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Durante o mês de setembro, muito se fala sobre saúde mental. Cada vez mais, estamos tendo diálogos abertos sobre transtornos psiquiátricos e psicológicos e compreendendo, de uma vez por todas, que buscar ajuda não significa fraqueza - pelo contrário: é um dos maiores sinais de força. Entretanto, tivemos que caminhar um longo caminho para chegar até aqui e, mesmo ainda existindo muito estigma e preconceito com a saúde mental, o avanço foi considerável.
Separamos 7 pontos na história para você entender como foi a evolução da saúde mental no Brasil e como ainda podemos evoluir no que se refere à proteção e ao cuidado com quem precisa. Veja a seguir a linha do tempo!
Ainda como uma monarquia, o Brasil fundou o Hospício Dom Pedro II, em 1852, no Rio de Janeiro. Só o nome já deixa claro os problemas do local, já que "hospício" não é um termo muito usado hoje em dia. O objetivo era apenas retirar da sociedade aqueles que "fugiam da regra", sem nenhuma preocupação com tratamento e bem-estar dos pacientes.
De acordo com artigo de Bismarck Freitas, a primeira lei sobre saúde mental acontece em 1912. Entretanto, também não havia preocupação, de fato, com as pessoas que sofriam com diversas doenças e transtornos. Nesse momento, oficializa-se a especialidade de médico psiquiatra e outras instituições, como a Dom Pedro II, começam a tomar o país. Mais uma vez, o objetivo era "controlar" a doença e seus sintomas, impedindo a pessoa de estar em sociedade.
Duas guerras mundiais impactaram os países em diversos aspectos, incluindo no debate sobre a saúde mental. O grande número de pessoas traumatizadas e sofrendo com estresse pós-traumático com certeza teve um impacto nisso. A partir daí, um movimento que se inicia na Europa e nos Estados Unidos chega ao Brasil, exigindo uma abordagem mais humana e justa quando falamos do tratamento de pacientes com transtornos mentais.
Já no final de década de 1970, o país começa a passar pelo início de uma reforma psiquiátrica, no qual profissionais da área se organizam, realizando eventos e seminários, para discutir o tema e compreender como melhorar o acolhimento dos pacientes, analisando o assunto pelo campo social, político e de saúde pública.
10 anos depois, no final da década de 1980, o movimento antimanicomial ganha força no país. Psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e trabalhadores de várias áreas exigiam o fim de manicômios, anteriormente chamados de "hospício". De acordo com esses profissionais, retirar a liberdade dos pacientes não ajuda em nada e é preciso tratar da condição por um viés humano, psicológico e social. Pacientes devem ser encarades como uma pessoa, que merece ter seus direitos respeitados... Porque é exatamente isso que elu é.
Ainda em ritmo de reforma, em 1989 são criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O objetivo é colocar em prática aquilo que já vinha sendo falado pelos ativistas da luta antimanicomial. Assim, o tratamento de pacientes é feito por meio de várias áreas, com profissionais de medicina, psicologia, serviço social etc. Não existe mais a necessidade, pelo menos na teoria, de prender e até mesmo "castigar" a pessoa pelo seu transtorno. É feita uma abordagem multidisciplinar, a fim de ajudar no tratamento e garantir qualidade de vida para todes.
Com um salto para os anos atuais, ainda temos muito o que fazer pela saúde mental. Apesar de existir mais diálogo e informação, o assunto pode vir acompanhado de noções antiquadas. Além disso, termos depreciativos - como "louco", "maluco" - ainda são usados na rotina e transtornos reais, que afetam milhões de pessoas - como "depressão", "bipolar", "T.O.C" - são utilizados em piadas no dia a dia, como se não fossem nada.
Para ter uma noção da seriedade do problema estudos citados pelo artigo da médica Cláudia Lopes afirmam que 30% dos adolescentes no Brasil apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. E o aumento nos últimos anos foi considerável. O nosso país segue, infelizmente, um padrão global.
Dados da OMS mostram que na última década, os transtornos do tipo cresceram 13%. No mundo, 20% das crianças e adolescentes apresentam alguma condição psiquiátrica, tornando o suicídio a causa principal de mortes entre pessoas de 15 a 29 anos. O assunto não pode ser mais adiado. Avançamos muito, mas milhões de pessoas ainda precisam de apoio e é nossa responsabilidade tornar a saúde mental um assunto presente e comum na rotina durante todo o ano.
Caso você precise de ajuda ou queira conversar, consulte o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188 ou pelo site. As conversas são gratuitas e anônimas!