Linguagem neutra: por que usar e dicas para respeitar todes!
Publicado em 28 de junho de 2021 às 18:11
Por Luísa Silveira de Araújo
Assuntos como sexualidade e identidade de gênero ganham cada vez mais espaço e importância na sociedade. Mas, mesmo assim, muita gente ainda se recusa a aderir a linguagem neutra ou a utilizar os pronomes adequados para cada pessoa. Vamos explicar um pouco sobre a importância desse tipo de linguagem e dar dicas de como respeitar a existência de todes!
Não-binárie e linguagem neutra: como respeitar a todes Não-binárie e linguagem neutra: como respeitar a todes© Markus Spiske / Unsplash
Rô Vicentte é artista não-binárie
Lucas Tavlos fala sobre não-binariedade em seu Instagram
Confira dicas para sempre respeitar os pronomes de alguém
Não-binárie é um termo guarda-chuva para várias identidades de gênero
No Brasil, quase 3 milhões de pessoas são não-bináries ou transgêneres
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Desde maio, redes sociais têm se atualizado, permitindo que usuários mostrem em seus perfis os seus pronomes de escolha. Isso é um grande passo para a comunidade LGBTQIAP+, que cresce cada vez mais no Brasil. Estudo publicado pela Scientific Reports em janeiro de 2021 aponta que quase 2% da população brasileira é transgênera ou não-binária - o que equivale a cerca de 3 milhões de pessoas.

Com a evolução da sociedade, permitindo que pessoas dos mais diversos sexos, sexualidades e identidades de gênero se mostrem como realmente são, é natural que a linguagem e a língua, como um todo, evoluam também. Mas na prática, não é tão fácil assim.

"Se dentro da nossa comunidade LGBTQIA+ é complicado falar sobre esse assunto, fora dessa bolha é mais ainda. Por isso, acredito que as redes sociais têm um papel muito importante na hora de inserir o assunto no dia a dia", afirma Lucas Tavlos, compositore e cantore de 28 anos.

O linguista e professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Danillo Silva, também ressalta que muitos dos termos que usamos hoje trazem à nossa mente a figura exclusiva de homens. "Na prática, quando dizemos 'todos' não estamos dizendo 'homens, mulheres e todas as possibilidades de gênero'. Quando dizemos 'todos', estamos dizendo 'todos os homens'", afirma o profissional, que também é membro da Comissão de Diversidade, Igualdade e Inclusão da Associação Brasileira de Linguística (Abralin)

Por isso, é essencial entender identidades como a não-binariedade e ficar ligade em formas de respeitar todas as pessoas!

Em seu perfil no Instagram, Lucas Tavlos (@lucas_tavlos) fala sobre a não-binariedade © Instagram, Foto: @camilaadukefotografia
O que é não-binariedade?

Cada vez mais, pessoas de diferentes idades e grupos vêm assumindo sua identidade de gênero e reafirmando como gostam de ser tratadas. Com isso, temos mais oportunidades de discutir assuntos relevantes, não só para a comunidade LGBTQIAP+, mas para todes que vivem em sociedade.

Rô Vicentte, de 25 anos, explica que a não-binariedade é uma porta para além das duas opções de gênero (feminino e masculino, as quais muitas vezes somos submetides). "É uma descoberta que podemos ir muito além do que só um ou outro. Às vezes podemos ser os dois ou nenhum deles. Gênero não precisa ser quadrado, com apenas uma saída", afirma e atore, criadore de conteúdo e produtore de 25 anos, que utiliza pronomes masculinos, femininos e neutros.

Além disso, Vicentte também aponta que, se alguém não se identifica com o gênero que está performando, vale uma reflexão: "Se olhe no espelho e veja que você pode ser muito mais do que a sociedade determinou. Ser não-binárie é se descontruir e se reconstruir diariamente. É se livrar de rótulos e entender que não existem regras para se viver".

Como Rô falou, é importante lembrar que a não-binariedade é um termo guarda-chuva, o que significa que há várias subdivisões dentro dessa definição. Existem pessoas gênero-queer, agêneros, gêneros-fluídos e diversas outras identidades, como explica a página Orientando, focada em disseminar conteúdos educativos sobre a comunidade LGBTQIAP+.

Por fim, Lucas reforça que ser não-binárie não é uma questão temporária ou uma moda específica. "Isso não é algo novo, não é uma tendência norte-americana ou da internet. Nós sempre existimos e, como todas as existências para além da binariedade, fomos apagades e silenciades", afirma.

Rô Vicentte também utiliza o Instagram (@bixanarua) para falar sobre a temática
 © Instagram, @bixanarua
A língua está sempre mudando

A língua está sempre em processo de mudança. Seja com o novo Acordo Ortográfico brasileiro de 2009 ou com a alteração de nome de profissões no inglês. Hoje, por exemplo, termos como "fireman" (bombeiro) e "policeman" (policial) caíram em desuso, sendo substituídos por "firefighter" e "police officer" - sem o termo "man", que significa homem e, portanto, excluía totalmente as trabalhadoras femininas.

Mesmo assim, muitas pessoas afirmam que adotar a linguagem inclusiva e termos neutros poderia destruir a língua portuguesa. Não é o que pensa o professor Danillo Silva. "A língua é parte da cultura. Por isso, a variação linguística não é uma exceção ou um defeito. Ao contrário disso, é uma característica inerente à ela. A língua é social e, por isso, feita por quem a utiliza no seu cotidiano e é fato que esses usos já existem e já compõem a vida de muitas pessoas", afirma.

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Assim, é fácil concluir que se negar a tratar uma pessoa pelo gênero que ela se reconhece ou, ainda, tentar inserir a pessoa em um padrão binário, é uma violência. É uma forma de desrespeito e apagamento daquele ser-humano, com suas características e preferências próprias.

Atualmente, existem diversas formas de se referir a alguém que prefere utilizar pronomes neutros. Ao passo que técnicas como @ e x - "el@s" e "todxs" - não são tão usadas, por dificultar a leitura, podemos optar por "ili"/"elu", "dili"/"delu", "todes" etc.

Placa diz: "Olá, meus pronomes são..." © Sharon McCutcheon / Unsplash
Dicas para respeitar o pronome de todes

Mas, afinal, quando utilizar os pronomes neutros? A resposta é mais fácil do que parece: depende. Cada pessoa terá sua própria forma de se identificar, por isso, a maior dica de todas é perguntar quais pronomes aquele indivíduo usa. "Isso deveria ser uma pergunta básica para todes. Não podemos mais supor como uma pessoa quer ser tratada, é necessário perguntar. Isso gera empatia, conforto e evita situações transfóbicas e vergonhosas", afirma Rô Vicentte.

E atore também ressalta a importância de falarmos sobre isso com crianças e adolescentes, tornando o assunto pauta em muitos lugares. "Fazer com que as pessoas saibam que existe uma linguagem neutra e que tem pessoas que se identificam com essa linguagem, já é o primeiro passo", afirma Rô que espera que, daqui a alguns anos, a linguagem neutra seja incluída em disciplinas escolares.

O professor Danillo compartilha da expectativa e afirma que essa já é função dos professores em salas de aula. "Segundo a Base Nacional Comum Curricular, um dos eixos norteadores do ensino de língua portuguesa é a diversidade linguística. Ou seja, é papel da escola aproximar a sala de aula da vida social e fazer com que os conhecimentos estejam conectados com o mundo fora dos seus muros", aponta.

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Já para quem organiza eventos, faz seleção de vagas de trabalho ou escreve editais e fichas que requerem marcação de gênero, também vale atenção. "Hoje já vemos alguns órgãos utilizando a nova forma de linguagem e até mesmo reconhecendo outras possibilidades de gênero. Acredito que, aos poucos, as pessoas vão entender mais e vamos rir de quem um dia disse que era besteira", comenta Lucas.

Rô Vicentte também aponta que por trás da recusa em utilizar os pronomes adequados, há a LGBTQIAP+fobia - portanto, fazer questão de usar termos que abrangem diversos indivíduos e sempre optar pelos pronomes escolhidos de cada um é uma missão contra o preconceito e a intolerância. "Ninguém quer sair do seu posto de privilégio. A resistência em aderir a linguagem neutra pode ser uma falta de informação sobre a causa, mas em sua maioria é um preconceito enraizado por uma cisgeneridade compulsória", conclui.

Por isso, o Purebreak te convida a utilizar pronomes neutros no dia a dia e fazer pequenas mudanças para espalhar a mensagem para o máximo de pessoas possíveis. Juntes podemos construir um mundo melhor para todes!

Palavras-chave
Entrevista LGBTQIAP+ Comportamento Preconceito Diversidade