Eu passei a minha vida inteira escutando coisas como "Queria ser amiga dos meus pais como você", "Eu considero os seus pais como meus, porque com os que tenho não posso contar" e coisas do gênero. Quando era mais nova, me considerava apenas uma pessoa sortuda - afinal, eu sempre tive meus pais como meus melhores amigos, eles sempre me deram liberdade de conversar sobre qualquer assunto com eles. Hoje em dia, depois de adulta, percebi que alguns dos casos citados pelos meus amigos se classificavam como relacionamento abusivo - e, claro, conversar com meu psicólogo sobre o assunto também me fez prestar mais atenção nessas coisas externas. Sim, isso existe entre pais e filhos também! E, por muita gente não saber a diferença, o Fora da Caixa de hoje vai falar justamente sobre isso.
No entanto, vamos com calma: não é porque seu pai não te deixou ir naquela festa por causa do horário ou porque sua mãe deu uma bronca em você por algo errado que encontrou, que significa que você está em um relacionamento abusivo com seus pais, ok? Não vamos confundir as coisas! O fato deles falarem 'não' algumas vezes ou não deixarem que tudo aconteça da forma que a gente quer, não significa que rola algum tipo de abuso, pelo contrário, eles estão apenas exercendo a função de pais. O relacionamento abusivo, neste caso, acontece como em um namoro. Sabe quando você vê uma mãe colocando todas as ações do filho como inferiores? Quando não o aceita do jeito que ele é, bate, tranca dentro de casa e se acha no direito de fazer o que bem entende ele, porque, afinal, "fomos nós que te colocamos no mundo"? Ou qualquer tipo de abuso psicológico, físico ou sexual? ISSO, sim, é problemático - e muito.
Também existe aquele tipo de relacionamento que não chega a ser tão grave quanto agressões e questões psicológicas, mas atinge tanto quanto: quando os pais sentem dificuldade de "liberar as amarras" e te impedem de crescer, algumas vezes até fazendo chantagem emocional quando você pensa em morar sozinho, por exemplo, ou começa a namorar e, consequentemente, fica menos tempo em casa.
O pior de tudo é que muita gente de fora da situação realmente passa a mão na cabeça de pais e mães que tomam atitudes assim, aquele famoso "não é minha família, não vou me meter, eles sabem o que é melhor para a educação do filho deles". Nem sempre é assim!
Mas não vamos depositar toda a culpa nos pais que agem dessa forma. Na maioria dos casos, isso foi passado de geração em geração; ou seja, eles se tornaram mais agressivos ou invasivos por conta da criação que eles tiveram no passado. Então, não é válido depositar isso de volta neles, porque as chances de dar certo são nulas. A solução? Uma boa e velha conversa franca. Não, isso não é segredo e nem solução para 100% dos problemas, mas é sempre bom sentar e tentar resolver com a pessoa que te faz mal.
Se houver um acordo, a presença de um psicólogo é extremamente importante! Buscar ajuda de um profissional talvez faça seu pai ou sua mãe acabar aquele sentimento ruim do passado. E sempre alimente na sua cabeça que a culpa não é sua e, dependendo, nem deles. Vai confiando cada vez mais no seu potencial, independente do que dizem - afinal, VOCÊ se conhece melhor do que qualquer outra pessoa. É necessário ter paciência, mas as coisas vão melhorar!