Você já ouviu falar da Nath Finanças, né? Mesmo que ainda não tenha parado para seguir as suas dicas, é provável que já tenha visto algum meme divertido com o seu rosto pelo Twitter. Pois é, falar sobre educação financeira nunca foi tão divertido até Nathalia Rodrigues estourar na internet. Com mais de 1 milhão de visualizações no YouTube, 231 mil seguidores no Instagram e 395 mil no Twitter, a estudante de Administração tem transformado a vida de muita gente. E engana-se quem acha que ela foi pega de surpresa, viu? Nath se planejou muito antes de começar a criar conteúdo para a internet. Ela só não estava preparada para os ataques de haters. Em entrevista ao Purebreak, a youtuber contou como lida esse tipo de assédio.
"A gente se subestima muito, eu jamais pensei que eu viraria um meme positivo", revela Nath, que hoje já faz parte do time de colunistas do El País. Mesmo assim, ela sabe o quanto esse sucesso também é perigoso. "É uma responsabilidade imensa. Quando você cresce muito rápido, também vem o cancelamento muito rápido. As pessoas começam a procurar. 'Por que essa menina tá ficando famosa? Vamos procurar se ela falou alguma coisa ou se disse algo que não seja legal para comunidade''", reflete. Apesar de receber muitas respostas positivas referente ao seu trabalho, a jovem de 22 anos já perdeu a conta de quantas vezes foi atacada por simplesmente opinar sobre algum assunto.
No início deste ano, após ceder uma entrevista para a BBC Brasil, um comentário negativo sobre o seu trabalho repercutiu bastante no Twitter. Nath foi chamada de "coach de pobreza". Na época, mesmo sem se sentir preparada para lidar com esse tipo de situação, foi conversar com o responsável pelo ataque. "Enquanto você tá aí criticando, tem um bando de gente de baixa renda pagando tarifa bancária pra banco. Tem gente se aproveitando das informações pra ganhar dinheiro. Sendo que essas informações poderiam ser gratuitas. Entender sobre economia doméstica é algo importante para quem é baixa renda. Se você sabe que não precisa pagar tarifa bancária e entende termos financeiros, com certeza sua situação financeira fica bem melhor", declarou.
A Nath Finanças se tornou uma pessoa tão influente, que até conselhos do Emicida já recebeu. Aliás, foi o músico quem disse que ela deveria se concentrar nas pessoas que ajudou e não no restante. "Se você focar no hate, você não vai trabalhar", conta. Além disso, no episódio do "coach de pobreza", muitos seguidores também a defenderam. "Foi muito positivo o contraponto das pessoas falando 'não fala assim da Nath porque ela me ajudou a sair do cheque especial'", revela a fluminense.
O crescimento do seu alcance, principalmente no Twitter, fez com que Nath começasse a falar sobre outros conteúdos. Na verdade, isso meio que se tornou uma cobrança. "Eu sinto que na internet, quando você tem um alcance muito grande, as pessoas cobram subir hashtag e se posicionar sobre um assunto que, às vezes, não faz sentindo. Eu já tenho a minha opinião, as pessoas já sabem. É tipo ficar me posicionando contra o Bolsonaro. Todo mundo sabe. Eu preciso ficar falando toda vez?", diz.
Mas a pior parte é quando Nath resolve emitir suas opiniões sobre economia. A estudante é sempre desqualificada de alguma forma. "Existe muito ataque misógino, dizendo que mulher não pode falar sobre economia. Tentam tirar a minha credibilidade por causa da minha idade e também recebo ataques de pessoas falando do meu cabelo", detalha. Para Nath, influenciadores brancos que falam sobre economia não recebem nem 1% dos ataques que ela sofre.
"O Eduardo Moreira, que eu gosto bastante, posta muito contra os bancos. Se eu postar o mesmo, vai vir um monte de gente me atacar", afirma. Assim como Eduardo, a jovem também já fez algumas críticas sobre o Paulo Guedes, nosso atual ministro da Economia. Mas, enquanto ele foi aplaudido, Nath só recebeu agressões. "Eu recebi imensos ataques misóginos e racistas. Pelo simples fato de discordar do Paulo Guedes. E eu vejo que não é só porque eles discordam de mim, e sim porque eles me odeiam, porque eles são racistas. Imagina se eu fosse uma influenciadora branca falando sobre baixa renda, você acha que eu ia receber esse ataque todo? Não, eu ia ser ovacionada", destaca.
"O meu corpo não é visto como o de alguém que trabalha no mercado financeiro, e sim para trabalhos de classe operária. Já recebi mensagens do tipo: 'Eu vejo você como diarista, não no mercado financeiro"', revela. Além de ser uma mulher de 22 anos, Nath não tem dúvidas de que a cor da sua pele é mais um motivo para tanto preconceito. "É sempre falando que eu sou burra, que eu não entendo de nada, que não sabem como as pessoas me seguem, que eu só falo o óbvio e que tudo o que eu faço é ruim", relata.
Bom, agora você deve estar se perguntando: como a Nath Finanças ainda tem forças para continuar produzindo conteúdo na internet? "Terapia. É essencial, é um investimento que eu faço. Quem cria conteúdo pra internet, tem que investir em terapia", alerta. De qualquer forma, é importante ressaltar que ela também recebe muito feedback bom. "Eu tento só olhar os comentários construtivos das pessoas e no que preciso melhorar. E os comentários positivos também, pra continuar motivada a criar conteúdo", explica.
E mesmo se mostrando muito consciente, Nath não nega que tem medo de ser cancelada. Antes de escrever qualquer coisa no Twitter, que a mesma apelida de "terra de ninguém", ela pensa em, pelo menos, 10 interpretações que o seu tweet pode ter. "Sempre vão esperar você errar e eu assumo, eu tenho medo de errar. Se eu errar, não tem jeito, não tem perdão. Não tem perdão pra algumas pessoas. Quando uma pessoa preta erra, não tem perdão", reflete.
Mas, para o terror de quem tenta o tempo inteiro diminuir a potência de Nath, ela está longe de querer desistir. Na verdade, a estudante de Administração já pensa em fazer outra faculdade e mudar o conceito de economista que nós conhecemos. "Como eu vou me formar em administração, quero fazer minha faculdade de economia para entender mais ainda sobre toda a questão macro e debater com esses homens brancos economistas que fazem várias especulações sobre o mercado financeiro por interesses próprios", revela.
E apesar do debate racial não ser o principal foco do seu trabalho, Nath Finanças entende a importância que tem ocupar esse espaço. "Quando eu criei o canal, eu não pensei em falar o tempo todo sobre questões raciais. Pensei em falar sobre o racismo no mercado financeiro. Mas eu parei pra pensar: eu estar criando conteúdo, morando na periferia e sendo uma mulher preta, já é um ato revolucionário", conclui.