Uma nova adaptação de "Gossip Girl" está tendo episódios lançados toda quinta-feira no serviço de streaming HBO Max. A trama aborda uma nova geração da elite do Upper East Side, em Nova York, nos EUA. E, se por um lado o novo seriado conta com muito mais representatividade e visuais inspirados no momento atual, por outro, ele já foi envolvido em diversas polêmicas nada legais.
Primeiro, já é bem esquisito que professores formados achem aceitável criar uma conta para fazer bullying com seus alunos, né? Tudo bem que a identidade da Gossip Girl da produção original não agradou muito os fãs, mas a atual realmente é melhor? Com mais idade, experiência, maturidade e o fato de, literalmente, terem mais o que fazer, é bem estranho e inapropriado eles assumirem o legado da blogueira, ainda mais usando o desabafo dos alunos como material para os posts. Faltaram a aula de ética na faculdade?
Mas esse nem é o pior exemplo de relação entre professor e aluno problemática na história. Max Wolfe (Thomas Doherty) se mostra interessado no Sr. Caparros (Jason Gotay) desde o início da trama. O educador chega a frequentar os mesmos espaços que seu aluno, até sem roupa, como se isso fosse algo muito normal. É claro que nossa cultura é bem diferente da realidade da elite do Upper East Side, mas em algum lugar dos Estados Unidos - ou do mundo - é ok um professor ficar pelado com os alunos?
Para deixar tudo ainda mais complicado, no episódio da quinta-feira passada (29), os flertes entre eles chegam ao ápice e os dois consumam a relação. Max é maior de idade, mas isso justifica um professor de ensino médio se envolver com alguém da sua turma?
Essa não é a primeira vez que uma relação amorosa/sexual entre estudantes e corpo docente gera polêmica no mundo das séries. A atriz Lucy Hale revelou, em uma entrevista para o talk show de Demi Lovato, que passou a considerar melhor seus trabalhos após viver Aria, uma adolescente que se envolve com Ezra (Ian Harding), um professor, em "Pretty Little Liars". Na época, mesmo com mães fazendo boicotes contra o seriado, Hale, nos seus 21 anos, achava que ele era apenas um professor gato. "Agora sou mais cuidadosa com os papéis que interpreto e as coisas que escolho fazer porque tem um impacto grande nas pessoas e nas decisões que fazemos na vida", revelou.
Para uma história que aparenta ser tão progressista e levanta temas como feminismo e críticas ao patriarcado, é bem curioso o humor ácido da produção, principalmente contra mulheres famosas. A influenciadora digital Olivia Jade foi uma das vítimas que respondeu à referência da série. Em um episódio, uma das personagens afirma que Jade teria conseguido seguidores por conta da sua mãe ter sido presa. Pesado, né?
A alfinetada se baseia no escândalo em que a mãe de Jade, a atriz Lori Loughlin, teria se envolvido, acusada de oferecer propina a instituições de ensino superior para que suas filhas conseguissem vagas. Mas, na verdade, a polêmica fez com que Olivia perdesse vários contratos, não sendo algo positivo, como o seriado tentou mostrar. Depois, a influenciadora até gravou um vídeo para o TikTok respondendo à cena, afirmando: "Não, eu não consegui".
E ela não foi a única a ser citada. No quarto episódio da série, o nome da atriz Jameela Jamil vem à tona, quando estão falando sobre o cancelamento de Julien (Jordan Alexander). Anunciando uma piora na situação, uma de suas amigas a alerta, com um tom de desprezo: "Jameela Jamil acabou de te defender". A atriz, que será a vilã de "She-Hulk", levou na esportiva e postou um tweet zoando a situação: "Desculpa Julien!".
E uma pessoa que não gostou nada de como a trama à referenciou foi Suki Waterhouse. Quando Luna (Zión Moreno) explica para Zoya (Whitney Peak) como seus colegas a enxergavam, ela explica: "Quando você vai entender isso? Até onde a imprensa sabe, ele é R-Patz e você é Suki Ninguém".
A modelo e atriz não curtiu ser reduzida à namorada irrelevante de Robert Pattinson. Waterhouse até criticou a série pelo Twitter, mas logo depois apagou. Na postagem, ela dizia: "Outro dia para ser lembrada que mulheres também podem ser o patriarcado", e ainda marcou o perfil oficial do seriado e a roteirista Lila Feinberg. Em seguida complementou: "Vendo críticas ao patriarcado e ao sexismo e então ser referida como a namorada "ninguém" de alguém. Faça isso fazer sentido!"
Julien e Zoya são irmãs, mas tem uma grande rivalidade entre elas. Mesmo parecendo ser mais evoluída que o seriado que estreou em 2007, a trama ainda preza pela velha e ultrapassada rivalidade feminina (que muitas vezes nem faz tanto sentido). Tudo bem que brigas por crushes no Ensino Médio são comuns e adolescentes nem sempre precisam saber de todos os problemas da sociedade e como combatê-los. Mas o problema do enredo é trazer a mesma concorrência entre elas em basicamente todo episódio, terminando sempre com um pedido de desculpa ou uma fraca reconciliação.
Se compararmos com a produção original, Blair (Leighton Meester) e Serena (Blake Lively) não tinham receios em ultrapassar todos os limites em sua amizade, mas, mesmo assim, faziam as pazes de modo significativo. Os produtores sabiam balancear bem os conflitos, de forma a levar a trama adiante, mesmo que, olhando agora, podemos perceber que a narrativa de colocar duas mulheres incríveis para brigar já saiu de moda.
A adaptação que estreou em 2021, por outro lado, traz uma repetição um tanto cansativa. E, mesmo com mais personagens no núcleo principal, suas histórias são deixadas bem de lado para dar espaço ao conflito quase sempre pelo mesmo motivo entre Zoya e Julien.
Outro ponto que precisa ser falado na série são as amizades tóxicas de Julien. Se teve uma coisa que a produção original sabia fazer era relacionamentos nada saudáveis. Chuck (Ed Westwick) e Blair, a Queen B com Serena, entre tantos outros.
Mas isso não ficou para trás no reboot. Nele, vemos uma relação bem nociva entre Luna, Monet (Savannah Lee Smith) e Julien. Mentiras, pressão psicológica e incentivo para levar a protagonista a um posto cruel movem sua amizade, que só existe por conta do interesse de serem populares e notadas.
A irmã de Zoya, na verdade, nem é tão vilã assim, mas com amigas como essas ao lado, ela encarna sua pior versão.
A grande diferença de idade entre o elenco e seus personagens é mais um ponto a ser discutido. Sejamos honestos, Hollywood ama uns mais velhos em papéis de adolescente, mas isso não significa que seja algo bom. Jordan Alexander tem 29 anos e sua personagem 17. Já Tavi Gevinson, que interpreta a professora Kate Keller, tem só 25 e sua personagem é bem mais velha.
A atriz que interpreta Zoya, por outro lado, tem 19 anos, enquanto sua personagem, 15. E convenhamos que é bem estranho uma menina dessa idade envolvida num meio tão tóxico, como a elite do Upper East Side, onde Julien, de apenas 17 anos, já experimenta cocaína e outras drogas.