Muito mais do que uma das vertentes do movimento, o feminismo negro é visto como parte essencial para compreender a luta pela equidade de gênero, principalmente no Brasil. O país sofreu com a escravização de pessoas negras por séculos e, consequentemente, as mulheres pretas encaram os efeitos disso até hoje. Além disso, a população negra é maioria no país, o que aumenta ainda mais a importância de escutar o que essas mulheres têm a dizer.
Pense só, a mulher negra carrega dois tipos de opressão ao mesmo tempo: além de ter que lidar com os preconceitos e discriminações de gênero, ela precisa enfrentar o racismo diário na sociedade. Ao compreender a história e as necessidades das mulheres pretas, estamos cuidando de problemas que ultrapassam o feminismo.
E como começar a estudar sobre o assunto? Para nossa sorte, há várias teóricas incríveis que viveram e escreveram sobre o feminismo negro. Acompanhe a lista para conhecê-las e saiba como empoderar o movimento de mulheres negras.
Pensa em uma mulher influente e com história de luta! Angela Davis é uma filósofa estadunidense que integrou o grupo Panteras Negras. Sua militância pelos direitos das mulheres e contra o racismo ganhou bastante notoriedade desde a década de 70. A obra mais conhecida da teórica é "Mulheres, Raça e Classe" (2016), na qual ela apresenta um olhar marxista e interseccional para as questões de gênero da mulher negra, fazendo uma relação entre a questão social, racial e o machismo.
Muito presente na mídia brasileira, Djamila Ribeiro se tornou mais conhecida a partir da publicação "O que é lugar de fala?", um termo que ainda é constantemente mal interpretado. O livro faz parte da Coleção Feminismos Plurais, organizada pela própria Djamila. Mestre em Filosofia Política, a acadêmica ainda atua como colunista no jornal Folha de S. Paulo e na Elle Brasil. Recentemente, lançou o livro "Quem Tem Medo do Feminismo Negro?" (2018).
Gloria Jean Watkins adotou esse nome, que é escrito em letras minúsculas mesmo, em homenagem a sua bisavó. Nascida nos Estados Unidos, a teórica se formou em Literatura Inglesa, fez mestrado na Universidades de Winsconsin e doutorado na Universidade da Califórnia. Durante sua infância, estudou em escolas só para crianças negras, no período de segregação racial do país. bell hooks investiga raça, gênero e classe, explorando assuntos como a arte, educação, mídia de massas, feminismo e história. Sua recente publicação "Olhares Negros: Raça e Representação" (2019) é apenas uma das mais de 30 contribuições literárias feitas pela teórica.
4. Lélia Gonzalez
Lélia merece todo reconhecimento do Brasil e do mundo. Ela foi uma filósofa brasileira que acumulou também formações em antropologia e história, tendo iniciado a discussão da interseccionalidade antes mesmo do termo ser introduzido no meio acadêmico. Gonzalez já falava da dupla opressão vivida pela mulher negra, que é o que resume o conceito.
A teórica fez também diálogos com a psicanálise e escreveu sobre feminismo, marxismo, anti-imperialismo e a defesa da democracia. Para levar à frente sua militância, candidatou-se a cargos públicos no Rio de Janeiro e se envolveu com coletivos importantes ainda na década de 1970. Quando Angela Davis veio ao Brasil, fez menção honrosa à escritora e alertou as feministas do país para a valorização de figuras nacionais: "Eu acho que aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo", provocou a filósofa estadunidense.
Sueli Carneiro é mais uma referência brasileira do feminismo negro. Seu nome é extremamente reconhecido para os debates sobre a mulher preta no país. A filósofa e ativista antirracista fundou e coordena o Geledés - Instituto da Mulher Negra, uma organização política voltada para o combate ao racismo e às questões das mulheres negras. A instituição atua também como portal de notícias sobre a comunidade e o movimento.
Collins é professora universitária de Sociologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Foi a primeira mulher a atuar como presidente da Associação Americana de Sociologia. Suas teorias falam sobre o feminismo e as questões de gênero no país, com foco para a mulher negra. Patricia Hill Collins teorizou, por exemplo, sobre as imagens de controle que marcam a figura feminina negra na sociedade. Sua principal obra é "Pensamento Feminista Negro: Conhecimento, Consciência e a Política do Empoderamento" (1990).
Lembra daquela música "Flawless", da Beyoncé , que já começa com uma definição do que é feminismo? Esse trecho é falado por Chimamanda Ngozi Adichie, mas a teórica deve ser reconhecida por muito mais. Natural da Nigéria, Chimamanda traz contribuições essenciais da literatura africana.
Seus livros já foram traduzidos para mais de 30 idiomas. Quando tinha 19 anos, se mudou para os Estados Unidos, onde se formou em Comunicação e Ciências Políticas. A obra literária "Americanah" (2013)" traz uma história de amor que não deixa de lado questões importantíssimas sobre gênero, raça e identidade.
Audre Lorde foi uma feminista negra, lésbica e filha de imigrantes caribenhos que foram viver nos Estados Unidos. Sempre tendo uma perspectiva revolucionária da sexualidade, ela também discutiu o termo autocuidado feminino, criticando sua banalização feita por motivos mercadológicos. Audre Lorde era ainda defensora dos direitos civis no país e fez muitas contribuições para o conceito de mulherismo.
9. Beatriz Nascimento
A sergipana migrou para o Rio de Janeiro, onde se formou em História no ano de 1971. Beatriz sempre conciliou a vida acadêmica com a militância em movimentos negros, buscando pautar o reconhecimento das terras quilombolas. No entanto, ao falar das discriminações vividas pelas mulheres negras, contribuiu para a formação do que hoje conhecemos como feminismo negro.
Ela foi também professora, roteirista e poeta. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciou mestrado com orientação do comunicólogo Muniz Sodré, um dos mais reconhecidos do Brasil. Infelizmente, a formação foi interrompida quando a historiadora foi assassinada pelo companheiro de uma amiga com 5 tiros à queima-roupa.