Mais da metade da população do Brasil é formada por pessoas negras. Nosso país é extremamente miscigenado e cheio de encontro de culturas, o que deveria ser uma premissa para sermes mais evoluídes em relação a questões como racismo e preconceito, tratando-os como verdadeiros problemas, mas isso não é algo que vemos com tanta frequência, quanto notícias de pessoas pretas sendo diminuídas ou marginalizadas.
Até chegarmos em 2021, a comunidade negra do Brasil lutou - e continua lutando - incansavelmente para chegar no status que temos hoje, - mesmo que ainda seja longe do desejado - onde temos pessoas negras em cargos de poder, cotas raciais, programas de inclusão em empresas e instituições de ensino, combate ao racismo e redução da pobreza, entre outros.
Desde que a Lei Áurea foi assinada, em 1888, pessoas negras apenas começaram sua luta contra o preconceito e desigualdade social. De lá para cá, suas conquistas são muito importantes para mostrar que a luta tem sim resultado, mesmo que em passos mais lentos.
Por volta de 1910 e 1930, as organizações de "homens de cor", como clubes e grêmios, começaram a surgir e eram primeiramente para fins recreativos e assistenciais, já que essa população era excluída de ambientes de pessoas brancas. Foi aproveitando isso que o Movimento Negro passou a ganhar forças, organizando esses clubes e jornais, com o intuito de direcionar essa população negra a lutar por direitos iguais.
Essa forma de espalhar notícias com a imprensa negra, se tornou um dos primeiros feitos importantes do movimento, fazendo essas pessoas subjugadas e que sofriam preconceito se unissem para alcançar o mesmo objetivo. A partir disso, começaram a surgir ideias antirracistas, onde nasceu a vontade de protestos e alcançar a igualdade, tanto racial quanto social.
Logo depois desse período, por volta de 1935, no início do governo Getúlio Vargas, se iniciou um movimento com o objetivo de integrar o negro na sociedade, para que usufruíssem dos mesmos direitos que os brancos da época, como o mundo de trabalho. A principal vontade era fazer o negro ser visto como uma pessoa comum, e não como desordeiro, vagabundo, bêbado ou marginal, como era o que acontecia.
Em 1936, a FNB se tornou um partido político, mas um ano depois, com a chegada da ditadura do Estado Novo, todos os partidos foram extintos. Porém sua marca continua viva até hoje e vale ser lembrado como uma conquista, já que é, até hoje o único partido completamente negro do Brasil.
Em 1944, criado por Abdias do Nascimento, surgiu o Teatro Experimental, o TEN, que se tornou um movimento político de vanguarda artística, focando na defesa da negritude, colocando o negro como protagonista.
O TEN é um dos movimentos mais famosos da história negra no Brasil e seu principal objetivo era lutar pela integração do negro na sociedade, não focando apenas no teatro, mas também em concursos de beleza, alfabetização de empregadas domésticas e outras atividades. A ditadura também acabou com esse movimento e alguns de seus integrantes precisaram partir para o exílio.
Após quatro jovens negros sofrerem discriminação no Clube de Regatas Tietê, em 1978, foi a vez do Movimento Negro Unificado surgir, para continuar focado na luta antirracista no Brasil. O MNU ficou marcado como o início do movimento negro contemporâneo e é um movimento de esquerda, mantendo relações com outros movimentos sociais, como o feminista, novo sindicalismo e outros de grande importância.
Desde então, o MNU se tornou uma forma de organização política que busca acabar com a discriminação racial dos negros em espaços e instituições diversos, como shoppings, universidades, escolas, clubes e diversos outros locais. Sua meta é alcançar um status de igualdade e justiça social entre brancos e negros.
Os anos 90 foi palco da comemoração do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, onde 20 mil pessoas participaram. O evento contou com o apoio de vários partidos políticos de esquerda, firmando o pacto político pela luta antirracista.
A luta pelas políticas de ação afirmativa surgiu com a chegada do terceiro milênio e foi nessa mesma época que o MNU alcançou reconhecimento mundial com a 3ª Conferência Mundial contra o racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela ONU, que aconteceu em 2001, na África do Sul.
A partir daí, a luta pela educação e equidade passou a ser mais forte do que nunca, trazendo à tona uma discussão sobre diversidade. Foram criados diversos programas para alcançar maior justiça social e políticas de ações afirmativas.
Pode-se dizer que o próprio MNU é a maior conquista para pessoas negras no Brasil, já que é a principal responsável pela luta contra o racismo e a favor da igualdade, tanto social quanto étnica.