"Uma rainha TikToker". É assim que se denomina Grag Queen, drag queen de 26 anos, ao ser questionada pela própria Trixie Mattel sobre onde normalmente se apresentava. "Eu costumava me apresentar para a minha cama", explica, devido à quarentena imposta por estados e municípios brasileiros para deter o avanço da pandemia no país. A jovem de Canela, cidade com 45 mil habitantes no Rio Grande do Sul, não esperava, enquanto postava vídeos na rede social, que logo logo se tornaria um sucesso mundial, sendo a representante do Brasil no reality show "Queen Of The Universe".
A honra é também uma maldição. Grag compartilhou na coletiva realizada na última terça-feira (7), com mediação da maravilhosa Divina Raio-Laser, que ela sentia um misto de "gaguing", com felicidade e pavor sobre representar o Brasil no reality show que reúne drag queens do mundo todo. Ao mesmo tempo em que ficou muito feliz ao saber que entrou para o elenco, a artista ficou com receio por "segurar esse abacaxi".
"Sabia que estamos em um momento horrível e tínhamos que resgatar nosso amor pelo Brasil, nosso amor pelo verde-amarelo", conta. A cantora ainda defende a importância e felicidade de estar usando a arte como arma contra "as coisas que estão nos oprimindo", falando sobre os últimos anos do governo Bolsonaro e ascensão da extrema-direita no Brasil.
Grag também ressalta a grande importância de representar o nosso país para além das referências estéticas e culturais. "Foi muito legal não só mostrar como é ser drag, mas ser drag no Brasil, país que mais mata LGBTs no mundo". Além de destacar a falta de incentivo do país para a arte drag, e a importância de sobreviver como uma pessoa queer. "Queria mostrar para eles que Brasil não é só samba, carnaval e caipirinha", brinca.
E se engana quem acha que as concorrentes do "Queen Of The Universe" viviam em um clima hostil, por conta da competição. Pelo menos essa não era a realidade de Grag. "Não tive treta com quase ninguém", admite. Afinal, a gaúcha não iria sair de Canela para ir para Londres arranjar treta em outro idioma, como ela mesma declara.
E dentre tantas competidoras maravilhosas do programa, a brasileira ressalta uma amizade especial que construiu com a indiana transgênero Rani Ko-He-Nur e com a ex-participante estadunidense de "RuPaul's Drag Race" e "RuPaul's Drag Race: All Stars" Jujubee. Para a brasileira, foi uma experiência e tanto aprender sobre como é ser drag queen na Índia, graças à Rani, e todas as questões enfrentadas pelas outras adversárias em seus países de origem.
Sobre Jujubee, uma das mais amadas competidoras de "RuPaul's Drag Race", Grag revelou que se aproximou muito dela durante a competição, e que sua amiga já sabe várias expressões em português, como "beijinho no ombro" e alguns palavrões. A canelense ainda disse que em breve Jujubee estará no Brasil, e espera se encontrar com a queen logo.
A dona de "Bota Fé" enfrentou muitas dificuldades para conseguir entrar no "Queen Of The Universe". A brasileira conta que a produção do programa não deu nada para as participantes, como perucas, vestidos etc. Para piorar, Grag teve dificuldades em tirar seu passaporte e a vacinação contra a COVID-19 no Brasil mal tinha começado. Mesmo assim, o universo conspirou a seu favor e tudo deu certo para que a artista chegasse com malas e mais malas em Londres, onde aconteceria o reality.
E esse não foi o único problema no seu caminho. Afinal, representar o Brasil na frente de grandes nomes do mundo drag e do cenário musical como as juradas Trixie Mattel, Michele Versage, Vanessa Williams e Leona Lewis não é para qualquer uma. Grag chegou a compartilhar que o motivo de ter andado de um lado para o outro durante sua primeira apresentação no reality foi o seu grande nervosismo. Porém, sua apresentação foi recompensada com grandes elogios das juradas - incluindo Mattel e Versage, suas grandes ídolas.
A queen brasileira ainda brinca que depois de Trixie chamá-la de "vagabunda" (em português mesmo), na sua apresentação, sentiu-se em casa. Levando na esportiva e visando se divertir no programa, a artista assegura que a partir daí, sentiu que realmente tinha potencial para levar o prêmio de 250 mil dólares. "Não importa de onde tu vem, o que tu faz, o que que tu fala, você vai conhecer o Brasil agora!"
Olhando para o passado, Grag se emociona ao pensar o que diria para sua versão mais nova. "Só vai! Não deixa ninguém te dizer o que vão dizer, ninguém dizer que você não vai cantar nunca, que nunca vai ser bonita, que drag é uma perda de tempo... Confia em ti, aproveita o tempo com sua família e seus amigos. Não é legal perder tempo se sentindo um perdedor, porque o topo é nosso". E conclui: "E um dia você vai estar igual um passarinho cantando Amy Winehouse na frente da Michele Versage".
Falando em Amy Winehouse, a canelense explica que escolheu "Rehab" para ser sua primeira música no programa, que tinha como tema "essa sou eu", por ser sua canção de karaokê favorita. A inspiração de Grag na música vem de tempos atrás, quando cantava na igreja. Seu pai, que canta e toca guitarra, também era interessado no universo musical, o que a inspirou ainda mais.
Ela aprendeu a ser mais afinada por meio de tutoriais na internet, e aos 18 anos ingressou em musicais. Com o dinheiro juntado ao longo desse tempo, foi para Nova York estudar inglês e praticar técnica vocal em um conservatório na Broadway. Para Grag, foi essa experiência em teatro musical que a deu resistência e presença de palco para suas apresentações.
E os talentos da queen não param nas performances. A drag gaúcha também começou a compor suas próprias canções durante a pandemia. "A pandemia veio para nos internalizar e encontrar nós mesmos dentro de nós mesmos. Eu estava doida para lançar alguma coisa. Pensei em desistir várias vezes, principalmente na pandemia", revelou.
"E como compositora eu tenho essa necessidade de tocar em mim mesma antes de tocar os outros. Foi quando eu escrevi 'Bota fé'. Todas essas funções de despertadores...para as pessoas olharem para sua vida, que está difícil de viver, mas ganhamos mais um dia. Senti a necessidade de eu falar isso para mim e acabou virando um grande hino para várias pessoas que estavam precisando e eu nem sabia."
Grag admite que o que a levou a entrar no mundo drag foi a influência de RuPaul, que a ensinou sobre ser acessível, e artistas brasileiras como Gloria Groove, Pabllo Vittar e Lia Clark "que mostraram que pode ser além de diversão". "Mas a maior referência foi entender que a drag pode ser a junção de tudo que eu quero fazer", conclui.
Segueum mistério se essas referências brasileiras serão abordadas por meio de músicas nacionais cantadas por Grag no programa. Ainda assim, ela promete: "A gente vai servir entretenimento. Pode ter certeza!".
"Queen Of The Universe" estreia nesta quinta-feira (9) no serviço de streaming Paramount+.