Não é nada comum vermos a favela ser mostrada como algo que não seja perigoso ou ruim, principalmente nas produções nacionais. O estigma deixado pelo preconceito não faz com que as pessoas, sendo elas jovens ou não, se sintam representadas em filmes ou séries produzidas no Brasil. Quando KondZilla - empresário e produtor que cresceu na periferia de São Paulo - se uniu a Netflix , ficamos ansiosos para ver o que ele iria mostrar na série "Sintonia".
Pois KondZilla, a Netflix e a produtora Losbragas se uniram para mostrar com fidelidade a realidade do jovem de favela. Nando (Christian Malheiros), Rita (Bruna Mascarenhas) e Doni (MC Jottapê) são apenas três representações de histórias de adolescentes, mas a necessidade de seus papéis é super importante numa realidade em que nem tudo é mostrado da forma que realmente é.
Muitos jovens da favela já ouviram de quem não mora no local: "mas você já viu/pegou uma arma?". É claro que existe o crime, mas não é por isso que todo morador pega numa arma ou são seduzidos pelo "dinheiro fácil" e rápido que o tráfico oferece. A história de Nando mostra como o adolescente faz de tudo para alcançar um "cargo" maior no mundo do crime. Por isso, ele precisa fazer algumas coisas imperdoáveis e a realidade no dia-a-dia de quem escolhe esse caminho é essa, infelizmente.
O ator Christian Malheiros cresceu na favela e mostrou sua visão sobre o interesse da mídia nesse território: "Você só vê câmera quando matam alguém lá, o resto do ano você não vê nenhuma. É muito louco porque os caras invadem o seu espaço, estão invadindo seu espaço, 'tá' filmando a tua casa, a porta da tua casa, pode 'tá' tua filha, tua criança ali. Então sempre foi uma falta de respeito, entende?".
A vitória para quem mora na favela e precisa aprender a lidar com a presença do crime, pobreza e outras dificuldades que só quem vive entende, é com certeza mais saboreada e bonita do que a maioria. A produtora da série, Rita Moraes, revelou que ela e os produtores pensaram em dar destaque para o jovem: "Pra Losbragas, o grande negócio dessa série é isso. A gente precisa dar voz para as pessoas que tem essa voz original, única, jovem. Porque se você faz uma coisa que é muito local e verdadeira, o potencial dela é global".
É preciso que a realidade desses locais seja representada de forma real e respeitosa, para que assim crie uma consciência coletiva de que pessoas que moram ali merecem as mesmas coisas que as outras, merecem que suas histórias sejam contadas e merecem representatividade.