Nesta quinta-feira (19), comemoramos o Dia do Orgulho Lésbico. É uma data extremamente importante, feita para que haja maior debate sobre a lesbofobia e, principalmente, para exaltar mulheres de todas as idades, tamanhos, raças e religiões que tiveram coragem de mostrar seu verdadeiro eu para o mundo - o que, aqui no Brasil, ainda é uma missão difícil.
Mas neste mês temos também o Dia da Visibilidade Lésbica, o que pode confundir algumas pessoas. Alguns acham que é a mesma data - comemorada em dias diferentes em países distintos - ou, ainda, que fazem parte da mesma comemoração, que seria estendida por vários dias de agosto.
Acontece que cada uma das datas teve um motivo específico para ser criada, bem diferentes um do outro. Vamos explicar um pouco mais sobre elas e apontar as diferenças entre o Dia do Orgulho Lésbico e o Dia da Visibilidade Lésbica.
Para entender a criação do Dia do Orgulho Lésbico, precisamos contextualizar algumas coisas. Na década de 1980, no final da Ditadura Militar, havia um bar em São Paulo chamado Ferro's Bar. O ambiente era um ponto de encontro para membros da comunidade LGBTQIAP+ e ativistas, que ainda eram perseguidos pelo governo na época. Mas, mostrando a complexidade do movimento como um todo, as lésbicas que frequentavam o bar foram impedidas de distribuir publicações sobre as suas realidades e muitas foram expulsas do estabelecimento.
Ou seja, mesmo dentro do próprio cenário que acolhia grupos LGBTQIAP+, mulheres não eram totalmente aceitas. O mesmo se dá com pessoas trans, negras, pobres, gordas, deficientes e idosas que são, por outros motivos, excluídas do movimento. Voltando ao Ferro's Bar, como forma de reivindicar seus direitos, um grupo de ativistas lésbicas, lideradas pela filósofa Rosely Roth, se reuniu para protestar contra a exclusão no bar.
A manifestação, ocorrida em 19 de agosto de 1983, foi a primeira grande ação de mulheres lésbicas brasileiras por igualdade, dando assim origem ao dia comemorado hoje. Esse momento também é conhecido como o "Stonewall brasileiro", que faz referência ao 28 de junho de 1969, marcado pela perseguição policial e repressão aos LGBTQIAP+ em Nova York, mais precisamente no bar Stonewall Inn.
Como falamos, outra data importante para as mulheres lésbicas é o Dia da Visibilidade Lésbica. O dia foi escolhido para homenagear o 1ª Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), que ocorreu em 29 de agosto de 1996. O grande propósito desta data é refletir sobre a exclusão e invisibilidade lésbica, além de influenciar governantes de vários cargos a pensarem em políticas públicas que auxiliem na inclusão dessas mulheres.
No nosso país ainda temos um grande caminho pela frente quando o assunto é representatividade e proteção da comunidade LGBTQIAP+. De acordo com dados do "Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil", divulgados pelo site do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, entre 2000 e 2017 o número de assassinatos de mulheres lésbicas aumentou cerca de 96%, passando de "apenas" 2 casos para 54 homicídios anuais. Desses, 83% foram cometidos por homens, expondo, para além da homofobia do crime, o machismo que muitas lésbicas enfrentam.