Depois de quase dois anos de muita preocupação e perdas irreparáveis, o Brasil começa a se aproximar de uma normalidade. Mesmo com esforços contrários de importantes figuras do governo, estamos com mais de 60% da população totalmente vacinada, de acordo com Our World in Data, e eventos, shows e festivais começam a ser marcados para o ano que vem.
Mas, com isso, outras partes da rotina - aulas, trabalho, consultas médicas - também estão prestes a voltar para o esquema híbrido ou totalmente presencial. Se em 2020 isso era o sonho de todos, agora, depois de meses de bastante medo, não temos mais certeza se o dia a dia do "lado de fora" era tão legal assim.
Para te ajudar nessa readaptação, conversamos com a psicóloga Isabela Vieira que explicou um pouco sobre a preocupação que muitos podem ter nesse retorno "à normalidade" e também deu dicas para controlar a ansiedade. Confira!
Falando desse jeito pode parecer confuso, afinal, a ideia é retomar atividades e compromissos que sempre fizemos presencialmente mas que, desde 2020, foram interrompidos pela pandemia do coronavírus. Mas, na prática, a coisa pode ser mais difícil do que parece por vários motivos, como explica Isabela Vieira.
"Algumas pessoas, por exemplo, já apresentavam o que chamamos de ansiedade social - que é um tipo de ansiedade ativada em situações onde estamos nos sentindo expostos ao julgamento e observação das outras pessoas. Assim, quando passamos para o distanciamento social em casa, elas se viram em um contexto de 'proteção' dessa exposição. Hoje, voltando às aulas ou trabalho presencial, esses locais podem gerar mais desconforto do que antes", aponta a psicóloga.
Por outro lado, até mesmo quem adorava sair de casa e estar em situações sociais com muita interação pode também sentir o impacto da retomada do presencial. É preciso lembrar que definitivamente não somos os mesmos que erámos no começo de 2020, já que enfrentamos uma crise sanitária inédita até então. "Devido às nossas mudanças no padrão de interação - como manter uma certa distância das pessoas e não cumprimentar fisicamente - alguns indivíduos podem passar a temer ou sentir inclusive sintomas parecidos com um ataque de pânico em situações em que há aglomeração, como no transporte público", afirma Vieira.
Partindo do pressuposto de que é um problema sério, que qualquer um de nós pode enfrentar e que, muitas vezes, não vamos ter escolha, é preciso pensar: como passar por essa retomada das atividades presenciais, sem prejudicar tanto a saúde mental? A psicóloga indica que a pessoa tenha em sua mente um plano de ação para quando a ansiedade aparecer.
Vale reparar, por exemplo, locais em que o sentimento costuma ser mais agudo: dentro de um escritório, na sala de aula ou ainda no transporte público. Tudo vai depender da sua rotina e como foram seus meses de quarentena durante o ápice da pandemia.
Uma das primeiras dicas que a psicóloga Isabela Vieira dá é tentar ir para outro local. Por exemplo, se está na sala de aula, pode pedir para ir ao banheiro ou ficar alguns minutos no pátio. O mesmo vale para quem trabalha em escritórios.
"Se possível, vá para um local tranquilo, beba uma água e tente relaxar", aconselha Vieira. Mas para aqueles que não podem se retirar do local, há outras formas de se acalmar durante uma crise.
Algo que você pode fazer em qualquer lugar a qualquer momento é focar em seu corpo - mais precisamente na sua respiração. "Faça uma respiração diafragmática, que é um exercício de respiração profunda. Existem diversos vídeos no Youtube que ensinam a prática. É simples e efetiva", diz a psicóloga.
Em um momento de grande medo e ansiedade, conversar com alguém que amamos é de grande ajuda. Para isso, você pode falar com algum parente ou até um colega de classe ou trabalho, que pode estar próximo no momento da crise. Diga como está se sentindo e pergunte se pode contar com aquela pessoa, caso a ansiedade venha.
"Ter um contato e alguém de confiança consigo para ligar ou mandar mensagem podem ser estratégias que fazem a diferença. Isso nos leva a perceber que estamos seguros e não estamos sozinhos", lembra Isabela.
Parece óbvio mas manter-se protegido contra o coronavírus é essencial, não apenas para sua saúde física, mas também para a mental - já que grande parte do medo e ansiedade pode vir da possibilidade de se contaminar. "Usar álcool em gel e máscara nos ajuda na percepção de segurança, ainda que já estejamos vacinados", afirma Vieira.
Mesmo se você for uma pessoa que nunca sentiu ansiedade em contextos sociais, não se preocupe - isso faz parte! Se você, por outro lado, sente que o medo que já existia está ainda pior, também não tem problema. Como a psicóloga afirma: "Ninguém está preparado para passar por uma pandemia".
Por isso, manter a calma e ter paciência - apesar de ser mais fácil falar do que fazer - pode ajudar muito. "Ter em mente que a volta ao normal ou ao 'novo normal' é um processo gradual, psicologicamente falando, pode nos ajudar a nos acolher mais nesse momento de readaptação", completa.
É claro que você não é obrigado a passar por isso sozinho! Caso sinta que a ansiedade e o medo estão muito fortes, atrapalhando sua rotina constantemente, não hesite em procurar ajuda profissional.
"A ansiedade é uma resposta normal diante situações de mudanças e adaptações. Mas se você percebe que esse desconforto está atrapalhando, gerando preocupações frequentes, tensão ou ainda sintomas físicos pelo seu corpo, é interessante buscar ajuda psicológica para uma avaliação do quadro", afirma a psicóloga.