O que as comédias românticas dos anos 2000 nos ensinaram de errado?
Publicado em 18 de março de 2022 às 18:13
Por Luísa Silveira de Araújo
"De Repente 30", "Como Perder um Homem em 10 dias", "10 Coisas que Odeio em Você"... Temos várias comédias românticas icônicas dos anos 2000. E todas elas têm algo em comum: uma mulher independente, bem resolvida, mas que precisa do amor para ser feliz. Baseado em post de Carla Lemos, tentamos entender por que isso acontece e quais são as consequências para quem assiste.
O que as comédias românticas dos anos 2000 nos ensinaram de errado?
Comédia romântica dos anos 2000 e as lições erradas sobre amor
As comédias românticas dos anos 2000 - como "De Repente 30" - mostram mulheres quase completas
Trabalho, família, amigues... Nada importa se elas não tiverem um relacionamento amoroso
Nas comédias românticas, mulheres bem sucedidas ainda são incompletas sem um homem
Em "10 Coisas que Eu Odeio em Você", Kat (Julia Stiles) nem queria um namorado
"O Diário de Bridget Jones" tem gordofobia e machismo até não poder mais
Mais representatividade: os cenários das comédias românticas estão mudando
A comunidade LGBTQIAP+ também se apaixona, né? Apesar disso não ser mostrado em comédias românticas
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Pense nas protagonistas de suas comédias românticas preferidas. Andie Anderson (Kate Hudson) em "Como Perder um Homem em 10 Dias" é uma jornalista competente e solteira bem resolvida, que só fica verdadeiramente feliz quando abre o seu coração para Benjamin (Matthew McConaughey). Já em "De Repente 30", a versão mais velha de Jenna (Jennifer Garner) se vê em uma furada, tendo comportamentos que ela mesma não aprova. Mas, ao fim, ela fica com o melhor amigo e tudo é perfeito.

A gente entende que o gênero de comédia romântica prevê o amor. Mas um post de Carla Lemos sobre os filmes dos anos 2000 e a forma com que o feminismo era retratado nos roteiros nos fez perceber: o romance não era apenas uma parte da vida das personagens, mas sim, a grande prioridade.

O feminismo contraditório dos anos 2000

Qualquer comédia romântica dos anos 2000 (e muitas atuais ainda) mostram uma mulher complexa. Ao tempo em que ela é independente, tem sua própria carreira, amigues, sabe o que quer para a vida e é muito madura, sente um vazio constante já que não encontra amor. Ou seja, a felicidade está apenas no relacionamento romântico e, até lá, nada vai ser suficiente.

Um exemplo é Kat (Julia Stiles) de "10 Coisas que eu Odeio em Você". Ela não quer um homem, não tem paciência para os meninos da sua escola e está decidida sobre o que vai fazer quando se formar. Mas, para os outros, ela é apenas uma solteirona (sendo que a menina só tem 18 anos) ressentida e mal-humorada. Quando ela se apaixona por Patrick (Heath Ledger), ela se torna mais alegre e fácil de lidar. Ele a muda por completo - mesmo não sendo um cara tão legal no começo.

O mesmo acontece em vários filmes. Não importa a idade, o contexto e a vivência da personagem, o foco é na busca do amor. Mais uma vez, não estamos dizendo que isso não tem seu valor - afinal, queremos ver o romance. É apenas uma observação como a mesma mulher, que não precisa de ninguém para se sustentar e fazer as suas escolhas, vive atrás de um namorado perfeito, que a ame mais do que qualquer pessoa. No filme, elas sempre acham, já na vida real...

As consequências das mulheres "meio" independentes

Os filmes, séries e músicas que consumimos são produto da sociedade em que vivemos, mas ao mesmo tempo, nos molda para que tenhamos esses pensamentos padrões. Como resultado, por muitos e muitos anos, criamos meninas com um pensamento "meio feminista". Ao mesmo tempo em que elas deveriam ter a sua carreira e independência, precisam ter um homem ao seu lado - e, por favor, ganhar menos do que o parceiro, para não ferir o seu ego.

Assim, muitas mulheres têm dificuldade em ficarem sozinhas, mesmo que não precisem da ajuda de ninguém. Uma pesquisa divulgada pelo veículo Time mostrou em 2019 que as mulheres têm mais chances de estarem em um relacionamento amoroso do que um homem. E esses mesmos homens, segundo a matéria, têm mais tendência a morarem com os pais depois de adultos e não alcançarem a independência financeira.

Ou seja, melhor mal acompanha do que sozinha? Como não existem homens que nem os das comédias românticas - e, em alguns casos, isso é até bom - a busca se torna eterna e, na pressa de arranjar alguém, muitas acabam com pessoas que nem valem a sua atenção ou o seu tempo.

Outros erros fatais das comédias românticas

Falamos que os homens das comédias românticas não são reais, mas, na verdade, quase nada é. O elenco é, em sua maioria, branco, formado por pessoas magras, sem deficiência e dentro de todos os padrões estéticos. Também não é uma possibilidade termos uma protagonista LGBTQIAP+. Ela precisa ficar com o mocinho, mesmo que a sua colega de trabalho, por exemplo, seja muito mais interessante.

Então, ao mesmo tempo em que esses filmes dos anos 2000 deram passos importantes na hora de mostrar mulheres ganhando seu próprio dinheiro, conquistando um espaço digno no mercado de trabalho e com maior liberdade sexual para transar (ou não) com quem quiser, o roteiro ainda tem muitas falhas.

Por sorte, isso está mudando! Cada vez mais, vemos pessoas diversas nas telinhas, fazendo com que o público tenha mais chances de realmente se identificar com aquela história. A Netflix, por exemplo, lançou sua primeira comédia romântica com um protagonista gay, em "Um Crush Para o Natal", no ano passado.

Afinal, o romance é para todes, já as relações falidas das comédias românticas dos anos 2000 podem ficar por lá, assim como as calças de cintura baixa.

Palavras-chave
Comportamento Feminismo Relacionamentos Filmes e Séries Filme