De acordo com a narrativa explicada na introdução, acreditamos que uma pessoa só alcança sucesso e felicidade, se corresponder a um padrão específico de beleza, nem que, para isso, ela precise se submeter a estilos de vida específicos e destrutivos.
Pensando nisso, abaixo explicamos melhor sobre como os padrões de beleza funcionam na prática e quais são as consequências geradas pela incessante busca pelo corpo ideal.
Os padrões de beleza são conjuntos de normas estéticas que desejam formatar como deve ou não deve ser o corpo e a aparência das pessoas. Apesar de haver hoje em dia um grande debate sobre a importância de uma conceito de beleza que seja mais diverso e inclusivo, certas imposições parece que se intensificam com o passar do tempo e as consequências da busca por padrões de beleza se tornam cada vez mais graves.
Se os padrões mudaram ao longo da história (e sempre tiveram suas variantes regionais), hoje a influência das redes sociais praticamente globalizou por completo as formas idealizadas de estética. As milhares de influenciadoras que vendem corpos esculturais e rostos perfeitos contribuem para uma uniformização do que é a beleza.
No Brasil de 2021, o modelo fitness domina o explorar do Instagram, mas, se a rede social existisse nos anos 80, talvez seriam as magras no estilo supermodelos que invadiriam as redes. Essas diferenças quanto ao padrão de beleza imposto pela sociedade são regionais. Ao observamos o povo Karen, que vive entre a Tailândia e a Birmânia, por exemplo, vemos que a idealização de beleza, para mulheres, está em um pescoço longo, forçado por anéis metálicos a ser esticado o máximo possível. Quanto maior o pescoço, mais próxima do ideal de beleza a mulher está.
A comparação pode ser considerada um pouco absurda, mas ela é um extremo pra identificar que o padrão de beleza é uma construção da cultura, sujeito à mudanças a qualquer momento. Também é importante notar que ele, em qualquer lugar em que é hipervalorizado, vai levar a consequências drásticas de alterações do corpo, podendo gerar insatisfação, dor, angústia e problemas de saúde mental.
A popularização de um estilo de vida dito "saudável" e o mundo perfeito das influenciadoras forjou ainda mais a ideia de que o padrão de beleza pode ser alcançado. Transformações drásticas acabam se tornando comuns para homens e mulheres, e o corpo se torna um objeto para a apreciação coletiva, ao invés de um método para expressão de sentimentos e identidades.
"Há uma preocupação excessiva com o corpo. Não só em termos de cirurgias plásticas, mas a quantidade de academias, salões de beleza e de farmácias no Brasil é algo gritante quando você compara com outros países. Essa preocupação estética está naturalizada no cotidiano e não para de crescer", afirma o sociólogo especialista em Saúde Pública, Francisco Romão Ferreira, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Distúrbios alimentares são geralmente causados por pressões do padrão de beleza. Entre as causas apontadas para doenças como anorexia nervosa e bulimias de variados tipos estão o bullying e as representações midiáticas de corpos inalcançáveis. Esses distúrbios são geralmente adquiridos na fase da adolescência e desembocam em graves problemas psicológicos.
Segundo estudos publicados na revista científica Frontiers in Psychology, a contribuição desses fatores sociais é preponderante, mas também há questões neurológicas envolvidas. Tendo em vista que terapias psicológicas não foram suficientes para a resolução da maioria dos distúrbios alimentares, tratamentos psiquiátricos e pedagógicos também devem ser associados para uma resolução mais completa.
Esses padrões estão tão arraigados na nossa sociedade que mesmo o estilo de vida saudável vendido pelas influenciadoras, por exemplo, acaba sendo um reflexo de um modelo a ser seguido para a garantia de sucesso e felicidade. As influenciadoras querem mostrar o 'ideal' que foi socializado naquela pessoa. E quando isso ocorre, há um deslocamento da noção de saúde para a noção de estética.
As cirurgias plásticas e tratamentos estéticos são uma prática comum em sociedades ocidentais. O Brasil é o segundo país com mais procedimentos cirúrgicos desse tipo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Ao lado deles, Índia, China e Japão aparecem no top 5 mundial, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, na sigla em inglês).
Não existe nada de errado em realizar tratamentos estéticos ou cirurgias plásticas. Afinal, a busca por melhorias na autoestima e na aparência é válida. Porém, é essencial ter em mente os motivos que levam a essas mudanças. Os procedimentos não devem ser realizados por conta de pressões sociais, mas sim por decisões pessoais e bem-informadas.
Vale ressaltar que esses procedimentos estéticos têm seus riscos. Embora a maioria das pessoas não tenha complicações graves, quando elas ocorrem, podem ser fatais. Entre as consequências graves dos procedimentos estéticos, temos a morte por embolia pulmonar, infecções e trombose, por exemplo.
Além disso, há o risco de procedimentos mal feitos ou que não têm o resultado esperado. Afinal, ao optar por esse tipo de intervenção, é preciso considerar a possibilidade de que o resultado final seja insatisfatório, devido a procedimentos mal feitos ou a expectativas não realistas. Em alguns casos, também, os procedimentos são realizados sem a supervisão de um profissional qualificado, o que aumenta o risco de complicações.
Os padrões de beleza também influenciam o modo como vemos os outros. Ou seja, estamos constantemente comparando nosso corpo ao dos outros e nos julgando. A consequência dessa comparação constante é uma insatisfação com o próprio corpo, que leva a medidas extremas em busca de um padrão de beleza inalcançável.
É importante ressaltar que a beleza é um conceito subjetivo e relativo. Portanto, é essencial cultivar a autoestima e aceitar-se como é. Afinal, cada pessoa é única e tem suas características que a tornam especial. Ao invés de buscar um padrão de beleza inalcançável, devemos valorizar nossas qualidades e nos aceitar como somos.
Os padrões de beleza são uma realidade em nossa sociedade e é difícil escapar deles. No entanto, é possível lidar com essa pressão de maneira saudável e equilibrada. Veja algumas dicas para lidar com os padrões de beleza impostos:
Cultive a autoestima: Valorize suas qualidades e aceite-se como é. A autoestima é fundamental para lidar com os padrões de beleza impostos pela sociedade.
Evite comparações: Cada pessoa é única e tem suas características que a tornam especial. Evite comparar-se com os outros e valorize o que você tem de melhor.
Busque ajuda profissional: Se você está insatisfeito com seu corpo e acredita que isso está afetando sua saúde mental, procure ajuda profissional. Um psicólogo ou terapeuta pode ajudar a trabalhar a autoestima e a aceitação do corpo.
Informe-se: Antes de optar por tratamentos estéticos ou cirurgias plásticas, informe-se sobre os riscos e benefícios. Opte por profissionais qualificados e faça uma escolha informada.
Desenvolva um estilo de vida saudável: Adote hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas. Esses hábitos contribuem para a saúde do corpo e da mente e ajudam a lidar com os padrões de beleza impostos.
Valorize a diversidade: A beleza é um conceito subjetivo e relativo. Valorize a diversidade e aceite as diferenças. Afinal, cada pessoa é única e tem suas características que a tornam especial.
Fique longe das redes sociais: As redes sociais são uma das principais fontes de pressão para atender aos padrões de beleza. Se você se sente insatisfeito com seu corpo ao ver as fotos e vídeos dos outros, talvez seja hora de dar um tempo das redes sociais. Desconecte-se e foque em você mesmo.
Pratique a aceitação: A aceitação é a chave para lidar com os padrões de beleza impostos. Aceite-se como é e valorize suas qualidades. Lembre-se de que a beleza é um conceito subjetivo e relativo.