A história no feminismo no Brasil é forte, resistente e linda. Mesmo assim, o Dia Internacional da Mulher ainda é visto por algumas pessoas como uma data para apenas exaltar as mulheres. Isso está mudando, principalmente porque as meninas mais jovens estão se tornando feministas e dando continuidade à luta iniciada por outras mulheres.
Como tudo começou? A data teve origem no final do século XIX, quando movimentos de mulheres e operárias lutavam por condições melhores de trabalho. Essas mobilizações também deram força à conquista do direito ao voto feminino e às manifestações contra a violência.
É importante destacar que foi uma luta, em sua maioria, de mulheres brancas, já que elas ocupavam as fábricas neste período. As mulheres negras na Europa e nos Estados Unidos - locais em que se concentraram as manifestações - viviam momentos diferentes e iniciaram sua luta a partir de outras reinvindicações. Isso não significa que o Dia Internacional da Mulher não seja para todas e sim que o feminismo possui diversas vertentes. O objetivo principal será o mesmo: a equidade de gênero.
Muitas mulheres já estavam organizadas no final do século XIX pedindo melhores condições de trabalho e a garantia de direitos para a população feminina, o que é relatado em diversos filmes sobre a luta feminista. Em 1908, como resultado de todas essas articulações, aconteceu uma manifestação nos Estados Unidos que recebeu o nome de Dia da Mulher.
Ela foi organizada por socialistas e operárias estadunidenses que se reuniram nas ruas, no último domingo de fevereiro daquele ano. Em 1909 a manifestação se repetiu com a participação 2 mil pessoas, em Manhattan.
Em 1910, aconteceu o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca. Nessa ocasião, Clara Zetkin propôs a criação do Dia Internacional da Mulher, mas não chegou a definir uma data.
Clara era alemã e participava do movimento operário, tendo se dedicado fortemente à conscientização feminina. Ela fundou a revista Igualdade, que durou 16 anos (1891 - 1907) e chegou a ser deputada em 1920.
No meio dessa efervescência de movimentos trabalhistas na Europa e nos Estados Unidos, ocorre um grande incêndio na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company, em Nova York. A tragédia aconteceu em 25 de março de 1911, matando 125 mulheres e 21 homens que trabalhavam no local.
As condições de trabalho na época eram das piores: jornadas de 14 horas diárias de trabalho por seis dias durante a semana. A empresa tinha 600 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, que tinham entre 13 e 23 anos.
O ocorrido serviu para reforçar a importância dos movimentos sindicalistas para a segurança dos trabalhadores e também para as mulheres, pois ocupavam a maioria nesses espaços e tinham condições de trabalho piores do que as dos homens.
Vários outros movimentos ocorreram após o incêndio pedindo redução nas jornadas de trabalho e outros direitos básicos com foco nas trabalhadoras. Em 1915, por exemplo, Clara Zetkin organizou uma conferência sobre a mulher.
Na Rússia, houve uma grande greve de trabalhadoras do setor da tecelagem, em 8 de março de 1917. As operárias pediram apoio aos metalúrgicos e o movimento foi capaz de reunir milhares de participantes e influenciar a Revolução Russa.
Aos poucos, as pessoas foram aderindo o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, em referência à greve russa. Muitas pessoas acreditam que o dia tenha sido criado em homenagem ao incêndio em Nova York, mas isso não é verdade.
Segundo a socióloga e professora da Universidade de São Paulo (USP), Eva Alterman Blay - que usamos como referência para contar todos estes acontecimentos -, a escolha não ocorreu por conta da tragédia na Triangle, mas o fato pesou junto com as fortes dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras e as perseguições que elas sofriam por apenas pedir o que deveria ser um direito. Por isso, foi um marco adicionado junto às lutas das mulheres.
Clara Zetkin foi, portanto, a responsável por instituir e articular a proposta de um dia internacional para a luta das mulheres, mesmo que não tenha levantado uma data específica. Mas, claro, precisávamos de uma marcação oficial.
Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) institucionalizou o Dia Internacional da Mulher como 8 de março e hoje podemos relembrar a história de resistência feminina para continuar a caminhada juntas.