Uma semana após a posse do Presidente Lula, o Brasil parou para acompanhar um verdadeiro ataque à democracia. Grupos extremistas organizaram atos terroristas, no último domingo (8), destruindo o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Além de danos aos móveis, obras de artes e artigos históricos foram esfaqueados, queimados e depredados.
O choque e a tristeza de muitos são nítidos, principalmente levando em conta que os locais são do poder público e pertencem a todo o país. Lá dos Estados Unidos - para onde fugiu pouco antes de perder o cargo de Presidente - Bolsonaro não falou muito, desviando sua culpa no ódio e na violência de seus apoiadores e ainda fazendo, mais uma vez, falsos paralelos, tentando culpar a esquerda em um discurso que só seguidores mais alucinados poderiam levar a sério.
O que aconteceu ontem e o ataque aos 3 Poderes não foram protestos pacíficos e tampouco manifestações políticas, mas sim, o auge de todo um projeto de ódio que se apoia em fake news e não se preocupa com a humanidade dos cidadãos brasileiros ou com a manutenção de nossa história.
Ao decretar intervenção federal no estado, Lula falou que garantir a democracia também é manter os instrumentos essenciais para o seu funcionamento. Ou seja, você pode discordar de um Presidente, não achar que suas ações são as melhores para o país - como tantos acharam dos 4 anos de governo Bolsonaro. Você pode até mesmo protestar e mostrar sua insatisfação. Mas, a partir do momento em que você destrói locais públicos e ameaça as instituições democráticas, você é um terrorista.
Mais uma vez, Bolsonaro contou com inverdades para se defender, lembrando das manifestações "de esquerda" de 2013 e 2017, por meio se uma série de tweets. Porém, em 2013, Dilma Rousseff estava no Poder - o que invalida o argumento de manifestantes "esquerdistas", que nunca entraram, de fato, em sedes governamentais, provocando a destruição de patrimônio público. Na época, a própria Dilma condenou queima de ônibus e manifestações violentas, mas garantiu que apoiava o direito do povo de se manifestar - como é esperado de uma sobrevivente da censura e tortura da Ditadura Militar.
Além de diversas investigações contra Jair Bolsonaro - incluindo sua postura desumana durante a pandemia da Covid-19 e dificuldade em comprar vacinas -, os protestos de ontem podem recair também sobre o ex-Presidente. Desde 2018, o político falava sobre fraudes nas urnas, algo que foi constantemente negado. Mesmo sem provas, Bolsonaro sugeriu que vitória de Lula foi fraudada, não reconheceu sua derrota eleitoral e ainda fez pronunciamentos fracos, apenas para "tirar o corpo fora", caso a situação ficasse feia, como ficou.
Para piorar, os atos terroristas em Brasília foram financiados, muito provavelmente, por empresários bem sucedidos. Em conversa para podcast com jornalistas da Globo, Miriam Leitão e Natuza Nery afirmam que os golpistas estavam em bons hotéis e tiveram ônibus e alimentação pagos até a capital. Ou seja, há o interesse de gente muito poderosa e influente em derrubar um governo eleito democraticamente - o que é muito assustador.
A situação é tão séria que até alguns Deputados estadunidenses, como Alexandria Ocasio-Cortez, defendem a extradição de Bolsonaro dos EUA, para que ele seja julgado pela Justiça brasileira. É um momento, então, que vai além de divisões entre direita e esquerda, que superam a "ameaça comunista" - que nunca foi provada, nem aconteceu em mais de 12 anos de governo do PT -, mas que se trata da sobrevivência da democracia.
Após o caos e a violência de ontem, fontes afirmam que a situação está controlada em Brasília. Porém, não há dúvidas de que temos uma longa luta pela frente. Na manhã desta segunda-feira (9), aconteceram protestos na Marginal Tietê, bloqueando vias e impedindo a passagem de trabalhadores em São Paulo. Além disso, conseguimos ver que muitos membros da Polícia não só não condenam os terroristas, como os apoiaram na tentativa de golpe.
Bolsonaristas foram acompanhados por viaturas até a praça dos Três Poderes e demoraram até receberam a repressão devida. Vale lembrar que protestos de professores ou até de comunidades indígenas em Brasília nos últimos anos foram recebidos com muito mais violência do que vimos ontem. No Rio de Janeiro, a violência policial aumenta e pessoas negras que moram em favelas são assassinadas diariamente, mesmo sem envolvimento algum em ações criminosas. Não é o que acontece com quem veste verde e amarelo.
Isso prova que as ações golpistas têm apoio do ex-Presidente, de muitos empresários e da própria Polícia brasileira. Apesar de não ser em sua totalidade, os terroristas dominam frentes importantes do nosso país e, mais uma vez, vale destacar a necessidade de proteger nossa frágil democracia - que em menos de 40 anos de vida já viu tantos ataques, culminando no estrago irreparável de ontem.