enquanto as femininas, com 24, tiveram apenas $30 milhões.
Marta, capitã do time feminino de futebol, é um dos maiores exemplos disso. A jogadora, considerada seis vezes a melhor do mundo, não tem patrocinadores. Em sua chuteira, é possível ver apenas o símbolo da campanha "Go Equal" que deseja que o esporte tenha igualdade de gênero. Assim como tantos outros atletas, Marta deseja receber o que merece pelo seu trabalho. Esse, sem dúvidas, é um dos maiores desafios para todos que vivem do esporte no Brasil.