Semanas antes das eleições de 2018, que estavam entre Fernando Haddad (PL) e Jair Bolsonaro (até então no PSL), o movimento #EleNão contra o candidato de direita cresceu e artistas começaram a apoiar a hashtag e Anitta foi uma das que mais causou no tema.
Isso porque a cantora foi convidada publicamente por Daniela Mercury e, após dias de silêncio de reflexão, compartilhou um vídeo ressaltando que não era apenas uma hashtag que representava uma posição política. "As nossas atitudes também mostram a nossa luta contra o preconceito, o racismo, o machismo, a homofobia", afirmou.
Desde então, com a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas eletrônicas e início de seu mandato no executivo, Anitta manteve sua posição questionando o político eleito sobre situações que não concordava. Indagar e cobrar de políticos eleitos, que são servidores públicos, é dever de qualquer cidadão.
Um dos primeiros atos da gestão, sobre a Cultura, foi anular um edital de séries com temática LGBTQIA+ para TVs públicas. "Perguntei a eleitores do senhor que não são heterossexuais. Alguns me disseram que o senhor explica tudo em uma live semanal e que as razões eram por conta de verba pública; outros pelo conteúdo ser zero relevante ou de baixo nível; outros me disseram que foi para todo tipo de conteúdo de 'baixo nível', não só LGBT; outros não souberam como opinar. Mas então fiquei confusa. Se a questão é verba ou conteúdos de 'baixo nível', porque o post do senhor se dirige diretamente à comunidade LGBT e não a todo o conteúdo envolvido como me falaram?", escreveu a artista em uma foto das redes sociais do político.
E continuou: "O acusaram de homofobia e o senhor respondeu não ser homofóbico, mas mencionar apenas a comunidade LGBT em seu post, sem legendas ou explicações, não passa a ideia aos seus seguidores de que conteúdo LGBT deve ser banido? Estimula seus seguidores a pensarem que conteúdo familiar não pode ter menção LGBT assim como vi em alguns comentários aqui. Se a decisão tem outros fatores, porque postar apenas a questão LGBT? Escrevo isso com todo o respeito que se deve tratar um governante político." A resposta dela foi hostilizada por apoiadores do presidente e pelo próprio Bolsonaro.
Alvo do presidente, mas com o público ao seu lado, ela eternizou um dos maiores memes de repúdio a Jair Bolsonaro, o "estão chamando Anitta", antes de subir ao Palco Mundo do Rock in Rio 2019. Titi Muller aguardava o início do show, durante a transmissão ao vivo do Multishow, quando disse a frase e virou o microfone para o público, que gritava: "Ei Bolsonaro, vai tomar no c*".
Com a disseminação do vírus da covid-19 e o início da pandemia, Anitta se refugiu inicialmente em sua mansão no Rio de Janeiro e aproveitou o isolamento social para aprender e se aprofundar em temas como política, culinária, meditação, exercícios e francês. Além de se dedicar a ler mais, e diversos, jornais.
Durante uma série de papos no Instagram com a amiga e comentarista política Gabriela Prioli, ela destrinchou o básico do básico da política brasileira. A artista foi acompanhada por centenas de pessoas que compartilhavam com ela dúvidas como: o que faz um deputado? Qual é o papel do presidente? Como a governança se divide entre prefeito, governador e presidente?
Ela também aumentou as críticas públicas ao presidente nas entrevistas que dava para a mídia internacional, principalmente em relação à condução da pandemia. "Há muita controvérsia, muita diferença. Para mim, presidente tem que governar para todos, não só para quem pensa como ele, por isso mudaria. O país está repartido em dois, porque o presidente tem suas ideias de que o vírus não é assim tão importante. Então metade segue as regras, que acha que é importante, e a outra metade não. E isso faz com que o nível de contaminação seja maior, assim como o de mortes", disse ao E! Latino.
Com a pandemia matando cada vez mais brasileiros, já em sua terceira onda, os questionamentos ficaram cada vez maiores. Ela também buscou desacreditar as falas do presidente contra as vacinas que imunizariam contra a covid-19 e propagar informações oficiais sobre os remédios.
"Milhões de vacinas recusadas. A morte do Paulo Gustavo e de vários outros brasileiros não foi um acaso. Tinha prevenção e foi rejeitada. Meu Deus, meu Deus", desabafou a artista, em maio, nas redes sociais.
Além da atenção à saúde, Anitta também criticou a proteção do governo ao meio ambiente, principalmente a defesa da floresta Amazônica. Ela protagonizou diversas discussões públicas com o então ministro do meio ambiente, Ricardo Salles. À época dados oficiais marcavam recordes de desmatamento e queimadas em diversos biomas nacionais.
O ano de Anitta começou com ela morando nos Estados Unidos e dedicada ao crescimento da carreira internacional, mas nada desatenta ao Brasil. No país para uma série de shows pré-carnaval, já com grande parte da população com duas doses de vacina, ela foi uma das protagonistas do início do ano eleitoral.
Isso porque Pabllo Vittar levantou uma toalha com o rosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante seu show no Lollapalooza e o ato foi motivo de uma ação do partido de Jair Bolsonaro (PL) contra o festival. De forma emergencial o Superior Tribunal Eleitoral atendeu ao pedido e estipulou uma multa de R$ 50 mil para futuras manifestações políticas em shows do evento, o que revoltou a classe artística.
Anitta então usou as redes sociais afirmando que quitaria futuros débitos de colegas que se apresentariam no evento, mas não toleraria censura. "50 mil? Poxa... menos uma bolsa. FORA BOLSONAROOOOO. Essa lei vale fora do país? Pq meus festivais são só internacionais", alfinetou.
A carioca ainda incentivou uma campanha da Justiça Eleitoral para que jovens de 16 a 18 anos tirassem o título de eleitor para votarem nesta eleição e declarou seu apoio público à candidatura do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto após acreditar que o político é a melhor opção para uma descontinuidade da atual gestão.
Para tal ela ressaltou que não é petista, que gostaria de uma terceira opção viável para a eleição, mas que não era possível o atual governo se manter por mais quatro anos com a caneta na mão. Com as posições, é claro que a Anitta acuada em 2018 não existe mais e isso é resultado do seu interesse em entender o que acontece no país por diversos ângulos para que ela possa formar uma opinião própria e independente.