Você já ouviu falar em colorismo? Este é um debate mega importante dentro do movimento negro, pois seus desdobramentos refletem em uma série de fatores como o racismo, acesso à oportunidades e até na reafirmação da própria negritude. Justamente por isso que, em conversa com Kauê Vieira, editor assistente do Hypeness, e da dona do perfil @superagabi, Gabriela Willer, o Purebreak resolveu trazer a questão à tona no mês da #ConscienciaNegraPRBK.
De maneira simplificada, o colorismo quer dizer que a discriminação racial, até entre as pessoas de pele negra, também pode ter como motivo a pigmentação da pele. O termo surgiu em 1982 com a escritora Alice Walker, indicando que quanto mais escuro for o tom de pele, mais racismo a pessoa tende a sofrer. O motivo? As tentativas insistentes de aproximação com o branco europeu.
O Brasil é um país miscigenado, tendo a maior parte da população parda (nomenclatura utilizada pelo IBGE). Isso significa que há uma inúmera variedade não só de tons de pele, como de características físicas. Portanto, na realidade, quanto mais traços "brancos" uma pessoa negra tiver, maiores as chances de terem mais oportunidades. Em muitos casos, é partir daí que surge a dificuldade de uma pessoa negra se reconhecer e se reafirmar negra.
Para Kauê Vieira, há uma explicação. "A questão da exclusão das pessoas negras retintas, de pele mais escura, se dá pela tentativa inexistente do Brasil de apagar as expressões negras. E isso vem desde sempre porque o Brasil é sim um país miscigenado, mas isso não acontece com o glamour e com a doçura que é pintada por aí. Isso é fruto de abusos sexuais com mulheres negras escravizadas. Esse é o ponto de partida da miscigenação. O fato de pessoas negras de pele clara terem mais espaço, terem mais oportunidades, se dá pelo racismo, pela visão racista que paira nos veículos de comunicação", afirmou.
É bom lembrar que não é por isso que as pessoas negras de pele clara não sofrem racismo. "Eu não culpo as pessoas negras de pele clara porque acho que há uma baita reflexão entre elas sobre o espaço que ocupam na sociedade", completou Kauê.
E de fato há. A jornalista e dona do perfil @superagabi, Gabi Willer conta como o tom mais claro de sua pele negra fez com que ela demorasse a entender determinadas questões do movimento negro: "Tive sorte de ter um pai que sempre me ensinou que eu era uma mulher negra, mas nunca aprofundamos as discussões. Por ser negra da pele clara e o racismo se manifestar de forma diferente de como é para um negro retinto, então demorei para entender o peso do racismo".
Foi a partir de uma experiência pessoal que Gabi entendeu o que tudo isso significava. "Em 2017/18 passei por um preterimento. Meu primo, já sem saber como lidar em ver meu sofrimento disse: 'Prima, ele não quer namorar porque você é negra. Logo mais ele assume uma branca.' Aconteceu exatamente assim (...) Busquei referências, passei a estudar autores negros, inclusive me lembro de ver muitos vídeos da Gabi Oliveira e Nataly Neri. Minha percepção de mundo hoje é atravessada pelo recorte de raça além de gênero e classe", disse.
Inclusive, pra quem quiser ouvir/saber mais sobre o assunto, assista abaixo o vídeo da Nataly.
O colorismo é um debate fundamental na sociedade. Depois de toda essa conversa, dê uma olhada nos atores negros que são geralmente escalados para filmes, séries e novelas. Dá pra identificar nos dedos aqueles que não possuem os traços "brancos", né?! Pois agora você já sabe e entende o porquê. A pergunta que fica agora é: até quando estes espaços ficarão restritos?