Como é ser mulher trans e travesti no Brasil? Dados são alarmantes, mas há esperança
Publicado em 12 de março de 2021 às 18:58
Por Purebreak
O Brasil, infelizmente, ocupa o topo da lista de países que mais mata pessoas trans e travestis. Ou seja, se ser uma mulher cis por aqui já é difícil, imagina para transexuais. A expectativa de vida dessas pessoas ainda é de 35 anos e há um longo caminho para que essa parcela da população deixe de ser marginalizada. Mesmo assim, já é possível acreditar que estamos caminhando para uma sociedade menos desigual.
Dados revelam como é ser mulher trans e travesti no Brasil Dados revelam como é ser mulher trans e travesti no Brasil© Getty Images
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Não é novidade que ser mulher no Brasil não é uma tarefa fácil. Além de toda a responsabilidade que é jogada em cima delas, ainda precisamos destacar os casos de violência. Em 2019, o país teve o aumento de 7,3% no número de feminicídios. Foram 1.314 mulheres mortas apenas por serem mulheres. A situação, que já é grave, fica ainda pior quando falamos de mulheres negras, transexuais e travestis.

Brasil é o país que mais mata transexuais

A vida de mulheres trans e travestis já é complicada pelo simples fato de precisarem estar o tempo inteiro lutando pela sua existência. Apesar de já ser possível enxergar uma mudança, o caminho para se distanciar de toda essa marginalização ainda é longo. De acordo com o relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), em 2020 foram 175 assassinatos de pessoas trans no país, o que equivale a uma morte a cada dois dias.

Isso faz com o que o Brasil se mantenha na posição de país que mais mata transexuais no mundo, segundo os dados da ONG Transgender Europe (TGEU). E a própria Antra faz questão de ressaltar no relatório que não há interesse do poder público em realizar esse tipo de levantamento e isso acaba gerando a subnotificação desses crimes. Ou seja, é provável que esse número de mortes seja ainda maior.

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Perfil das vítimas

De acordo com o último relatório da Antra, este é o perfil de pessoas trans assassinadas no Brasil em 2020: 56% tinham entre 15 e 29 anos; 78% eram negras; 77% das mortes tinham requintes de crueldade; 72% eram profissionais do sexo; 47% foram mortas a tiros; 72% não conheciam os suspeitos e 71% dos crimes aconteceram em locais públicos, desde de ruas até terrenos abandonados. Com todos esses dados é possível compreender que estamos falando de crimes de ódio, onde o assassino tem aversão às vítimas.

Violência começa em casa

Lidar com a família é sempre a parte mais dolorosa para quem é LGBTQIA+. Afinal, nem sempre os parentes estão dispostos a entender ou simplesmente não aceitam. Para muitas pessoas trans e travestis, a situação fica mais complicada quando o processo de transição se inicia. Com a rejeição da família, essas mulheres são expulsas de casa e, consequentemente, empurradas para uma vida marginalizada.

De acordo com o Mapa da Violência de Gênero, projeto da Gênero e Número, entre 2014 e 2017, o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) recebeu 12.112 registros de violência contra pessoas trans - transexual mulher, transexual homem ou travesti. Em 2017, 76% dos registros feitos eram de violência física. Em média, chegaram 11 casos de violência contra pessoas trans por dia em 2017.

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Ainda de acordo com os dados coletados pela pesquisa da Gênero e Número, a própria residência é um dos lugares mais perigosos para trans e travestis. Entre os anos de 2014 e 2017, 49% das agressões a esse grupo aconteceram quando essas pessoas estavam eu suas casas. O problema é que na rua essa situação fica ainda pior, principalmente para mulheres trans e travestis. O Sinan também revela que elas são 80% do total de vítimas trans que procuraram o sistema de saúde entre 2014 e 2017.

Estamos caminhando para uma mudança?

Apesar da triste realidade que ainda assombra a vida de muitas transexuais e travestis, há um cenário otimista. Em 2020, 30 pessoas trans foram eleitas no país, entre elas a vereadora Erika Hilton, de São Paulo, que acabou se tornando a vereadora mais votada do Brasil. Pode parecer pouco, mas em um cenário onde a expectativa de vida de transexuais e travestis é de 35 anos, esse pode ser o primeiro passo para imaginarmos uma vida sem transfobia.

Palavras-chave
Comportamento Diversidade LGBTQIAP+