"Marighella" estreou no dia 4 de novembro e está fazendo sucesso entre o público. Com salas lotadas e uma grande potência política e cultural apresentada pelo filme, o primeiro longa de Wagner Moura na direção traz um elenco incrível, um relato essencial e cenas impressionantes. O título conta a história de Carlos Marighella, um importante guerrilheiro que atuou contra a Ditadura Militar Brasileira, instaurada pelo Golpe de 1964, e foi morto na tentativa de alcançar a liberdade. O filme está em cartaz em mais de 200 cinemas brasileiros e aqui te explicamos os motivos para ele ser visto imediatamente.
A gente sabe que muitas vezes títulos gringos são mais valorizados que produções essencialmente nacionais. Mesmo assim, o cinema brasileiro segue vivo e forte, mostrando sua grande potência nas telonas. Então, nada mais justo, ainda mais depois de todo esse período pandêmico que afetou dramaticamente o setor cultural brasileiro, que prestigiar nossa própria arte patrocinando mais obras assim.
E como Wagner Moura disse em entrevista ao Roda Viva, esse é um filme brasileiro, de fato. Não só por ser produzido no Brasil, mas por mostrar o amor pelo país em toda a sua história. Um grande e lindo exemplo disso está em sua cena pós-créditos, que ressignifica parte de uma realidade que a gente ousou esconder devido à onda fascista que ganhou força nos últimos tempos. Esse é um título para quem ama o Brasil.
Além dos danos causados pela pandemia, estamos convivendo com um vírus ainda maior na política atual. O descaso com a arte e com a cultura é um projeto político do governo vigente. E não podemos recuar. Ir ao cinema assistir "Marighella" é escolher dar às mãos a todes que entendem os problemas do cerceamento da liberdade, da censura e do fechamento de alguma instituição dos Três Poderes. É arte como resistência.
Wagner Moura é extremamente conhecido e aclamado pelo seu talento como ator. Com certeza você já viu algum dos seus trabalhos nas séries, filmes ou novelas. E o brasileiro já havia se aventurado até na área de produção. No entanto, é em "Marighella" que Moura faz sua estreia como diretor. Além de escolher uma história superimportante de ser contada, o longa do artista traz um ritmo frenético que vai te impedir de tirar os olhos da tela. Ele ainda conta com escolhas bem corajosas para um primeiro projeto atrás das câmeras.
Um dos maiores acertos que Wagner Moura leva para o seu filme é o diretor de fotografia Adrian Teijido. O trabalho do artista prioriza planos bem intrusivos, para ressaltar a relação entre os protagonistas, e também faz uso de câmera de mão para as cenas mais agitadas. Isso faz com que nós nos sintamos na própria cena como os guerrilheiros, inclusive nos momentos mais pesados.
Só o elenco de "Marighella" já deveria ser motivo o suficiente para você querer ir assistir ao filme. O título conta com Adriana Esteves, Humberto Carrão e Herson Capri em papeis decisivos para a trama. Bruno Gagliasso é um destaque na história, nos entregando um dos melhores momentos da sua carreira até aqui, na pele do inspetor chefe Lúcio. Com sangue nos olhos, Gagliasso imprime um ódio e uma paixão ao dever do personagem muito realistas, o que provavelmente vai fazer você pegar um bom ranço dele ao longo da obra. Já Seu Jorge, o grande astro, também está excelente, com expressões faciais muito parecidas com o guerrilheiro, e grande entrega nas cenas de maior tensão.
Mas cuidado, "Marighella" é um filme para quem tem estômago forte. Ambientado na Ditadura Militar Brasileira, o longa não tem medo de trazer cenas de tortura bem explícitas, mostrando a insana crueldade desse sombrio momento da nossa história. A trama também tem uma carga dramática forte e desperta uma grande mistura de sentimentos.
Mesmo que você não concorde 100% com seus ideais ou ache alguns posicionamentos um pouco problemáticos, nós precisamos falar sobre "Marighella". Esse importante nome da história brasileira precisa ser mencionado, gritado, impresso em todas as partes, para que a gente o reconheça e discuta sobre suas ideias. Carlos Marighella foi um homem importante tanto para o combate à Ditadura Militar, quanto para o Movimento Negro. Não podemos deixar a história apagar o poder desse homem preto, enquanto tantos outros líderes brancos complexos são reverenciados.
No nosso período vigente marcado por uma corrente de negacionismo, assistir a uma obra como "Marighella" é essencial para aprender mais sobre a verdadeira história do Brasil. Não aquela que fanáticos por um governo fascista querem forçar goela abaixo. Mas sim o relato contado por quem sofreu a Ditadura. Por quem a experimentou na pele. Por quem perdeu amigos, família, conhecidos, companheiros e amores para a opressão. É uma história que precisava ser contada.
Acima de tudo isso, Wagner Moura pensou "Marighella" especificamente para ser assistido na maior tela possível. Não só porque o filme tem cenas de ação, drama e reviravoltas dignas de um blockbuster, mas por todas as dificuldades políticas, financeiras e ideológicas enfrentada pela equipe do longa para que o projeto estivesse disponível em mais de 200 salas no Brasil. Moura já disse abertamente que a obra sofreu sabotagens na hora de recolher recursos para sua produção e foi alvo de censura pelo Governo Federal - por isso teve três anos de atraso na sua estreia. O fato desse filme estar em cartaz nos cinemas do Brasil é uma vitória por si só. E merece ser celebrada.
Confira o trailer de "Marighella":