A Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, ou seja, completamos 133 anos desde o marco histórico nesta quinta-feira (13). A cada dia que se passa, as pessoas vão entendendo mais e mais que essa assinatura só rolou depois de muitas pressões populares e até internacionais. A benevolência do Império está longe de ser uma realidade. Afinal de contas, após a lei, os antigos escravos foram deixados sem garantias de sobrevivência e vemos os resultados disso até hoje.
Para começo de conversa, o Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravatura. Impulsionado pela pressão da época, a nação foi adotando medidas que caminhavam para a libertação do povo preto ao longo do século. Primeiro, tivemos a proibição do tráfico de escravos, depois a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), que, de maneira geral, tinham grandes falhas e ainda eram burladas. Olindo Messias, estudante de Arquivologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica um pouco dessa visão no vídeo abaixo.
Administrador da página no Instagram Literanegra, o jovem é mais um dos produtores de conteúdo que falam sobre racismo nas redes sociais. Focado na literatura negra, ele busca principalmente dar espaço a intelectuais pretos e suas obras. Olindo nos ajudou a trazer alguns nomes que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil, para deixar de vez o protagonismo da princesa Isabel nessa história. Confira os 5 abolicionistas e suas histórias a seguir.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama era baiano, nascido em 1830, filho de um português branco e Luiza Mahin, uma negra livre que participou da Revolta dos Malês, movimento antirracista que ocorreu no ano de 1835, em Salvador. De acordo com alguns pesquisadores de sua vida, ele foi vendido como escravo pelo pai aos 10 anos de idade, mas conseguiu fugir aos 17 e ainda provou, tempos depois, que já havia nascido livre.
Gama se alfabetizou e depois aventurou-se como autodidata até se tornar jornalista e advogado. Por volta dos anos de 1860, já em São Paulo, o baiano se envolveu com outros intelectuais abolicionistas. Ele integrou o jornal O Diabo Coxo, escrevendo de forma satírica sofre o fim da escravidão, e participou de associações que buscavam libertar escravos por meio das leis que existiam na época. Luiz Gama garantiu a alforria de mais de 500 negros no país.
2. Maria Firmina (1825-1917)
Maria Firmina também nasceu livre e conseguiu se tornar professora. Ela publicava diversos textos condenando a escravidão em revistas que denunciavam a prática no país. Firmina também publicou o livro "Úrsula", que é visto por alguns pesquisadores como o primeiro romance abolicionista do Brasil. A obra trazia três protagonistas negros, que vão contra o regime escravocrata, e tinha como foco um triângulo amoroso. Olindo fez um vídeo para comentar o livro e a importância da autora. Vale a pena conferir!
A apuração do jornal BBC Brasil para uma matéria do veículo revelou que, segundo o "Dicionário de Mulheres do Brasil: de 1500 Até a Atualidade", a escritora negra também fundou uma escola para crianças de baixa renda, onde ministrava aulas gratuitamente para pessoas de todas as raças.
3. Dragão do Mar (1839-1914)
Francisco José do Nascimento foi um jangadeiro que trabalhava no porto de Fortaleza e se recusou a transportar negros escravizados que seriam transportados a demais províncias, durante a última de quatro greves ocorridas no porto, em 1881. O tráfico negreiro já havia sido proibido há 30 anos e a Lei do Ventre Livre completava uma década. Mesmo assim, a escravidão continuava no território.
A atitude de Dragão do Mar conseguiu paralisar o transporte de escravizados por alguns dias e sua luta virou símbolo abolicionista. Com forte atuação dos trabalhadores no porto, o Ceará se tornou a primeira província a abolir a escravatura no país, em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea.
Filho de um vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e uma escrava, José do Patrocínio foi enviado pelo pai a sua fazenda, onde cresceu liberto, mas vivendo com a realidade de outros escravos. Já aos 14 anos, ele foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em diferentes ofícios e se aproximou da área de saúde. Formou-se, em 1874, na Faculdade de Medicina no curso de Farmácia.
Já em 1877, Patrocínio se tornou redator da Gazeta de Notícias, na coluna Semana Parlamentar, na qual começou a campanha pela abolição da escravidão no país. Junto com outras personalidades jornalísticas, José passou a integrar a Associação Central Emancipadora. Tomando a frente dessa organização, o jornalista fundou ainda a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, com a ajuda de Joaquim Nabuco.
José do Patrocínio assou a assumir a direção do jornal Gazeta da Tarde em 1881 e, dois anos depois, desenvolveu a Confederação Abolicionista, reunindo todos os clubes engajados no tema. Nesse grupo, Patrocínio escreve um manifesto a favor da abolição, junto com Aristides Lobo e André Rebouças. O homem também ajudou, neste período, com a fuga de escravos e organizou campanhas para conseguir fundos para alforrias. Em 1886, ele se tornou vereador da cidade do Rio de Janeiro e um ano depois, tendo abandonado a Gazeta da Tarde, fundou o jornal A Cidade do Rio, no qual celebrou a abolição da escravidão em 1888.
5. Adelina
Adelina ficou conhecida como a "charuteira espiã". A maranhense era "filha bastarda" e escrava do próprio pai, que produzia os charutos vendidos por ela nas ruas e lojas de São Luís. Adelina conseguiu se alfabetizar e, durante o trabalho, passou a presenciar a atuação de abolicionistas com seus discursos públicos, o que fez com que se envolvesse na causa.
De acordo com a pesquisa do jornal BBC Brasil, o "Dicionário da Escravidão Negra no Brasil" relata que Adelina dava informações sobre ações policiais e planos dos escravistas para a associação Clube dos Mortos - que promovia a fuga de escravos e os mantinham escondidos. Não há relatos sobre seu nome completo, nem sobre as datas de nascimento e falecimento.