Você é antifascista? Antes de responder a pergunta, entenda o que é Fascismo com o Purebreak
Publicado em 21 de junho de 2020 às 12:01
Por Purebreak
Nas últimas semanas, uma onda de prostestos antirracistas e antifascistas tomaram conta de vários países. Por conta disso, os dois termos ganharam bastante visibilidade nas redes sociais. Inclusive, no início do mês de junho, a bandeira antifascista viralizou. Mas será que todo mundo está ligado no sigificado de antifascismo e, consequentemente, Fascismo? Pensando nisso, o Purebreak resolveu trazer algumas respostas.
Você sabe que é Fascismo e por que deve combatê-lo? O Purebreak explica Você sabe que é Fascismo e por que deve combatê-lo? O Purebreak explica© Getty Images
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Após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, uma série de protestos antirracistas tomaram conta do mundo. Mesmo no meio de uma pandemia, pessoas foram às ruas para lutar pela vida da população negra. No meio desse movimento, um outro termo ganhou bastante popularidade nas redes sociais: antifascista. Por conta da ~vibe~ autoritária que alguns presidentes possuem, como Jair Bolsonaro e Donald Trump, começaram a comparar seus atuais governos com antigos regimes fascistas. Será que é a mesma coisa? Para tirar todas as nossas dúvidas sobre fascismo, o Purebreak bateu um papo com a professora Ingrid Linhares, especialista em Ensino da História e mestranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense.

Afinal, o que é Fascismo?

Apesar de ser uma pergunta simples, a resposta é um tanto complexa. Afinal, uma ideologia não se resume em poucas palavras. Segundo Ingrid, para compreender o que é de fato o Fascismo, é preciso entender sua origem histórica. "Esse movimento explodiu após os estragos proporcionados pela I Guerra Mundial. Mergulhada em uma das suas maiores crises, a Europa apresentava um cenário de total destruição: mortes, fome, declínio econômico e profunda insatisfação social. Itália e Alemanha saíram derrotadas e o caso alemão tornou-se simbólico, pois a ela foi creditada a culpa da guerra, gerando graves repercussões na sociedade alemã", explica. A historiadora também conta que esse contexto de insatisfação foi fundamental para o crescimento da ideologia fascista.

E quais são as características dessa ideologia?

O filósofo italiano Antonio Gramsci resumiu esse tipo de sistema em poucas palavras: "tentativa de resolver problemas da produção e da troca através de rajadas de metralhadora e de tiros de pistola". Com base nos estudos do autor Umberto Eco, Linhares resume as características de um regime fascista em 12 pontos: "Um nacionalismo forte e crescente; desprezo por Direitos Humanos; identificação do inimigo como causa unificadora; supremacia militar; sexismo desenfreado (machismo ressaltado); controle das mídias de massa; obsessão com segurança nacional; governo e religião interligados; poder das corporações protegido; poder dos trabalhadores suprimido; desprezo por intelectuais e pelas artes; e obsessão por crime e punição". A professora também destaca que, durante suas aulas, os estudantes conseguem perceber algumas semelhanças com alguns governos atuais. E você, achou alguma?

O governo do Bolsonaro é fascista?

Se você chegou até aqui, é provável que já esteja se fazendo essa pergunta. Afinal, não é de hoje que o atual presidente do Brasil se mostra um político autoritário e com um discurso violento. Mas, para Ingrid, nós ainda não estamos sob um governo fascista. No entanto, o alerta é necessário. "Mais do que discutir se essa comparação é válida, é importante entender do porquê ela estar sendo feita. Assim, podemos trazer aqui alguns posicionamentos e frases do atual governo que por vezes são associadas a discursos autoritários. O primeiro destaque vem da valorização de um estado extremamente militarizado, vide as nomeações em massa de generais para cargos de confiança e ministérios no atual governo. Essa era exatamente a postura adotada na campanha de Adolf Hitler em 1932 na Alemanha", alerta.

Ingrid também cita outras semelhanças, como o nacionalismo de Bolsonaro. Mas, como o Fascismo também se faz presente dentro de um discurso violento, ela chama atenção para a relação do ex-militar com o debate sobre armamento no Brasil. "Bolsonaro insistiu em reduzir o controle de armas por quatro vezes durante a pandemia para 'armar a população' e, segundo levantamentos feitos pelo jornal O Globo, o presidente tentou, ao menos, seis vezes flexibilizar o acesso às armas desde que iniciou seu governo. Traçando um novo paralelo com a conjuntura que nos apresentou o nascimento do Fascismo na Itália, é só acionarmos a capa do jornal brasileiro Correio da Manhã, de 12 de agosto de 1937, em que a chamada é justamente 'Mussolini diz que só um povo armado é forte e livre'", explica.

Não é uma questão de opinião

Na internet, as pessoas adoram relativizar tudo. Porém, para Ingrid, Fascismo está longe de ser uma questão de opinião. "O Fascismo é um movimento que se caracteriza pela intolerância e pela negação da existência do diferente. Inclusive, observamos que na Itália e na Alemanha a adesão ao Fascismo é criminalizada dado ao histórico dessas nações. O Fascismo se constrói na negação da existência do diferente daquilo que se acredita. Tais questões ultrapassam as discussões das esferas política, econômica e/ ou cultural. Aqui, o que se discute são questões existenciais, como religiosidade, raça, gênero, condição social ou origem. Parafraseando Nina Simone, uma das vozes mais potentes na luta antirracista estadunidense, 'liberdade é não ter medo'", argumenta.

Afinal, o que é ser antifascista?

Existem muitas maneiras de compreender na prática o que esse termo significa. No entanto, para a mestranda essa resposta pode ser simples: "O movimento Antifascista engloba todas as pessoas que se colocam contrárias ao Fascismo enquanto projeto político e social, aglutinando uma pluralidade de grupos que vão desde aqueles que visam um enfrentamento com ação direta até outros, como os liberais". Para entender melhor a "organização", Ingrid indica o livro "Antifa - O Manual Antifascista", de Mark Bray.

É importante relembrar que várias pessoas começaram a se declarar antifascistas nas redes sociais e, mesmo que haja o risco do termo ser banalizado de alguma forma, a professora enxerga esse hype de forma positiva. "Conseguimos perceber um sentido bastante positivo na movimentação das redes. Essa popularidade proporcionou um crescimento de debates em torno das temáticas sobre o Fascismo e o antifascismo, que podem ser testemunhados nesta entrevista e no interesse da publicação em incluir esse tema como pauta. Essas discussões suscitam reflexões e provocações", afirma.

Como combater o Fascismo?

Por mais complexo que seja esse assunto, a resposta é bem curta: através da educação. "É necessário munirmos de informações baseadas em fontes confiáveis. A leitura sempre vai ser nosso maior aliado nas lutas contra a propagação do ódio ao diferente e no medo do desconhecido. Também reforço o quão fundamental é que o debate sobre fascismo tome o espaço público, para que todos o compreendam e possam refletir sobre os fatos de forma mais consciente. E, é importante ainda que estejamos atentos para evitar a relativização ou até mesmo a banalização do movimento. É preciso entender que somente o uso de avatares nas redes sociais não é suficiente para combatê-lo. O fascismo é, em suma, a fundação do discurso de ódio, através de uma imagem de nacionalismo. As manifestações antirracistas são amostras de uma sociedade civil que não aceita mais a indiferença. Neste momento, é essencial o engajamento em todas as frentes, tendo a certeza de que não existe neutralidade. Se eu me ausento ou me silencio ao presenciar um ato de violência, preconceito, racismo, eu já estou escolhendo um dos lados", conclui Ingrid.

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