O senador Fabiano Contarato se pronunciou contra um tweet homofóbico feito pelo empresário bolsonarista Otávio Fakhoury na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 nesta quinta-feira (30). Fakhoury estava na CPI para dar seu depoimento por ser suspeito de financiar a divulgação de informações falsas sobre a pandemia. Na postagem feita, o empresário insinuava que o senador estaria atraído por algum outro colega por ser homossexual. Nesta quinta, Contarato pôde responder à altura o ato de preconceito e mostrou a importância de termos pessoas da comunidade LGBTQIAP+ ocupando cargos na política.
O tweet em questão foi postado no dia 12 de maio e rebatia um comentário feito por Contarato na rede social com um erro de digitação. Ao invés de escrever que Fabio Wajngarten teria que sair preso da CPI por ter estado flagrancial configurado, ou seja, depois de ter realizado uma infração incontestável recentemente, o Senador escreveu "fragrancial", que parecia remeter a fragrância/perfume.
Então, dando uma resposta em tom preconceituoso, Fakhoury compartilhou o tweet com a legenda: "O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário... Quem seria o 'perfumado' que lhe cativou?".
Nesta quinta-feira, então, durante a CPI da Covid, Contarato aproveitou a ocasião para repreender duramente a atitude do empresário. Em um longo e poderoso discurso, o Senador defendeu a erradicação da desigualdade no Brasil e falou da importância de sua luta para que outres não precisem passar pelo que passou.
"E você não sabe como é que é difícil é para mim expor a mim, a minha família e os meus filhos aqui em um momento tão delicado como esse. Mas é necessário isso para que outros não sofram o que eu estou sofrendo, porque se o senhor faz isso comigo, como Senador da República, imagine num Brasil que mais mata a população LGBTQIA+. Então, o mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpas não só a mim, à toda a população LGBTQIA+, à toda a população. Assim como Martin Luther King teve um sonho, eu também tenho um sonho. Eu sonho um dia em que eu não vou ser julgado pela minha orientação sexual. Eu sonho um dia em que meus filhos não serão julgados por serem negros. Eu sonho um dia em que minha irmã não vai ser julgada por ser mulher. E que meu pai não será julgado por ser idoso. Esse dia ainda não chegou, porque o senhor é o típico da pessoa que retrata muito bem esse Presidente da República, que fala na família, na família tradicional... mas a minha família não é pior do que a sua", argumentou.
O senador Fabiano Contarato resumiu bem nessa discussão a importância da presença de pessoas da comunidade LGBTQIAP+ na política. É sobre isso que falamos quando pedimos mais representatividade em todas as esferas da sociedade. No entanto, mais do que ter pessoas queer no Senado, na Câmara e no Planalto, precisamos que elas lutem pelos direitos da comunidade a que pertencem. É essa representatividade que realmente faz diferença.
O primeiro ponto para entender o porquê de ser tão importante e urgente que mais pessoas LGBTQIAP+ ocupem espaços na política, é perceber que o Brasil carece de direitos para essus indivídues. Segundo dados do Trans Murder Monitoring, o país ocupa pelo 12º ano consecutivo o ranking dos que mais matam pessoas transexuais no mundo. A situação não é tão distante para outres indivídues da sigla LGBTQIAP+, que precisam enfrentar a violência e a exclusão social todos os dias. Então, ter pessoas que defendem essa pauta no meio político é necessário para que o preconceito diminua e que a gente tenha uma sociedade mais segura.
A questão da representatividade atravessa também uma esfera muito subjetiva. Poder se ver refletide em todos os meios da sociedade mostra que aquela realidade também é possível para você. Então, ver minorias ocupando cargos nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, inspira muitas outras pessoas da comunidade a acreditarem que podem chegar lá.
Outro ponto muito relevante é a questão de ter pessoas com propriedade sobre um tema para falarem direito sobre ele. É claro que há casos em que homens brancos auxiliam minorias nas conquistas por seus direitos. Mas, quando ocorre debates sobre a agenda LGBTQIAP+ na política, é necessário que haja pessoas que representem esses indivídues. Que saibam como é ser LGBTQIAP+, que tenham sentido na pele essa realidade e, assim, tenham mais domínio sobre o tema.
Todo cidadão tem o direto de cobrar o poder público, mas a gente sabe que, na prática, é muito mais fácil fazer isso quando você está inseride na política. Os três poderes exercem diferentes funções entre si, mas é essencial que haja em cada um deles pessoas da comunidade LGBTQIAP+ dispostas a cobrar responsabilidade de colegas e da sociedade civil quando casos de preconceito e injustiça ocorrem. Um bom exemplo disso foi o Senador afirmar que irá apurar a responsabilidade por crime de homofobia cometido pelo empresário Otávio Fakhoury. Afinal, não temos mais como aceitar que casos explícitos de descriminação saiam sem impunidade.
E tudo isso serve para um ponto importantíssimo, que diz respeito ao legado que queremos deixar no mundo. Como dito por Contarato, seu discurso é necessário para que outres não sofram o que ele sofreu. Assim, todas as duras lutas que a comunidade LGBTQIAP+ enfrenta atualmente não serão da mesma forma para futuras gerações. Elus precisam ter o direito de pensar em outras pautas, porque a luta pelo mínimo de dignidade de vida da comunidade queer já dura tempo demais.
"Eu quero que eles (seus filhos) tenham a certeza de que eu lutei e vou continuar lutando para reduzir essa desigualdade que há no Brasil".