Há uma frase que se tornou bem popular na internet nos últimos anos que diz: "Tudo vale a pena, senão virar amor, vira poema". Se a premissa for levada ao pé da letra, podemos encarar "My Policeman", filme estrelado por Harry Styles que será lançado na próxima sexta-feira (04) no Amazon Prime Video, como um longa que explora um caminho tortuoso em direção a um romance trágico. Mas como a adaptação do livro de Bethan Roberts pontua, não seria toda história de amor uma tragédia?
Em "My Policeman", acompanhamos o relacionamento de Tom (Styles) e Marion (Emma Corrin), um casal da década de 1950 que tem tudo para dar certo. Eles vivem um clichê de época, até que um terceiro integrante completa o trio: Patrick (David Dawson).
O curador de museu se torna um grande amigo da dupla, só que descobrimos eventualmente que ele e Tom já se conheciam e cultivavam um romance secreto. Em um período em que a homossexualidade era crime, amar seu igual é um ato de coragem e um grande risco. Mas Tom e Patrick decidem pagar para ver.
Ainda que use de Marion para esconder seu caso, o policial luta contra seus próprios desejos e acaba sucumbindo ao seus sentimentos pelo seu par romântico. O filme, então, nos mostra tanto o início desse relacionamento, quanto o futuro dos personagens, ao acompanhar o trio na terceira idade. No salto temporal, Tom, Patrick e Marion são interpretados por Linus Roache, Rupert Everett e Gina McKee, respectivamente.
Sem se preocupar em ser tão megalomaníaco ou andar em ritmo tão frenético quanto o dono do "Harry's House", "My Policeman" mira na delicadeza e sensibilidade para contar sua história de amor entre dois homens. O toque que o protagonista dá no pescoço de Patrick, o molhado dos beijos entre eles e o contraste entre o sexo feito por Tom quando ele está com o homem e quando está com Marion são os grandes destaque do filme. Em um estilo à la Luca Guadagnino em "Me Chame Pelo Seu Nome".
O longa usa do seu tempo para explorar as multifacetas dos personagens e da bela paisagem da Inglaterra para ilustrar o estado emocional do trio, seja em uma praia enquanto o amor entre Tom e Patrick cresce ou nas brigas que ocorrem dentro de casa, que marcam o casamento de Marion e seu cônjuge.
Por outro lado, Harry, que é inegavelmente o maior astro do pop da atualidade, não consegue imprimir diretamente seu talento para a música na atuação.
Enquanto o ex-membro da One Direction dá seus primeiros passos no mundo do cinema - tendo feito parte apenas de "Dunkirk" e do recente "Don't Worry Darling" - é notável como isso prejudica seu personagem e como nos identificamos emocionalmente com ele. Esse problema é realçado ainda mais nas cenas de maior confronto entre ele e sua contraparte, Emma Corrin, que cumpre as expectativas na sua entrega.
Por fim, o que fica de "My Policeman" é a memória de algo que já vimos antes, mas que nem por esse motivo não deva ser contado. Enquanto encontramos tantos clichês de casais heterossexuais, por que deveríamos criticar um longa queer por conta uma mesma história de amor, ainda que batida? Afinal, não é só porque toda história de amor é uma tragédia, que significa que elas não valem a pena.