"Abracadabra 2": entre a nostalgia e a magia, filme feminista critica a cultura da beleza
Publicado em 29 de setembro de 2022 às 16:19
Por João Maturana
Na era dos remakes, reboots e sequências, a Disney mostrou que está investindo em peso em produzir títulos a partir de filmes e séries que marcaram uma geração. Por isso, era impossível que o estúdio ignorasse "Abracadabra", um dos maiores sucesso dos anos 1990. O Purebreak já conferiu o longa que fala sobre cultura da beleza, feminismo, patriarcado e muitas questões atuais importantes. Confira a nossa crítica!
"Abracadabra 2" dá resposta ao filme original e aborda feminismo, crítica ao patriarcado e sororidade "Abracadabra 2" dá resposta ao filme original e aborda feminismo, crítica ao patriarcado e sororidade© Divulgação, Disney
Irmãs Sanderson estão de volta com um novo objetivo em "Abracadabra 2"
Wini (Bette Midler) decide se tornar uma bruxa poderosa ao lado das suas irmãs Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy) em "Abracadabra 2"
"Abracadabra 2": sob filtro da Geração Z e após conquistas do feminismo, sequência do clássico dos anos 1990 acerta ao abordar temas importantes
"Abracadabra 2" critica mito de que a coisa mais importante para mulheres bruxas é buscar juventude eterna para continuarem bonitas
Entre a nostalgia e a magia, "Abracadabra 2" respeita clássico original, enquanto se mostra aberto para o futuro
"Abracadabra 2" entrega uma boa comédia, atuações impecáveis de Bette Midler, Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy e conta com uma trilha sonora que dramatiza o terror
Busca por poder e ter com quem compartilhá-lo é o que move as bruxas em "Abracadabra 2"
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"Abracadabra" foi extremamente marcante para as crianças dos anos 1990 e todas aquelas que assistiram o filme anos depois. Até hoje, o visual das bruxas, os efeitos especiais e a forma como ele marcou o Halloween são referenciados. Quando a Disney anunciou que revisitaria o clássico quase 30 anos mais tarde, muites tiveram dificuldade de entender o motivo para isso. Nós, que já assistimos ao longa, viemos assegurar que essa dúvida é respondida com a história brilhante, atual e revolucionária retratada pela continuação da produção.

Em "Abracadabra 2", que se passa 29 anos depois da versão original, as irmãs Sanderson conseguem retornar a Salem em busca de vingança depois que alguém acende a Vela da Chama Negra na véspera do Dia de Todos os Santos. Para tentar salvar as pessoas que amam, Becca (Whitney Peak) e Izzy (Belissa Escobedo) se unem para impedir os planos de Wini (Bette Midler) Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), mas acabam tendo muitas surpresas e se reencontram com uma antiga amiga durante essa jornada.

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"Abracadabra 2" reflete a sociedade atual e responde clássico

O retorno do trio de bruxas mais querido da cultura pop tem um objetivo: responder criticamente os pontos principais do clássico de 1993. "Abracadabra 2" não nega o seu passado, mas mostra como o tempo voou e o mundo evoluiu.

Seja revelando a origem dos poderes das antagonistas nos tempos medievais ou colocando a nova geração de garotas para bater de frente com as mais antigas, o filme acerta em cheio em mostrar como uma história sobre bruxas deve ser contada hoje em dia - sob o filtro da Geração Z e em uma era que se passa após tantas conquistas do movimento feminista.

Sem entregar tantos spoilers, podemos dizer que mesmo homens cisgêneros que detém todos os seus privilégios - como este que vos escreve - conseguem reconhecer os acertos que o feminismo trouxe para a sociedade e a forma como isso se reflete na continuação de "Abracadabra". Se antes a busca das bruxas era por juventude eterna, agora elas querem poder e, mais do que isso, a chance de terem suas irmãs ao seu lado.

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Sequência de "Abracadabra" critica patriarcado e cultura da beleza

Dentro disso, o título critica tudo aquilo que as vilãs da história original buscam. Aqui, o que importa para as bruxas não é garantir o velho e batido mito de que as mulheres que conseguem dons mágicos vão atrás de juventude eterna, como se esconder suas idades fossem os únicos - e mais urgentes - objetivos femininos. E pra que magia, se já temos toda uma indústria voltada a perpetuar o patriarcado ao reforçar a necessidade imposta de que meninas precisam ser belas a todo custo?

Dando razão para um dos lemas mais celebres da obra de 1993, conhecimento realmente pode ser mais forte e poderoso que magia. Em um mundo que está cercado de produtos voltados para a indústria da beleza e que cultua padrões cada vez mais inatingíveis, nem mesmo dons mágicos são o suficiente para manterem o ideal buscado pelas pessoas. Por essas questões, a premissa é batida. Então, o novo objetivo de Wini e suas irmãs é outro: poder.

Quebrando promessas e deixando para trás um passado para dar lugar ao futuro - como resume bem uma cena muito divertida em que as "originais" perdem um concurso de fantasia de se vestirem como elas mesmas para um grupo de jovens -, a busca para se tornar uma bruxa absurdamente poderosa é o que move Wini. Ainda que a personagem de Bette Midler não se preocupe em saber o custo para o que tanto deseja.

Feminismo, sororidade e o sagrado feminino

Por fim, a mensagem que "Abracadabra 2" quer passar é clara, genial e importante. Os tempos mudaram e os valores também. Não dá mais para contarmos a mesma história sobre temas voltados aos interesses masculinos, enquanto o universo feminino já se emancipou. Elas têm suas próprias narrativas.

Colocando uma cereja no bolo com toque de magica, a história decide bravamente explorar outras camadas dessa temática. A continuação defende que a coisa mais importante não é o poder para as mulheres, mas sim o que elas fazem com ele e, além disso, quem está do seu lado para usá-lo. Assim, ela fala abertamente sobre sororidade e exalta o sagrado feminino, sem que isso se dê de forma panfletária ou extremamente expositiva.

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"Abracadabra 2" é um dos filmes mais feministas do ano

Com boas doses de comédia, o mesmo brilhantismo das atuações de Midler, Parker e Escobedo que o sucesso dos anos 1990 e acompanhado de uma trilha sonora que dramatiza todo o terror que o longa se diverte tentando explorar, "Abracadabra 2" se coloca como um dos filmes mais feministas do ano e mostra como um grande estúdio como a Disney pode acertar ao querer explorar mais a fundo uma trama já conhecida.

Entre a nostalgia e a magia, "Abracadabra 2" respeita seu passado e abre os braços para o futuro. Aceitando despedidas, o título demonstra coragem ao refletir tudo aquilo que a gente já conhece, ao mesmo tempo que ressignifica um conto que de infantil não tem nada. Se nos anos 1990 o maior terror poderia ser a caracterização horrenda das antagonistas, agora o verdadeiro vilão foi finalmente desmascarado e prova que sempre esteve lá.

Só que diferente de "Abracadabra", na vida real ainda não há palavra mágica para acabar com um mundo dos homens. Além disso, quem quer que o combata está a mercê de ser reconhecida como uma bruxa, mas o que o título realmente te faz questionar é: o que tem de ruim nisso?


"Abracadabra 2" estreia no dia 30 de setembro no serviço de streaming Disney+.

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Filmes e Séries Filme Cinema Crítica