Representatividade importa e nós precisamos ver cada vez mais minorias que foram excluídas da mídia aparecendo nas telonas. Pensando na necessidade disso, a Marvel Studios tem dado os primeiros, mas significativos, passos em direção à inclusão das pessoas com deficiência (PCD) no cinema. O estúdio já apresentou duas heroínas portadoras de deficiência e esperamos ver ainda mais dessa minoria sendo representada futuramente.
Antes de mais nada, é crucial explicarmos o porquê é importante que pessoas com deficiência e outras minorias ganhem espaço nos filmes, séries e em todas as esferas da sociedade. Grupos minoritários tem sido excluídos da história há muito tempo. Dessa forma, parece que o único lugar que eles devem ocupar é uma posição cheia de restrições, que limitam suas vivências.
No caso de pessoas com deficiência, a caixinha em que são colocadas as resume em dois estereótipos. Ou são indivídues dignes de pena ou pessoas a serem admiradas porque conseguem "vencer" suas condições. As duas formas as restringem à essa única característica. Isso tira delas suas personalidades, suas questões pessoais e suas histórias singulares.
Então, ver PCDs sendo mostradas vivendo diferentes tipos de narrativas, sem serem resumidas à sua deficiência em si, é maravilhoso para que elus possam ver nesses indivídues inspirações para suas próprias vidas. Ver alguém parecide com você na política, esporte, arte e em quaisquer outros meios é muito importante para nossa construção pessoal e é o que nos permite sonhar e acreditar que temos uma chance de nos darmos bem naquilo que desejarmos. É mostrar para o mundo que há espaço sim para qualquer pessoa.
O primeiro grande passo dado pela Marvel Studios para tentar ser um aliado nessa luta foi em relação à personagem Makkari (Lauren Ridloff). A heroína aparece em "Eternos" como uma das integrantes da família cósmica superpoderosa. Seu dom é a sua incrível velocidade, capaz de salvar muitas pessoas. Makkari é a primeira super-heroína surda do Universo Cinematográfico da Marvel, porém não a última. Interpretada por uma atriz também surda, é bonito ver que sua história não se resume à sua deficiência, nem perto disso. É apenas parte dela e não a principal característica da sua existência, mas tampouco sua deficiência é apagada da trama.
Mais um ponto positivo de "Eternos" diz respeito a como a família de Makkari trata ela e a sua condição. Todos eles aceitam a independência da personagem e nunca a colocam em uma posição subalterna, digna de pena ou de inferioridade por parte deles. Makkari é tratada como uma igual entre todos ali. A única diferença é que ela não consegue escutar e nem falar como uma pessoa sem deficiência.
Para contornar essa questão, os Eternos aprendem libras, fazendo com que a comunicação entre eles e Makkari se faça possível. Isso é realmente uma grande lição da Marvel Studios sobre acessibilidade. Os membros da família não fazem isso como um favor ou com má vontade, fazem porque é o certo para que Makkari não seja excluída de suas vidas. Se é tão simples para os seres mais antigos da Terra, por que precisa ser tão complicado para o resto da sociedade?
Depois de Makkari, tivemos o prazer de conhecer Echo (Alaqua Cox). A personagem fez sua estreia na série "Gavião Arqueiro" e deu o que falar pelo fato de muitos não saberem se iria se tratar de uma vilã ou heroína. Esse foi outro feliz acerto da Marvel. Afinal, se pessoas sem deficiência podem ser plurais, retratadas como mocinhos, vilões, anti-heróis etc., por que PCDs teriam que se limitar a somente uma categoria?
Poder acompanhar personagens com deficiência que são multidimensionais é o tipo de representatividade que precisamos ter urgentemente. Por isso, ficamos felizes em saber que Echo irá ter sua própria série no Disney+. A produção dará um bom espaço para a protagonista crescer e explorar o seu passado. O seriado da Marvel Studios fará história ao ter como personagem principal uma PCD, isso por si só já é motivo para assisti-lo quando estrear.
Por último, precisamos ressaltar a felicidade em saber que essas duas personagens incríveis foram interpretadas por atrizes tão incríveis quanto. Colocar pessoas com deficiência de verdade para interpretar heroínas surdas é extremamente necessário. Isso significa que realmente há espaço para PCDs na indústria audiovisual e dá uma realidade maior às vivências experimentadas pelas personagens, sem correr o risco que fique algo caricato ou force a barra.
Antes de Makkari, já havíamos visto o Demolidor (Charlie Cox), por exemplo, sendo adaptado das HQs para uma versão live-action. Só que nenhuma das vezes em que isso foi feito o herói foi interpretado por um ator com deficiência visual.
Mais do que representatividade, precisamos de presença. Estamos muito felizes com o que a Marvel fez até agora, só que ainda temos um longo caminho pela frente se o estúdio realmente quiser para si o selo de inclusivo.
Desejamos que a Marvel tenha muito sucesso com essas heroínas e invista em inclusão cada vez mais. Tem muitos personagens com deficiência nas histórias em quadrinhos da marca que poderiam ser brilhantemente adaptades para os filmes e séries do estúdio. Ou então, uma ótima solução para incluir mais PCDs é fazer o que foi feito com Makkari e adaptar a personagem para os tempos atuais - mais engajados em mostrar a realidade do mundo e aceitando pessoas com deficiência, algo que deveria ter sido feito desde sempre.