Mais um dia difícil para ser brasileire. Semelhante ao discurso antidemocrático feito em 7 de setembro, Bolsonaro repetiu o tom agressivo e radical em posicionamento oficial na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (21). Algo que chamou muita atenção em seu discurso foram as séries de mentiras contadas pelo presidente, que abusou de dados fora de contexto e informações que não contam com nenhuma comprovação.
Qualquer discurso do tipo é grave por si só, porém, a escolha de palavras de Bolsonaro pode ter consequências ainda piores. Em meio a polêmicas do Governo Federal no que se refere à vacinação de adolescentes, o presidente preferiu defender mais uma vez o tratamento precoce, falar sobre ameaça socialista e contar outras mentiras em seu pronunciamento em vez de priorizar a saúde des brasileires.
Confira a seguir 7 fatos mentirosos no discurso de Bolsonaro na ONU!
Novamente, Bolsonaro falou sobre o tratamento precoce contra à Covid-19, mencionando inclusive que utilizou medicamentos quando foi infectado pelo vírus, apesar de não existir nenhum estudo que comprove a eficácia das substâncias contra a doença. "Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendações do nosso Conselho Federal de Medicina", disse o presidente.
O Conselho (CFM), por sua vez, apesar de realmente defender a autonomia absoluta de cada profissional, destaca em texto oficial que não há nenhuma prova que o uso de hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina possam ajudar. "A ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe algum benefício ou não com o uso desses fármacos", afirma o CFM.
Estamos em 2021 ou 1964? Assim como nas vésperas do golpe militar da década de 60, o presidente mencionou que o Brasil precisava de uma salvação contra uma ameaça socialista - estratégia que ajudou a eleger Bolsonaro. "O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo", afirmou Bolsonaro.
Antes de sua eleição, quem chefiava o país era Michel Temer (MDB), vice-presidente de Dilma Rousseff (PT). E, mesmo antes, durante mais de uma década de governo do Partido dos Trabalhadores não houve nenhuma ameaça comunista ou aproximação a um possível regime socialista.
O presidente afirmou que estamos "há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção", ele só esqueceu de mencionar a investigação da CPI da Covid que acontece no Senado e que afeta diretamente seu governo, além de acusações de rachadinhas que recaem sobre o próprio presidente e seus filhos. Ao afirmar isso, portanto, Bolsonaro manipula a informação e tenta passar uma imagem de inocente, o que não cola, já que o governo está até o pescoço com graves acusações, inclusive de corrupção.
Segundo o presidente Bolsonaro, houve uma redução de 32% no desmatamento da Amazônia no mês de agosto, se comparado ao ano anterior. Esses dados não estão bem contextualizados - já que analisam apenas o período de um mês - e não condizem com a realidade do país. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) mostram que o acúmulo de alertas de desmatamento na Amazônia foi o segundo pior da história da avaliação, que se iniciou em 2015. Na frente de 2021 está 2020 - outro ano do governo Bolsonaro.
Não suficiente, o presidente relembrou as manifestações antidemocráticas do último 7 de setembro, que exigiam a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). "Milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo", disse Bolsonaro.
Além de nenhuma das pautas destacarem princípios democráticos, como já mencionado, as manifestações no início do mês não foram, nem de longe, as maiores da história, apesar do alto número de apoiadores.
Além de se manifestar contra as políticas de quarentena e distanciamento social, o presidente afirmou que um auxílio de U$800 foi oferecido a 68 milhões de brasileiros em 2020. "No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam suas fontes de renda, concedemos um auxílio emergencial de U$ 800", disse o presidente. Na cotação atual do dólar, isso equivale a mais de R$ 4.200.
Na realidade, o auxílio em 2020 foi de R$ 600, com o limite de dois beneficiários por família - com exceção de mães solos que são chefes de lares e, portanto, poderiam receber R$ 1.200. Os 800 dólares citados por Bolsonaro correspondem à soma de todas as parcelas disponibilizadas no ano anterior, entretanto, pela escolha de palavras, Bolsonaro deixa a entender que seria o valor do auxílio mensal, manipulando dados e vendendo uma imagem errônea de nosso país.
Por fim, Bolsonaro afirmou que a economia brasileira é a melhor entre os países emergentes. No entanto, o relatório "World Economic Outlook", baseado em dados de 2020, mostrou que a média de retração da economia do país - 4,1% - foi pior do que a média mundial e ficamos atrás de alguns países considerados emergentes, como Rússia, Nigéria e China.
Isso sem levar em consideração o aumento da inflação, do preço de produtos básicos, o aumento histórico do dólar e a taxa de desemprego, que continua em altos índices. Portanto, mesmo se o Brasil apresentasse a melhor economia entre os emergentes - o que não é o caso -, ainda não existiria nenhum motivo para se gabar quando o povo brasileiro passa por tanta dificuldade.