Marina Ruy Barbosa foi alvo de polêmica nas redes sociais no último domingo (29), após repostar stories em seu Instagram. A imagem, no caso, era de uma conta que mencionava a importância da representatividade - e era possível ver duas crianças ruivas admirando uma foto da atriz em um shopping.
Logo, Marina foi criticada por alguns internautas, já que o termo "representatividade" estaria muito relacionado à luta das minorias políticas, principalmente no caso de pessoas negras, já que é uma discussão sobre características físicas - como cabelo ruivo. Por outro lado, muitos defenderam Ruy Barbosa alegando que os ruivos também são minorias, sofrem bullying e são pouco representados.
O assunto, sem dúvidas, levanta uma discussão bem complexa, com vários pontos de vista. Apesar do repost de Marina Ruy Barbosa não ter nada relacionado à representatividade em si - sendo apenas uma tentativa de agradecer pelo carinho das crianças -, utilizar o termo quando falamos de uma minoria numérica como os ruivos pode ser bem complicado. O Purebreak te explica o porquê da polêmica nestes 4 pontos a seguir!
Existe a minoria numérica, ou seja, quem está em menor número no país. Os ruivos com certeza fazem parte dela. Inclusive, outros grupos como homens e brancos também são minoria numérica no Brasil, já que mulheres representam 51,8% da população e os negros 54%, de acordo com dados do PNAD Contínua e do IBGE, respectivamente.
A grande questão é a minoria política. Quem tem menos representantes em cargos políticos, quem tem maior dificuldade em conseguir emprego, quem tem mais chance de sofrer violências ao longo da vida etc. Esse tipo de minoria se refere, então, à "proibição", mesmo que indireta, dos direitos mais básicos, como de ir e vir.
Bullying é um problema sério, que precisa ser combatido. E qualquer pessoa - independente de raça, gênero, orientação sexual, religião e classe - pode passar por isso! Muitos, por exemplo, foram contra às críticas feitas à Marina Ruy Barbosa pelo fato de conhecerem ou terem sido ruivos que sofreram bullying. Isso é um fato inegável, mas é preciso reconhecer também que a vivência de ruivos na infância é diferente da de pessoas negras.
Virar piada, ser taxado de "feio" ou não ter amigos com certeza pode magoar e marcar alguém para sempre. Porém, conviver com racismo traz marcas ainda mais fundas e específicas - como fazer com que uma pessoa tenha medo de andar na rua, sempre esteja alerta, se torne principal alvo de suspeita em lojas e comércios.
Querer colocar as duas realidades com o mesmo peso é complexo. E o termo "representatividade" tão usado por minorias políticas acaba fazendo isso, mesmo que não tenha sido a intenção. Precisamos ter cuidado com as palavras usadas, exatamente para não sermos mal interpretados.
Em países de maioria branca, como Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda, ruivos são ainda mais perseguidos e excluídos na infância. Querendo ou não, não é o caso do Brasil. Ter os fios bem vermelhos e sardinhas pode virar motivo de piada, mas para a sociedade, como um todo, ser ruivo não carrega uma série de preceitos sobre sua ética, moral ou personalidade.
Se esse fosse o caso, não teríamos tantas pessoas pintando o cabelo com a cor e até mesmo fazendo sardinhas falsas no rosto - uma super tendência na maquiagem recentemente. Quando vemos pessoas querendo se assemelhar a pessoas negras, normalmente acontece para fazer uma representação caricata e ofensiva desse grupo, como é o caso do "black face". Isso, por si só, mostra o peso completamente diferente que as duas realidades têm.
Por fim, muitas pessoas afirmaram que quem estava criticando a escolha de palavras repostadas por Marina - a atriz, em si, não escreveu sobre representatividade - estaria "competindo" para ver quem era mais oprimido. Querer reconhecer que pessoas negras têm uma vivência específica em nosso país, preenchida de muita violência, repressão e exclusão há séculos, não é uma tentativa de competir.
Aliás, quem gostaria de ganhar essa competição? É apenas uma forma de frisar o racismo, ainda tão presente no Brasil, e destacar o quão longe ainda precisamos ir. As pessoas que se sentiram ofendidas com a fala sobre "representatividade ruiva" têm o direito de estar e cabe a nós tentar entender esse lado, antes de simplesmente argumentar que "ruivos também sofrem".