Não é novidade que ser mulher no Brasil não é uma tarefa fácil. Além de toda a responsabilidade que é jogada em cima delas, ainda precisamos destacar os casos de violência. Em 2019, o país teve o aumento de 7,3% no número de feminicídios. Foram 1.314 mulheres mortas apenas por serem mulheres. A situação, que já é grave, fica ainda pior quando falamos de mulheres negras, transexuais e travestis.
A vida de mulheres trans e travestis já é complicada pelo simples fato de precisarem estar o tempo inteiro lutando pela sua existência. Apesar de já ser possível enxergar uma mudança, o caminho para se distanciar de toda essa marginalização ainda é longo. De acordo com o relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), em 2020 foram 175 assassinatos de pessoas trans no país, o que equivale a uma morte a cada dois dias.
Isso faz com o que o Brasil se mantenha na posição de país que mais mata transexuais no mundo, segundo os dados da ONG Transgender Europe (TGEU). E a própria Antra faz questão de ressaltar no relatório que não há interesse do poder público em realizar esse tipo de levantamento e isso acaba gerando a subnotificação desses crimes. Ou seja, é provável que esse número de mortes seja ainda maior.
De acordo com o último relatório da Antra, este é o perfil de pessoas trans assassinadas no Brasil em 2020: 56% tinham entre 15 e 29 anos; 78% eram negras; 77% das mortes tinham requintes de crueldade; 72% eram profissionais do sexo; 47% foram mortas a tiros; 72% não conheciam os suspeitos e 71% dos crimes aconteceram em locais públicos, desde de ruas até terrenos abandonados. Com todos esses dados é possível compreender que estamos falando de crimes de ódio, onde o assassino tem aversão às vítimas.
Lidar com a família é sempre a parte mais dolorosa para quem é LGBTQIA+. Afinal, nem sempre os parentes estão dispostos a entender ou simplesmente não aceitam. Para muitas pessoas trans e travestis, a situação fica mais complicada quando o processo de transição se inicia. Com a rejeição da família, essas mulheres são expulsas de casa e, consequentemente, empurradas para uma vida marginalizada.
De acordo com o Mapa da Violência de Gênero, projeto da Gênero e Número, entre 2014 e 2017, o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) recebeu 12.112 registros de violência contra pessoas trans - transexual mulher, transexual homem ou travesti. Em 2017, 76% dos registros feitos eram de violência física. Em média, chegaram 11 casos de violência contra pessoas trans por dia em 2017.
Ainda de acordo com os dados coletados pela pesquisa da Gênero e Número, a própria residência é um dos lugares mais perigosos para trans e travestis. Entre os anos de 2014 e 2017, 49% das agressões a esse grupo aconteceram quando essas pessoas estavam eu suas casas. O problema é que na rua essa situação fica ainda pior, principalmente para mulheres trans e travestis. O Sinan também revela que elas são 80% do total de vítimas trans que procuraram o sistema de saúde entre 2014 e 2017.
Apesar da triste realidade que ainda assombra a vida de muitas transexuais e travestis, há um cenário otimista. Em 2020, 30 pessoas trans foram eleitas no país, entre elas a vereadora Erika Hilton, de São Paulo, que acabou se tornando a vereadora mais votada do Brasil. Pode parecer pouco, mas em um cenário onde a expectativa de vida de transexuais e travestis é de 35 anos, esse pode ser o primeiro passo para imaginarmos uma vida sem transfobia.