A nova série da Marvel Studios para o Disney+, "Ms. Marvel", estreia nesta quarta-feira (8) no serviço de streaming. A gente já assistiu aos primeiros episódios do seriado e viemos dizer que vale muito a pena. Entregando tudo o que es amantes de séries teen esperavam, a produção traz uma protagonista super carismática, conflitos adolescentes e uma trama bem voltada ao mundo real, fazendo com que a gente se identifique de cara com a personagem principal.
A primeira coisa que você deve saber antes de assistir "Ms. Marvel" é que ela é uma série teen. Diferente de todas as produções da Marvel Studios até aqui, a trama, que conta com Kamala Khan (Iman Vellani) como protagonista, se passa no Ensino Médio e aborda conflitos comuns à adolescência. Uma festa de gente popular; o novo garoto descolado chega à escola; a menina patricinha que humilha as excluídas; a necessidade de se provar para sua família... é tudo bem clichê americano, se não fosse pelo fato de Kamala ser uma super-heroína paquistanesa e mulçumana.
Isso não só traz um novo frescor para o gênero, como para todo o Universo Cinematográfico da Marvel, que tinha necessidade de um título mais jovial, descompromissado e cheio de representatividade, ainda que não soubéssemos o quanto precisávamos dele.
Outro ponto de destaque é o fato dos conflitos, dramas e dilemas dos protagonistas serem muito próximos da realidade. É fácil se identificar com Kamala e seus amigos, porque não são batalhas extraterrestres, nem combate a monstros sobrenaturais ou tampouco armaduras na base dos milhões que definem a história, mas sim a jornada da super-heroína como uma adolescente tentando conciliar todos os seus interesses e responsabilidades. Nesse sentido, é fácil lembrar de algumas séries, como "Eu Nunca", "Love, Victor", "Sex Education" ou até "High School Musical: The Musical: The Series". E isso é um elogio!
Ainda assim, precisamos tocar no elefante na sala: a origem dos poderes de Kamala Khan. Nos quadrinhos, a heroína é uma inumana cujos poderes são despertados a partir da névoa terrígena, como acontece com outres da sua espécie. Devido ao problema da Marvel para lidar com esse grupo - quem lembra da série fracassada desenvolvida pela ABC? -, toda a origem das habilidades sobre-humanas da jovem teve que ser modificada.
Além disso, a própria forma como eles foram adaptados, com o estúdio se utilizando do mesmo CGI genérico para a criação dos efeitos visuais ao invés de manter o tom único da deformidade no corpo de Kamala das HQs, empobrece um pouco a trama. Isso porque toda a questão dos seus poderes não serem tão esteticamente agradáveis - fazendo com que Kamala tenha mãos enormes, por exemplo - é parte integral da história da protagonista, mostrando como ela lida com seu corpo, sua identidade e com ela mesma. Uma falta que nem as melhores piadas e referências conseguem suprir.
Sendo um reflexo do seu tempo e um suco de tudo que a Geração Z pode esperar da Marvel Studios, "Ms. Marvel" acerta em cheio ao falar sobre algo tão delicado quanto o islamismo em um título para jovens. Logo nos primeiros capítulos, é possível sentir uma tensão no ar sobre a questão da Palestina que pode vir a ser tratada de forma mais aprofundada na série futuramente - torcemos para que seja de uma forma didática e completa.
Também é interessante ver como o seriado propõe levar pautas progressistas, como os direitos das mulheres, para dentro desse universo. Dessa forma, ela se apropria de um microcosmo narrativo que reflete toda uma questão política-social muito além de um título feito só para entreter e cumprir agenda no cronograma de lançamentos do estúdio.
Mesmo com possíveis obstáculos, o percurso de Kamala Khan tem tudo para ser de muito sucesso. A heroína é carismática, sabe se relacionar com o público e é um grande reflexo des fãs que acompanharam apaixonades tudo o que o MCU produziu até aqui. Enquanto outros títulos da Fase 4 deram a entender que a Marvel poderia estar se perdendo, os primeiros capítulos de "Ms. Marvel" são a prova de que ela nunca havia se encontrado tão bem.