Livre. Persistente. Mulherão da P****. Florescimento. Livre, de novo. Foram estas as palavras usadas pelas cinco meninas entrevistadas para definir a si mesmas depois da transição capilar. Júlia, Bruna, Thaynara, Larissa e Anelise pararam para contar um pouco de suas histórias ao Purebreak. E já podemos adiantar que não, o processo não é nada fácil. Mas representa um divisor de águas na vida de cada uma.
Volta e meia a gente vê uma famosa falando a respeito e encorajando meninas por aí. Mas, ainda assim, o Purebreak sabe que é difícil dar o primeiro passo, né?! Por isso, entrevistamos cinco meninas, entre 19 e 24 anos, que, podem, de uma maneira ou de outra, servir de inspiração para você que está lendo esta matéria. Afinal, você não está sozinha.
Júlia Cruz tem 19 anos e é de Três Rios (RJ). Só agora está conhecendo o seu cabelo de verdade. A estudante de Psicologia decidiu aderir à transição pouco antes da sua formatura no Fundamental, em 2017. Já são quase dois anos nesse processo, mas agora, ao final, Júlia garante que está se sentindo muito mais livre e bonita.
"O processo em si tá sendo cansativo. Minha raiz é crespa então pra mim foi uma grande dificuldade porque eu passava um bom tempo usando várias técnicas pra igualar o cabelo e eu me recusava a usar a chapinha. Eu me senti, por vários meses, bonita; depois eu me sentia aflita e queria que acabasse logo, fiquei com medo de não ter o cabelo do jeito que eu imaginava. Agora, eu tô praticamente no final, me sinto bem mais livre e feliz, primeiro por ter aguentado passar por isso tudo e segundo por estar me sentindo bem mais eu, bem mais bonita, bem mais livre", contou.
Se fosse escolher duas palavras para definir a si mesma, "pressionada" seria a Júlia antes da transição e "livre", a Júlia depois do processo.
Bruna Vilar, da Vila da Penha (RJ), também está enfrentando o processo de transição capilar. A estudante de Jornalismo está há oito meses sem fazer progressiva no cabelo. Mas essa não é a primeira vez que Bruna tenta largar a chapinha.
"Decidi parar em 2014, quando não aguentava mais ver meu cabelo quebradiço pela química e tava cansada de fazer retoque na raiz: o hidróxido de sódio causa algumas feridas no couro cabeludo e deixa o cabelo poroso e estático, duas características que me faziam odiar meu visual na época. Eu voltei a fazer químicas depois desse período, mas foi nesse momento que olhei no espelho e falei: "não quero mais!", contou a jovem de 20 anos.
Apesar de ter cortado as químicas no cabelo, Bruna admitiu que ainda não consegue assumir a raiz. "Ainda não consigo assumir a raiz como ela está e uso muito secador pra abaixar o cabelo e conseguir sair de casa pra ir à faculdade e ao estágio. Há um mês, mais ou menos, fiz uma cauterização pra abaixar o volume e conseguir terminar o processo sem recorrer a medidas mais drásticas, como o alisamento da progressiva".
Segundo a estudante, as palavras "influenciável" e "livre" definem a Bruna de antes e durante o processo, respectivamente.
Thaynara Firmiano, de 24 anos e moradora de Irajá (RJ), já finalizou o processo de transição capilar. A decisão veio no meio do ano de 2017, embora não fizesse progressiva desde janeiro. "Eu finalizei a transição em fevereiro deste ano, quando fiz meu último big chop. O primeiro eu fiz em outubro de 2018. Foi um dia extremamente feliz. Eu me vi renovada". contou.
Pra quem não sabe, o "big chop" é um tipo de corte que tira a parte alisada dos fios. É ideal para quem adere à transição capilar e não quer ficar com uma parte do cabelo lisa e outra ondulada.
O processo não foi fácil, tanto que começou escondido, sem comentar com ninguém. Mas, felizmente, Thaynara pôde contar com os incentivos da namorada, hoje sua atual esposa. "Durante o processo, também tem o fato de que eu decidi fazer a transição para ser exemplo pra uma prima minha. Ela tem nove anos, é negra e tem dificuldade de se aceitar. Então, como ela me vê como exemplo, eu decidi que preciso mostrar o quanto ela é bonita com o cabelo natural, a pele e tudo.. Atualmente eu só continuo arriscando nas pinturas mesmo. Eu gosto de mudar a cor, mas não quero nem pensar em alisamento", disse.
Antes Thaynara se sentia "padronizada" e hoje, finalizada a transição, "livre".
Larissa Rios, de Nova Iguaçu (RJ), tem 19 anos e já finalizou o processo de transição capilar. A decisão veio quando tinha 14 anos e o fato de estar no auge da adolescência, no primeiro ano do Ensino Médio, tornou o processo ainda mais difícil. Mas a estudante de Jornalismo tinha na mãe, que estava encarando a transição, a sua maior referência.
No entanto, não era o cabelo crespo que Larissa queria quando decidiu deixar o alisamento de lado. Durante um ano, Larissa fez permanente afro para simular um cabelo cacheado. Aos 15, decidiu deixar o cabelo crescer, sem fazer nada para, enfim, fazer o primeiro big chop.
"Mudou completamente a minha vida, a minha autoestima", contou. "Eu sempre me vi como uma pessoa negra, mas me ajudou muito a afirmar minha negritude porque é muito diferente você se ver como uma pessoa negra até você achar bonito ser negro. Foi muito importante pra mim entender que o cabelo crespo é um cabelo bonito e isso tudo começou lá com a minha mãe, vendo o cabelo dela. Hoje eu tenho a liberdade de usar meu cabelo do jeito que eu gosto, mas com a forma dele, com essa curvatura. Tenho o cabelo tipo 4A e eu amo meu cabelo tipo 4A", completou.
Para a estudante, a transição capilar foi como um processo de metamorfose. Antes, ela vivia num casulo, presa e, hoje, com o cabelo natural, se transformou numa verdadeira borboleta. Em outras palavras, um mulherão!
A estudante de Jornalismo Anelise Gonçalves, também já encerrou o processo e hoje já pode desfrutar dos fios naturais. Tudo começou em novembro de 2014, quando sua cabeleireira não tinha horário para alisar suas madeixas. Foi aí que decidiu encarar o desafio que a deixaria bem mais madura. "Eu comecei a buscar formas de como tratar o cabelo em si e não do quão feio ele ia ficar. Enfrentei a transição por mais ou menos um ano e aí depois ele foi crescendo", contou.
"Eu sempre tive muito problema em aceitar o meu cabelo. Eu sempre tive muito problema em me aceitar. 2014 foi o ano que mudou minha vida mesmo. Acho que se fosse hoje eu não teria a mesma coragem que tive antigamente", admitiu. "Às vezes eu me olhava no espelho e me achava horrível, mas foi um processo que ao mesmo tempo cresceu meu cabelo e eu cresci junto", concluiu.
"Medo" foi a palavra que a moradora de Ricardo de Albuquerque (RJ) escolheu para definir a Anelise de antes da transição. Já "Florescimento" é a palavra que mais a representa hoje, com seus cachos.
Transição capilar é isso, né?! Um passo de cada vez. E aí, já resolveu quando vai dar o seu?!