Como o caso Kathlen Romeu pode ensinar empresas a contribuir na luta antirracista
Publicado em 9 de junho de 2021 às 19:50
Por Larissa Barros
Na última terça-feira (08), Kathlen Romeu, uma jovem grávida de 24 anos, foi morta após ter sido baleada no Complexo do Lins, no Rio de Janeiro. A tragédia repercutiu muito nas redes sociais e a coisa ficou mais séria ainda depois que uma marca de grife, em que carioca trabalhava, resolveu fazer uma campanha um tanto controversa. A empresa foi acusada de racismo e o assunto está gerando muito debate.
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Após a morte de Kathlen Romeu, uma jovem grávida de 24 anos, vítima de bala perdida numa troca de tiros durante uma operação policial no Complexo do Lins, Rio de Janeiro, na última terça-feira (08), a internet ficou tomada por comentários sobre o ocorrido. Posts sobre a morte de mais uma mulher preta e moradora de comunidade, mas as coisas ficaram ainda mais complicadas após a empresa em que ela trabalhava como vendedora criou uma campanha com seu nome.

Kathlen era vendedora da Farm, que fez um post em seu Instagram com a hashtag #justiçaporkathlen, acompanhada de uma campanha de vendas em que toda a comissão dos produtos vendidos com o código da jovem seriam entregues para sua família: "toda venda feita no código de Kathlen - XXXX - terá sua comissão revertida em apoio para sua família".

Eles também lamentaram a morte da carioca: "Sabemos que nada que fizermos poderá trazer Kath de volta, mas nos comprometemos a acelerar ainda mais nossos processos de inclusão e equidade racial para transformar as cruéis estatísticas que levam vidas jovens negras como a de Kath a cada 23 minutos no nosso país". Após verem a repercussão do post, eles editaram e ficou assim:

Farm é acusada de racismo

A atitude da empresa repercutiu da pior forma nas redes sociais, sendo considerada racismo, já que eles usaram a imagem de uma mulher negra morta para promover suas vendas, e se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter, com pessoas explicando o motivo disso ter sido errado e expondo comportamentos antigos:

Como empresas podem contribuir com a luta antirracista?

A filósofa e ativista Angela Davis já explicou antes: "não basta não ser racista, é necessário ser antirracista". A forma como grandes empresas lidam com a luta contra o racismo mostra como sua estrutura lida com as vidas negras e como se comportam em relação às suas dores. Por isso, é preciso adotar medidas para ir contra ele e listamos algumas formas para começar.

Estudar sobre o assunto

O primordial é que empresas comecem pelo básico, que é discutir sobre o tema, de forma real e, se possível, com a presença de estudiosos da área. A educação racial é o pilar para o início da consciência antirracista, investir em treinamentos voltados à isso é um passo válido.

Apoiar pessoas pretas

Apoiar pessoas, empresas e projetos liderados por pessoas negras ou pessoas ligadas ao avanço dessa pauta no Brasil. Quando falamos de negros trabalhando, em cargos de nível sênior ou maiores, a porcentagem não é animadora e isso prova que o racismo estrutural não é mentira e que essa população ainda luta diariamente para conquistar seu espaço.

Também é preciso ir contra o costume do "negro único", ou seja, não basta ter uma pessoa negra no seu quadro de funcionários para achar que seu negócio está indo contra o racismo. É necessário diversificar, contratar mais pessoas negras, apoiá-las, ajudá-las a chegar em cargos sêniores, a alcançarem o sucesso profissional e validar esse sucesso.

Responsabilidade histórica

Cada ser humano brasileiro sabe que a escravidão é uma sequela histórica que vamos carregar para sempre, mas não podemos negá-la e nem silenciá-la. Até serem homogeneizados pelo processo colonial, os povos negros existiam como etnias, culturas e idiomas diversos. É de extrema importância lembrar da responsabilidade histórica, não como um julgamento, mas entender que o racismo foi criado pela branquitude e deve se responsabilizar por ele.

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