Pela primeira vez na história, as pesquisas por "cabelo cacheado" superam as buscas por alisamento. De acordo com o Google, a mudança é significativa: um aumento de 232% na pesquisa por fios cacheados e 309% pelos afros. Nesse movimento de aceitação e volta às raízes, um procedimento é temido e ao mesmo tempo essencial para quem quer se livrar do estereótipo do cabelo liso: a transição capilar.
Empresária à frente do Diva dos Cachos e especialista em cabelos cacheados e crespos, Amanda Marques explica que a transição capilar é o processo de retirar o alisamento dos cabelos por meio do crescimento natural dos fios e lhe dá agora estes conselhos. Acompanhe!
- A técnica pode demorar anos, envolve variantes emocionais e sociais e por isso deve ser tratada com muito cuidado e afago pelos profissionais.
"As mulheres que estão passando pela transição capilar devem receber não apenas o tratamento adequado para o tipo de cabelo, mas também precisam ser abraçadas por uma rede de apoio", pontua.
- Amanda Marques destaca que esse é um processo doloroso e que impacta diretamente na autoestima das mulheres e na forma como elas se enxergam e se reconhecem. Tamanho é o impacto dessa decisão, que muitas têm a esperança que exista algum procedimento que as faça não precisar passar pela transição.
"De fato, existem alguns produtos no mercado que prometem devolver as ondas para cabelos alisados, mas o resultado não é bom. Por isso, nosso papel é ajudar psicologicamente nesse processo longo. Muitas clientes vão ao meu salão às vezes só tomar um café e conversar com a nossa cabeleira, desabafar, pegar dicas e também se motivar ao ver diversas mulheres com seus cabelos naturais e se sentindo bonitas por isso", relata a CEO do Diva dos Cachos.
- Colocar tranças e brincar com texturizações podem ajudar a mulher a se sentir mais confortável com a própria aparência, mas a libertação vem mesmo no momento do corte, chamado de big shop.
"É uma mudança radical. A média de tempo em que as mulheres deixam o cabelo crescer para cortar é de dois anos, isso para aquelas que têm coragem de adotar o famoso chanel. As mais apegadas podem demorar até cinco anos para finalmente cortar a parte alisada e experimentar os fios naturais outra vez", conta Amanda Marques.
- A empresária explica que esse retorno aos fios naturais vem de uma mudança de comportamento da sociedade, que antes determinava que apenas cabelos lisos eram bonitos. Isso provocou uma busca incessável das mulheres em se encaixar nesse padrão, em parecerem bonitas aos olhos das pessoas, processo que está sendo revertido apenas agora.
- Muitas vezes, os alisamentos começavam quando a pessoa ainda estava na infância, em um idade de formação de suas opiniões.
"Eu alisei a primeira vez quando tinha 10 anos. Desde pequena nós, crespas e cacheadas, ouvimos que nosso tipo de cabelo é difícil, é ruim, é fuá, o bonito é ter cabelo alisado. A mídia reforçava essa ideia, desde as novelas em que a dona rica da mansão tinha cabelo liso e a empregada era cacheada, associando elegância ao tipo de cabelo. A maioria alisa por isso, por querer se sentir parte da sociedade. E caso a pessoa alise muito nova, é ainda mais difícil se reconhecer após a transição, pois não é apenas uma mudança de cabelos, é uma quebra de estereótipo, paradigmas e crenças na cabeça daquela mulher", analisa Amanda Marques.
- Entretanto, ainda há muito a caminhar. De acordo com Amanda Marques, mesmo com o movimento de aceitação do cabelo cacheado, não é toda curvatura que é vista como bonita.
"Hoje a sociedade começou a aceitar o cabelo cacheado, com uma curvatura mais aberta, mas existe um limite. O crespo, por exemplo, ainda não é aceito pela sociedade. Isso se reflete nas mulheres que nos procuram, as que tem uma curvatura muito fechada ou que os cachos não têm a definição esperada, querem passar por procedimentos para abrir os cachos. Um padrão substituindo o outro", denuncia.