"Crepúsculo" está completando dez anos do seu fim nesta quarta-feira (16). "Amanhecer - Parte 2" estreou nos cinemas em 2012 e entregou o capítulo final da saga que tanto amamos. Na época, nós, fãs, defendíamos com unhas e dentes a franquia e nem conseguíamos ver problema algum no relacionamento tóxico de Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson), ou no fato de Jacob (Taylor Lautner) ter um "imprinting" com um bebê... Tudo isso nos faz acreditar que os longas seriam cancelados pela internet se estreassem hoje em dia e estas são as provas.
Bella estava disposta a morrer por Edward e ele mesmo tenta tirar a própria vida quando Alice (Ashley Greene) tem uma visão com a protagonista morta. Além dela deixar de viver quando fica sem o namorado, se distanciar de todos os amigos para ficar com ele e romantizar todo o conceito de "amar até o coração parar de bater - ou até depois disso", Edward é bem controlador e possessivo em muitos momentos.
Essa combinação é perfeita para idealizar um romance nada saudável e inspirar casais tóxicos. Depois que a discussão acerca desse tema e o feminismo ganharam espaço nos nossos ciclos, um par romântico desses jamais seria aceito hoje em dia.
Outra coisa muito problemática é o fato de Bella trair seu namorado enquanto ele está distante. Ela não só se envolve com Jacob (Taylor Lautner) quando Edward se faz ausente, como tem vários momentos de flerte com o lobisomem em "Eclipse", chegando a dormir abraçadinha com ele. Ainda que entendamos as razões dela, se acontecesse com um casal da vida real seria algo bem polêmico.
Pior do que isso só a justificativa de que a conexão que Jacob tinha com Bella na verdade era só um precedente do seu verdadeiro amor: o filho dela com Edward, Renesmee. Jacob tem um "imprinting", que é tipo um "amor à primeira vista", que acontece de forma mais intensa entre lobos e aquelus que vêm a ser os amores das suas vidas. Como se não fosse bizarro o suficiente ele já ter esse sentimento com a filha da mulher que ele amava, isso acontece quando ela ainda é uma bebê!
E nós precisamos falar sobre a relação que os irmãos Cullen têm entre si! A franquia tenta normalizar o fato deles se relacionarem amorosamente, justificando que estaria tudo bem pelo fato deles não serem relacionados de forma biológica. Mas de qualquer forma, é como se eles fossem irmãos adotivos, crescendo na mesma casa e com a mesma família. Não dá pra não achar no mínimo estranho, né?!
Antes já era problemático, só que hoje em dia uma saga só contar com pessoas brancas e padrões como protagonistas é ainda mais bizarro. Você consegue contar no dedo de uma mão os personagens negros que aparecem ao longo de toda a franquia. E a maioria dos astros têm corpos super sarados, independente de ser vampiro, lobisomem ou humano.
Mais um problema da trama é a construção de Bella Swan como protagonista. Fato é que a personagem fez história naquela época, ao ser uma jovem menina e mesmo assim se tornar o rosto de uma das maiores saga dos cinemas até então. Mas que representação foi essa?
Todo o arco da Bella gira em torno do seu relacionamento e seu desejo de se tornar vampira é guiado pela sua vontade de ficar com Edward para o resto da sua vida. Quando algum conflito acontece, sempre está relacionado às suas relações amorosas, como se ela não fosse ninguém além disso. Nos filmes, quase não conhecemos seus desejos, sonhos e temos até certa dificuldade em acessar sua personalidade. Mas entendemos rapidamente qual (is) homem (ns) definirá (ão) sua história.
Enquanto coloca o vampiro que a distancia de todes que ama em um pedestal, Bella destrata várias vezes sua família. A adolescente é extremamente ingrata com todos os cuidados que seus pais têm com ela e é uma filha bem problemática, saindo sem avisar, brigando com Charlie (Billy Burke) e quase nunca demonstrando que se importa com eles.
Quando chega em Forks, Bella quase não conhece ninguém e acaba fazendo amizade com um grupo de estudantes da sua escola. Eles que contam para ela quem é Edward, o garoto misterioso e gato que faz sucesso na cidade. Assim que a protagonista começa a se relacionar com ele, esquece completamente do seu grupo de amigos e desmarca compromissos com eles sem nem avisar. Ao longo dos filmes, mal vemos os personagens de novo, como se fossem completamente descartáveis.