Viajar da Europa para os Estados Unidos a 6.000 Km/h: alguém está determinado a tornar isso realidade com o hidrogênio
Publicado em 18 de dezembro de 2023 às 10:30
Por Maria Luisa Pimenta
Uma viagem da Europa para os Estados Unidos a 6.000 Km/h parece algo improvável e impossível. Porém, a Destinus está investindo em uma tecnologia com hidrogênio que pode tornar isso possível.
Empres busca oferecer voos super rápidos entre locais distantes Empres busca oferecer voos super rápidos entre locais distantes© Getty Images
Destinus usa hidrogênio para uma pegada mais sustentável
Tecnologia da Destinus para encurtar tempo de voo envolve uso de hidrogênio
O objetivo da Destinus é encurtar o tempo de viagens de avião
A Destinus busca maneiras de encurtar tempo de voo entre lugares distantes
Veja + após o anúncio

Viajar é um prazer. Passar horas se revirando em seu assento durante um interminável voo intercontinental, nem tanto. Com essa premissa em mente, a empresa aeronáutica Destinus, com sede em Payerne (Suíça), trabalha para reduzir drasticamente o tempo necessário para voar de Paris a Nova York ou de Frankfurt a Xangai. Seu objetivo: é possível fazer qualquer uma dessas rotas - e muitas outras - em velocidades hipersônicas e em menos tempo do que seria necessário para assistir a "Avatar: O Sentido da Água". E ela quer fazer isso com hidrogênio.

Qual é a proposta da Destinus?

Oferecer voos hipersônicos com aeronaves movidas a hidrogênio. Uma aposta com a qual pretende fazer com que as distâncias, mesmo as mais longas, se tornem "insignificantes", usando uma tecnologia mais ecológica. Na prática, isso significaria voos entre Nova York e Londres ou Paris em 90 minutos, de Frankfurt a Xangai em menos de três horas ou da Alemanha a Sydney em pouco mais de quatro horas - muito longe dos tempos atuais. Seu objetivo é oferecer aos operadores aeronaves capazes de atingir velocidades de Mach 5, equivalente a mais de 6.000 quilômetros por hora, o que permitiria o voo hipersônico, e de atingir altitudes de mais de 33.000 metros.

E como conseguir isso?

Com aeronaves movidas a hidrogênio. Para isso, a empresa elaborou um cronograma com vários marcos. Alguns desses marcos já foram alcançados. Outros terão que ser alcançados no futuro. Durante o 54º Salão Aéreo de Paris-Le Bourget, a Destinus apresentou sua nova versão de testes, o Destinus-3. "Será o primeiro drone a usar hidrogênio líquido como combustível e quebrará a barreira do som", explicou ao El País.

A aeronave terá 10 metros de comprimento por quatro de largura, pesará cerca de duas toneladas, usará hidrogênio criogênico e voará a mais de 1.200 km/h, o que lhe permitirá atingir velocidades superiores a Mach 1. O objetivo é que, em 2024, ela seja submetida a seus primeiros testes em velocidades subsônicas para verificar suas capacidades e, em uma segunda fase, poderá atingir velocidades supersônicas. Até o momento, já foram realizadas operações com o Destinus 1 "Jungfrau" e o Destinus 2 "Eiger", que permitiram testar a aerodinâmica de seus projetos ou realizar o primeiro voo na Europa de uma aeronave a hidrogênio não tripulada.

E como ele avançará?

O Destinus 3 será apenas um trampolim para uma empresa que já está olhando para além do voo supersônico, para a fronteira de Mach 5 e velocidades hipersônicas. Entre 2030 e 2035, a empresa quer lançar o Destinus S, um avião comercial hipersônico para passageiros movido inteiramente a hidrogênio. O objetivo: atingir uma velocidade de cruzeiro de Mach 5 e transportar 25 passageiros. Além disso, no horizonte da década de 2040, a empresa planeja um novo marco: apresentar um modelo ainda maior, o Destinus L, capaz de transportar entre 300 e 400 passageiros em qualquer lugar do planeta. O Simple Flying sugere que ele poderia até atingir Mach 6, 7.300 km/h.

Por que o hidrogênio?

A empresa alega sua capacidade de reduzir a pegada ambiental da aviação, uma desvantagem que já provocou debates sobre a sustentabilidade de certas rotas e levou o setor a buscar formas de minimizar seu impacto, incluindo o uso de aviões elétricos e o sequestro de CO2. "O transporte aéreo tradicional é responsável por 2,5% das emissões anuais de carbono. Temos o compromisso de operar um negócio neutro em termos de carbono", enfatiza.

Outro ponto forte do hidrogênio, especialmente quando considerado para voos de alta velocidade e longa distância, é a sua densidade de energia, três vezes maior que a do combustível Jet A. "O sistema de propulsão do Destinus 3 incorporará um motor turbojato movido a querosene e um pós-combustor de hidrogênio líquido. Estamos desenvolvendo planos para testar um sistema totalmente baseado em hidrogênio para o turbojato e o pós-combustor", explica Mikhail Kokorich, CEO da empresa, conforme citado pela Simple Flying.

A Destinus está sozinha na corrida?

Não. Na corrida para recuperar o espírito do Concorde e ir além dele, para a comercialização do voo hipersônico, há outras empresas. Nos últimos anos, a Space Transportation, a Hermeus, a Rolls-Royce e a Reaction Engines, a Boom Overture e até mesmo a NASA, que vem trabalhando há algum tempo em seu X-59, uma aeronave com a qual espera resolver uma das principais desvantagens do voo supersônico: o estrondo sônico.

A aposta da Destinus é de especial interesse para a Espanha porque - como a própria empresa anunciou na primavera - recebeu um apoio significativo do governo espanhol por meio do PTA e do PERTE. Além da Suíça, a empresa está presente em outras partes do velho continente: Alemanha, França e Espanha, onde possui um escritório de engenharia técnica localizado em Tres Cantos, Madri.

Existem desafios ao longo do caminho?

Sim, e não apenas de natureza técnica. Jean Philippe Girault, CEO da empresa, afirma que o potencial de um projeto que oferecerá aos operadores "um veículo capaz de voar a 6.000 km/h a uma altitude de 30 km" e cobrir viagens intercontinentais em um tempo muito curto. No entanto, se a experiência do Concorde mostrou alguma coisa, é que o que parece fantástico na teoria ou no papel pode não se adaptar tão bem quando é transferido para o mercado.

A icônica aeronave supersônica acabou sendo aposentada em 2003 devido aos seus altos custos e à sombra do acidente de uma de suas unidades três anos antes em Paris. Os voos do Hyperloop também são caros. Em 2003, uma passagem do Concorde custava cerca de 6.500 euros. Entretanto, isso não diminui as possibilidades oferecidas por voar de Paris a Nova York em apenas 90 minutos a velocidades de mais de 6.000 km/h, que são alucinantes.

Palavras-chave
Viagem Mundo Tecnologia